Entretanto, no tempo que se leva para levar o oxigênio para os seus próprios pulmões, minha coragem desaparece, junto com a luz captada por meus olhos. O cheiro de sangue está mais forte aqui, e expiro o mais rápido possível todo o ar contaminado que havia inspirado.
Ouço a respiração de meu namorado atrás de mim, e isso desarma meu instinto de sobrevivência. Ele está aqui, então, está tudo bem. Também posso ouvir claramente o meu sangue correndo pelas minhas veias. Mas não existem riscos.
— Eu disse que não sou medrosa.
Louis reluta um pouco em suas palavras, deixando uma lacuna no ar. Um momento de tensão absoluta se forma, sem algum motivo aparente. Cada músculo de meu corpo se retesa, e detenho minha respiração sem nem mesmo notar.
— E eu disse que é isso o que vamos ver.
Algo metálico bate contra o chão em minha frente. A luz da lanterna segue rolando uma escada. Um minuto, um segundo ou uma eternidade se passou. Banheiros não possuem escadas. Porões escuros sim...
Um estrondo é captado na minha direção sul. Viro-me para a sua direção, mas dou de cara com a porta fechada.
Não. Não é possível.
Aquelas coisas nas extremidades não eram suportes. Era uma tranca, daquelas em que se encaixa um pedaço de madeira. E retângulos de madeira é o que não falta nessa casa.
— Louis, abra essa porta! — digo, calmamente ainda. Tudo bem. Deve ser só uma brincadeira. Só mais uma prova de que não sou medrosa, eu aguento.
— Há, há. Isso é muito engraçado mesmo, hein. Abre logo essa porta. — Bato a base de minha mão na porta. — Já entrei aqui, não era isso o que você queria?
Nenhuma resposta. Passos na madeira ruidosa são ouvidos, e eles parecem cada vez mais distantes. Meu coração começa a se acelerar. E se não for uma brincadeira?
— Não! Volta aqui! Onde é que você está indo?! — Minha voz se eleva. Não é possível! Ele não pode me deixar aqui sozinha!
Minhas mãos começam a esmurrar a madeira em minha frente, na esperança de que ele note que a brincadeira já passou dos limites. A madeira não está tão podre assim, visto que aguentando firmemente minhas batidas desesperadas.
— Você tem que agradecer por eu ainda ter deixado a lanterna com você, princesa. Tenha uma ótima noite, Scarlet. — ele diz, em tom debochado.
Ele realmente está me deixando aqui?
Calafrios irrompem abaixo de minha pele, sendo como um balde de água fria Isso não é uma brincadeira qualquer como prender a irmã no armário do quarto dela. Aqui é uma casa abandonada, que pode cair em cima de mim a qualquer momento, além que se encontra no meio de um matagal ao qual não faço ideia de como escapar. Tudo isso deixando de fora o fato de que podem ter animais venenosos rondando estes corredores.
Se ele me largar aqui, talvez não consiga acordar viva amanhã.
Esse pensamento me desespera, e se antes eu estava a esmurrar a maldita porta, agora deposito todo o meu medo nela, socando-a com os punhos fechados.
Tento correr na direção dos passos, para que ele possa ouvir minhas súplicas, meus gritos ou o meu desespero puro. Minha respiração entrecortada atrapalha meus gritos, e acabo engasgando. Minha voz vai se perdendo entre as tosses. Meu casaco, que antes era dele, prende em um prego qualquer, e ouço as fibras dele se separando. Minha pele choca-se com o ar gelado que ronda a atmosfera. Tento apoiar minhas mãos na parede enquanto corro na direção do som, deslizando-as por ela, tentando não silenciar minha voz. Farpas de madeira adentram a palma de minhas mãos, dói. Meu último passo é em falso, o que me faz tropeçar. Meu tornozelo direito se curva e sinto o impacto de meu corpo contra os degraus da escada, minha cabeça sente primeiro a queda.
Além de dominar todo o cômodo, agora a escuridão também domina minha mente.

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Prisão |H.S.|
Fanfiction⠀⠀⠀Toda cidade interiorana possui sua lenda, que serve tanto para assustar inocentes crianças quanto para movimentar o turismo local. Após ser presa em uma casa abandonada por seu namorado, Scarlet tem que enfrentar Harry Styles, a lenda d...