Capítulo 12

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Ligo novamente. E estou decidida a continuar discando o número até obter uma resposta. Ninguém atende, somente o sinal da maldita caixa postal ecoa pelo ambiente.

Não. Ele não faz isso. Não é possível. Mas algo que também julguei ser impossível nessa noite mesmo.

Só consigo discar seu número de maneira tão robótica quanto a voz que me atende. Mas, claramente, não há como as coisas estarem pior do que agora.

Eu estou presa na merda de um lugar em que não conheço nada, nem sei ao certo em qual distrito estamos. Por um milagre, meu celular voltou a receber sinal, e quando acho que finalmente serei acalentada, um balde de água fria é derramado sobre minha cabeça. Se ele não estiver me atendendo, e consequentemente me mantendo presa aqui por mais algumas horas, e talvez dias, por causa de uma transa desgraçada, não faço ideia de como vou me sentir em relação a isso.

Talvez, decepcionada por ele não ter comparecido à feira de ciências. Talvez, frustrada por não estar sendo atendida. Mas, com certeza, surpresa pela quebra da promessa.

Mamãe não merecia isso. Não mesmo.

Ligo mais uma vez. Papai não é capaz de fazer isso com minha mãe, e muito menos conosco. Harry se aproxima de mim.

Não é sobre não o deixar seguir a vida dele e ter relações com outras mulheres, mas ele fez uma promessa. Na verdade, isso nem deveria ser chamado de promessa, é uma obrigação paterna sustentada por algumas palavras despejadas no leito de morte dela.

Ela sempre lutou por coisas melhores para a nossa família. Nora sempre se preocupou conosco.

Na segunda ligação de insistência, o rapaz se abaixa, ficando agachado também. Agora seus olhos estão perfeitamente em meu nível.

A senhora Jensen sempre quis que fôssemos felizes, juntos, como uma família deve ser.

Na terceira, meus olhos marejam de frustração, e apoio meus joelhos no chão. Isso tudo é realmente necessário? Será que não somos bons filhos para ele? Uma transa é realmente mais importante?

E eu só queria que ela estivesse aqui. Seu abraço faria com que eu me sentisse amada, e esquecesse toda essa situação. Sua voz, dizendo que me ama mais do que tudo, rapidamente me faria adormecer como um anjo. Seu carinho, seu cheiro, sinto muita falta de ambos. Suas advertências também. Tudo.

Mas, no momento, só tenho Harry disponível. Ele põe-se a acariciar meus cabelos, enquanto a ligação se perde na chamada, que decido ser a última. Já estou insistindo há cinco anos, desde quando a pessoa que mais amava neste mundo morreu.

— Minha mãe também se foi — ele puxa assunto. Sério?

Meu sangue se esquenta. Ele realmente leva a sério tal informação? Harry só pode estar debochando da minha situação.

— Faça-me o favor, você que a matou! — levanto a voz e afasto seu toque de forma violenta.

Encaro-o incrédula. Ele não merece se lamentar pela morte de seu pai e nem de sua mãe. Se Harry não tivesse feito tudo o que fez, eles ainda estariam vivos. Tudo bem, vivos não, mas sua vida teria sido longa.

— E você acha que não doeu em mim? E você acha que eu não sofri quando a matei?! — se ergue diante de minha pessoa.

— Foi você que provocou isso tudo! Você não tem nenhum direito de reclamar! — vocifero. Imito seus movimentos. Devido à adrenalina que agora percorre meus vasos sanguíneos, me levanto também.

— Pelo menos, eu não finjo que não tenho culpa de nada!

— O que você que quer dizer com isso?

Prisão |H.S.|Onde histórias criam vida. Descubra agora