O despertar

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Katsuki 


Eu acordei.

Sentindo todos os meus ossos estranhos e meus músculos moles, pisquei os olhos. Abrir a boca pareceu um esforço descomunal, esticando toda minha face em uma careta.

Minha garganta estava seca. Muito, muito seca.

Examinei o quarto em que eu me encontrava. Onde eu estava? As cortinas eram verdes, as paredes eram verdes, tudo parecia ser estranhamente verde. Será que era o céu? O pensamento quase me fez rir; alguém como eu jamais iria para o céu, isso se eu acreditasse nele.

Um suspiro trêmulo e rouco deixou minha boca. Eu estava com tanta sede.

De repente a porta do quarto se abriu, revelando uma enfermeira bonitinha com cabelos escuros e rosto surpreso acompanhada de dois homens altos. Deviam ser médicos, mas eu não conseguia ler seus crachás.

-O milagre finalmente acordou - um deles disse maravilhado, olhando para mim. - Como se sente?

Pisquei sem entender. Quem diabos era aquele cara?

-Sabe que dia é hoje? - a enfermeira perguntou de forma paciente.

Eles me olhavam como se eu fosse algum tipo de aberração ou algo fora do comum.

-Ah... Acho que... Vinte de agosto... de... Dois mil e quinze? - murmurei confuso. Essa era a única data que vinha em minha mente, por algum motivo.

-Bom, na verdade hoje é vinte e oito de setembro... de dois mil e dezoito - o médico que ainda não havia dito nada pronunciou.

Pisquei de novo. Que inferno eles estavam tentando me dizer?

-O que...? -murmurei sem expressão nenhuma. Que tipo de baboseira era aquela? - Vocês... Eu... O que?

-Katsuki Bakugo - a enfermeira leu em sua prancheta. - Vinte e um anos, um metro e oitenta e dois centímetros...

-E-ei, eu não tenho vinte e um.. - tentei corrigir assustado.

-... Desacordado desde a madrugada do dia vinte de agosto de dois mil e quinze após sofrer fraturas múltiplas, traumatismo craniano, perfuração de um dos pulmões e hemorragia interna...

Meus olhos saltaram por um instante. Aquilo tudo vinha de mim?! Não era possível. Eu me sentia... Normal.

-Você se lembra de alguma coisa? - a enfermeira perguntou atenciosa.

Os médicos se entreolharam curiosos, murmurando uma coisa ou outra.

Um longo silêncio se seguiu.

Eu me lembrava vagamente de um carro preto bonito e do cheiro de couro. Enquanto eu tentava pensar, a lembrança de uma festa de aniversário vinha em minha mente, mas muito fraca, como se já houvesse sido esquecida há muito.

-Me lembro de um carro preto - eu disse por fim. - Talvez de um aniversario, mas não sei de quem.

-Você lembra de mais alguma coisa? Qual a lembra mais recente que você tem?

Parei para pensar. Parecia haver apenas um enorme buraco em minha mente, um vazio reservado para nada.

Mas, forçando-me mais um pouco, eu me lembrava de estar ansioso para ver alguém. Alguém que eu queria muito ver...

-E-eu não tenho vinte e um - expliquei lembrando-me de repente da festa. É claro, a festa era minha! - Tenho dezessete. Sim, eu fiz dezessete há pouco tempo... E eu acho que tinha algo para fazer... Alguém para ver.

A Teoria Do Esquecimento | BAKUDEKU Onde histórias criam vida. Descubra agora