Capítulo 5

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Ainda está escuro. Nada de luz, nada de segurança. Os passos já foram silenciados, meus gritos também, e a minha respiração pesada é o único som a ser ouvido. Meu corpo dói, minha cabeça lateja. Tento me levantar do chão imundo, apoiando nele minhas mãos.

Elas ardem, e deslizam um pouco. Minha visão vai lentamente se acostumando com a falta de claridade do ambiente. Estou tonta, o porão gira, e a realidade toca minha mente. Não estou em casa. Estou numa cabana abandonada, a quilômetros de distância de meu quarto.

Saco meu celular do bolso, ignorando a ardência. Sua tela rachou com a queda. 11:13 PM. Já passou mais de uma hora e meia desde a última vez que chequei meu celular, que foi quando chegamos à clareira. Não há nenhuma barrinha de sinal.

O salto de meu sapato não se encontra mais em sua sola. Perdeu-se em meu desespero. Balanço meu tornozelo direito para verificar sua integridade. Ainda consigo movimentá-lo, portanto, felizmente não o torci. Mamãe era enfermeira, e me ensinou muitas coisas a respeito do corpo humano.

O cômodo não é maior que o meu legítimo quarto. Alguns objetos que desconheço projetam sombras que me assustam. As paredes são todas feitas de madeira. Caso algum dia elas tenham sido pintadas, não há resquício nenhum de tinta. Há também uma pilastra, que não faço ideia de qual seja seu material, erguida no centro do quarto. O chão se contorce com as minhas tonturas. .

Sento-me, encostada na parede. Não sei o que posso fazer. Sentar e esperar até que alguém sinta a minha falta parece ser a única alternativa. Meu corpo se ajeita em posição fetal. Está frio, e o meu casaco está rasgado. Sinto saudades dela. Queria pelo menos ter sinal para poder ligar para seu celular como faço há anos, para ouvir sua voz anunciando a caixa de mensagens e fingir que está tudo bem. Mas, claramente, não há como as coisas estarem pior do que agora.

O som do silêncio é perturbador. Eu não acredito que isso aconteceu. Louis não seria capaz de fazer isso comigo. Tenho certeza de que ele está me esperando do lado de fora da cabana neste exato momento, só não sabe da queda. Agora que minha respiração se normalizou, o odor forte de sangue permanece.

Ele sabe que não sou a pessoa mais confiante do mundo. Sempre preciso de alguém. Preciso de amor. Preciso dele no meu lado todo o tempo, e sou capaz de segui-lo para onde for, como fiz hoje. Preciso de segurança, acima de tudo. A solidão do quarto machuca. Já faz bastante tempo desde a última vez que fiquei sozinha por tanto tempo. Não foi por um bom motivo, não me fez bem.

Estou com fome. Minha barriga ronca, inquieta, o que faz com que o arrependimento de estar fazendo uma dieta seja imediato. Devia ter comido pelo menos alguma fruta, algo bem menos calórico. Também estou com sono.

Quero chorar. Escondo minha cabeça entre meus joelhos, como se fosse um bebê. Não queria estar aqui. Era melhor ter ficado em casa com Lygia, a babá de meu irmão. Iríamos fazer biscoitinhos caseiros amanteigados para Joey comer quando chegasse em casa depois do dia cheio da escola, e depois ela me contaria suas histórias com o namorado. Eu não devia ter vindo. Eu não deveria mesmo ter vindo.

— Concordo, Scarlet.

Uma voz, masculina e rouca, irrompe o silêncio. Ergo minha cabeça na direção do som. Eu estou enlouquecendo, ficando completamente insana quando vejo um homem apoiado em uma das paredes, me observando. Minha reação imediata é recuar, mas a parede impede mais distanciamento.

— Você realmente não deveria ter vindo.



Prisão |H.S.|Onde histórias criam vida. Descubra agora