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Com a promessa de que Killua iria lhe visitar qualquer dia desses em Nova York, Charlotte embarcou no avião às duas da tarde do dia seguinte. Ela estava triste, mas feliz ao mesmo o tempo por finalmente ter se acertado com ele, mesmo que tivesse sido muito tarde.

Se adaptando em sua nova rotina e horas puxadas de treinamento, com seus professores carrascos, o tempo foi se passando sem que ela percebesse.

Já havia passado um ano e ela estava voltando para casa depois de um dia cansativo. No dia seguinte, acordou cedo com um puxão no pé.

— Acorda, donzela.

— Hoje é sábado. Posso dormir até meio dia! — resmungou e se encolheu na cama.

— Hoje nós íamos sair para caminhar, lembra? — Pedro puxou o pé dela novamente debaixo da coberta e começou a fazer cócegas.

— Não me lembro disso — falou séria ao não sentir as cosquinhas nos pés. Felizmente ela era imune a essa tortura.

Um ano antes ela havia procurado um lugar para morar em todos os lugares perto da faculdade, mas infelizmente não tinha mais vaga nas repúblicas e nem um apartamento para alugar com um preço acessível.

A bolsa da faculdade cobria somente um parte dos preços dos apartamentos perto do local. E por isso, Charlotte teve que morar junto com seu amigo, Pedro, e os pais dele.

Eles a receberam como se ela fosse uma filha e adoraram tê-la por perto para fazer Pedro praticar mais no piano pois ele tinha uma preguiça terrível e a carga horária do melhor curso de música do país era puxada demais para um preguiçoso.

— Vamos, Lotte! — Pedro suplicou novamente sendo ignorado com sucesso — Eu vou postar aquela foto então!

— Não! — Charlotte levantou na mesma hora e tentou pegar o celular que estava nas mãos dele — Eu sabia que uma hora ou outra você iria me chantagear!

— Vamos! — Pedro riu vitorioso e andou até a porta.

— Não! — Charlotte deitou-se e cobriu o corpo todo.

— Estou postando.

A foto era de quando ela estava pintando os cabelos em casa, tentando fazer um ombré hair. De acordo com o tutorial do YouTube tinha que desfiar o cabelo no sentido ao contrário em cima da cabeça. Após Charlotte fazer todo o processo e ficar com aquele ninho gingasteco e cheio de papel alumínio, Pedro acabou tirando a fotografia bem na hora que ela o flagrou na porta de seu quarto.

Pedro correu escada abaixo e Charlotte se enrolou no seu cobertor correndo atrás dele, gritando para que ele não postasse sobre ameaça de morte.

Ele correu para o quintal na frente da casa balançando o celular assim que Charlotte apareceu na porta a poucos metros dele.

— Pedro! — Snow berrou para que ele apagasse, mas o rapaz começou a rir da imagem da Charlotte com as tranças folgadas enrolada no cobertor, aproveitando para tirar outra foto dela.

— Só você para me fazer vir aqui fora desse jeito, nesse frio — Ela começou a rir também e se aproximou tentando pegar o celular.

De longe Killua observava a cena após descer do táxi. Ele havia juntando dinheiro todo esse tempo para poder vê-la. E depois de um ano ele havia conseguido o suficiente e aproveitou a época das férias da faculdade para visitá-la.

— Você aceita o troco de balinha? — o motorista perguntou para ele, fechando o porta-malas após tirar a mala de dentro.

— Espera só um minuto por favor — pediu na língua nativa do país.

Ele ficou parado com as mãos dentro do bolso da calça, perto do portão cinza com grandes espaços que permitiam ver o desenrolar da cena.

— Nós iremos caminhar, então? — Pedro insistia enquanto corria pelo jardim tentando se livrar dos toques de Snow.

— Vai chover hoje, olha só as nuvens escuras — apontou para o céu limpo e acabou rindo mais ao ouvir a gargalhada de seu amigo.

Ela correu para alcançá-lo e acabou se chocando contra seu corpo, fazendo com que os dois caíssem no chão.

Killua observava a cena agoniado e sem acreditar que estava realmente acontecendo. Ao perceber que Snow estava com uma camisola ao se desenrolar do edredom, ele sentiu um arrepio estranho passar pelo corpo.

— Vamos para o aeroporto novamente, por favor — pediu com a voz baixa para o motorista que concordou prontamente, voltando a colocar a mala no carro.

Ele ficou mais alguns minutos parado vendo Snow gargalhar pelas cosquinhas que recebia de Pedro. E pela primeira vez no ano se sentiu triste e traído, mesmo sabendo que não podia cobrar isso dela.

Eles não tinham absolutamente nada e ele já havia perdido a chance de ter. Desolado acabou partindo para casa sem ao menos falar com ela.

— Você até engordou, olha isso aqui — Ele apertou uma gordurinha da barriga dela que quase não aparecia. — Tá... Na verdade você tá muito magra, mas vou continuar fazendo cócegas até você falar que nós vamos.

— Não, por favor — pediu sem fôlego.

Ela tentou fugir inutilmente porque o corpo dele estava sobre o seu.

— Para, por favor - suplicou rindo e batendo de leve nas mãos do garoto — Por favor Kil...

Charlotte se calou ao perceber o que iria falar. Imediatamente Pedro parou o que estava fazendo e a encarou. Os dois ficaram se encarando por um tempo, ele com um expressão confusa e ela com uma cara de culpa.

— O que você disse? — perguntou de afastando.

Snow se sentou e cobriu o corpo com o cobertor.

— O que você ia falar, Charlotte? — Pedro insistiu.

— Eu? — Ela se fez de sonsa enquanto passava os dedos pela grama ao seu — Eu ia falar querido, mas acabei enrolando a língua e ia sair "quilrido".

Torceu para que a desculpa esfarrapada o convencesse, mas isso não aconteceu.

— Mentira! — Pedro falou se irritando — Você ia falar Kilder, eu tenho certeza.

— O que? — Charlotte se segurou para não rir ao perceber que ele estava falando sério — Eu juro que não ia falar isso.

Ele levantou com raiva e ficou de pé na frente dela.

— Claro que ia! — bufou e continuou — Moana me falou que você era apaixonada por um tal de Kil. Deve ser esse Kilder aí.

Snow segurou as risadas mordendo os lábios com força.

— Porra, Charlotte — estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, depois continuou — Você sabe que eu gosto de você faz anos e nunca me deu uma chance.

Snow observava o rosto sério dele sem saber o que fazer. Apertou o edredom contra seu corpo e tentou formular um pedido de desculpa sincero.

— Não precisa falar nada, eu entendo — Ele a cortou antes que ela mentisse novamente — Você ainda é apaixonada por esse Kilder, não é?

Ela deu de ombros sem saber o que responder. Pedro começou a caminhar para o portão e o abriu.

— Tudo bem, mas saiba que eu sempre estarei aqui para você, ok? — Ele trancou o portão e se encostou nas barras de ferro — Eu gosto tanto de você que não consigo ficar com raiva. Que inferno!

Ele saiu balançado a cabeça para os lados como se estivesse discordando e foi caminhar sozinho, a deixando pensativa na entrada de casa.

Enquanto isso Killua já estava dentro de outro avião voltando para casa. Ele estava triste, mas ao mesmo tempo estava conformado por saber que ela estava feliz. Mesmo não sendo ele o motivo de tal felicidade.

°°
Pow Charlotte. O que custava ter olhado pro portão? Tadinho do meu filho :(

Sr. IdiotaOnde histórias criam vida. Descubra agora