— E quem disse que Louis não me ama?
Engulo em seco. Essa é a hora que ele disse que ia chegar?
Sua ausência de palavras apenas confirma, e tenho medo do veneno que possa vazar de seus lábios. Desço o último degrau da escada na intenção de me afastar e adiar a conversa, mas uma dor em meu braço direito me atinge. Desta vez a dor é grande. Sangra, até.
Meu braço se arrastou na ponta de alguma coisa dura demais, e pequena também. Busco a causa da dor, e encontro um prego na direção que me atingiu, e o pior é que é um prego enferrujado. Harry captura meu braço e admira o ferimento, negando com a cabeça como se estivesse repreendendo uma criança levada. Quando ele segura firmemente o tecido do meu casaco já destruído e o rasga em uma tira, não consigo evitar minha expressão de espanto com sua brutalidade. Em seguida, Harry é contraditório em suas ações, já que agora enfaixa carinhosamente o local que sangra.
— Um oportuno momento para você ter se machucado. — diz, enquanto verifica a qualidade do seu torniquete improvisado. Não sei como um machucado pode ter um momento oportuno para surgir. — Seu namorado conhece esse tom de vermelho muito bem, não?
Mais uma vez nesta longa noite, franzo minhas sobrancelhas em confusão.
— E por que ele conheceria muito bem a cor do meu sangue?
— Ora, mas ele não o vê toda vez que te dá um soco e faz o seu nariz sangrar com um chafariz?
Afasto-me, surpresa com a sua atitude de tocar nesse assunto. Isso só aconteceu uma vez, e nunca mais vai acontecer. Ele me prometeu.
— Só uma vez ao mês, você quis dizer... Namorar a filha do xerife enquanto se enche da famosa cannabis foi muito inteligente da parte dele.
— De qualquer jeito, agora está tudo bem. Já passamos dessa fase... — Minha voz trava, gaguejo, mas ignoro totalmente o que ele disse a respeito das violências.
Pode ser um relacionamento abusivo, mas é o meu relacionamento. E ele é bom para mim.
— E te trancar num ambiente escuro e isolado não pode ser tido como violência, Scarlet?
Suas palavras me acertam, e dói mais uma vez. Quando abro a boca para responder, algo é mais rápido que a minha pessoa. O som das notificações do meu celular explode, e não penso duas vezes em ir em direção ao som. Pulo do degrau, e em pouco tempo me encontro de joelhos, com a mão dentro de minha bolsa, procurando o aparelho.
Como pode ter surgido sinal aqui do nada? Milagre? Deus resolveu atender a um dos meus milhões de pedidos?
— Não, querida. — Harry parece ler meus pensamentos. Não gosto disso, nem um pouco. — É só o satélite da sua operadora mesmo.
— E-eu sei disso, não foi isso o que eu quis dizer...
— Tudo bem, não é como se você soubesse alguma coisa de física — alfineta e continua a cravar o alfinete. — E nem de nenhuma outra matéria também.
— Eu não sou burra como você está fazendo parecer! — me defendo. — Posso não saber muito de física, mas não estou tão ruim nas outras matérias, Harry.
— Não é o que suas notas dizem — afirma. — Seria até uma surpresa para mim caso você fosse aprovada nesse ano letivo.
Tudo bem, é verdade. Meu rendimento diminuiu consideravelmente em comparação ao ano passado. Os professores, que antes me davam amáveis sorrisos, agora me olham decepcionados quando nos encontramos pelos corredores. Não sei se vou avançar mais academicamente, e não sei como vou contar isso ao meu pai. Já escondo minhas notas dele há um tempo. Louis e o resto dos populares vão ficar sabendo disso de um jeito ou de outro, mas talvez reprovar seja bom. Vou me livrar da imagem de menina certinha, filha do xerife. O corte em meu braço insiste em arder.
— Qual é o resultado de uma reação química entre um ácido e uma base?
Hesito antes de responder. Tento fingir que tal hesitação é apenas eu forçando a minha memória a recordar de algo que não faço a mínima ideia do que seja.
Minha professora de química, que antes era a minha professora favorita e me dava carona até a minha casa, agora costuma fazer reclamações de mim para a diretora de que não vou para a aula dela mesmo estando na escola. Diz que já me encontrou nas escadas, na biblioteca, e no jardim. Sou sincera, e digo que não sei. É nessas horas em que me arrependo de matar as aulas de química.
— Você pelo menos sabe o que é energia cinética, Scarlet?
Também não sou frequentadora assídua das aulas de física. Talvez eu reprove por ser uma aluna faltosa.
— Energia produzida pelo som? — chuto, e provavelmente erro feio.
Ele suspira em decepção e eu minhas bochechas ardem. Agradeço pelo ambiente ainda se manter sob a escuridão quase total, para que minha possível coloração avermelhada permaneça invisível.
— Você pelo menos sabe ler? — pergunta, com desprezo bem claro em sua voz.
Dessa vez, fico ofendida, e isso é inevitável. Olho para sua mão, as cartas atraindo minha visão.
Seu carinho por elas fica claro, já que não as largou nem por um minuto e ainda manteve-as muito bem guardadas por tanto tempo.
Não penso duas vezes em puxá-las de sua mão, e como ela não estava preparada para um ataque, não há resistência.
Como uma criança, me afasto dele o mais rápido que posso, e em direção à luz da lua vou. Posso ler algumas palavras soltas como "Harold", "querido" e "casamento", mas me dirijo ao que interessa: o remetente.
— O nome dela era Safira, não? — provoco. E perguntas pipocam em minha cabeça quando posso ver do que as cartas se tratam. — Mas você não era preso aqui? Como é que ela te mandava castas? E como é que vocês se conheceram?!
— Você não vai ver seu celular?
Depois de quase um ano, vocês acreditam que eu voltei? Pois é, cá estou. Isso se ainda estiver alguém aqui para ler. Comenta "abobrinha" pra eu saber que você não desistiu de mim, por favor. E agora vou terminar de postar essa história de qualquer jeito. VOU POSTAR CAPÍTULO PRA VOCÊS SIM, NÃO QUERO SABER!
Voltei, e voltei com tudo, senhores.
gabs
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Prisão |H.S.|
Fanfiction⠀⠀⠀Toda cidade interiorana possui sua lenda, que serve tanto para assustar inocentes crianças quanto para movimentar o turismo local. Após ser presa em uma casa abandonada por seu namorado, Scarlet tem que enfrentar Harry Styles, a lenda d...