Não consigo tirar meus olhos de você

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/ Izuku

O pequeno corte em meu dedo não chamava minha atenção como deveria. 

Enquanto eu catava os cacos de vidro no chão, chorando ao deixar cair um copo qualquer, pensava estar catando os restos do meu coração também.

Eu estaria embarcando de volta para minha cidade natal em menos de três horas e ainda estava em casa, chorando porque havia acabado com tudo. 

Como algo tão simples se tornou tão doloroso?

Acompanhei Denki até o aeroporto, dois dias depois de nosso "termino" de algo que jamais começou de fato. Mesmo depois de um ano juntos nós nunca tomamos um passo a frente, e agora estávamos tomando dois passos para trás enquanto eu voltava para o outro lado do oceano e ele viajava mais e mais longe, para se tornar a pessoa incrível que ele deveria ser.

Por mais que eu estivesse feliz por ele, parte de mim sabia que eu o havia magoado e era essa a parte que me machucava mais. Eu era tão egoísta, mantendo-me concentrado apenas nas minhas dores e pedindo que ele estivesse ali comigo; sentia raiva de mim mesmo.

"- Izuku... Eu realmente preciso que você seja sincero comigo... Você ainda ama o Bakugo, não é?"

Mais algumas lágrimas rolaram por meu rosto enquanto eu relembrava aquela conversa difícil.

Eu estava tentando dizer que não, ou que pelo menos amava-o o suficiente para superar Bakugo, mas era mentira. Eu jamais iria supera-lo, jamais iria conseguir deixar outra pessoa ser o que ele foi - mesmo que essa pessoa fosse Denki. Eu não disse nada disso, mas, Denki entendeu mesmo assim.

Ele cruzou o espaço entre nós dois e me abraçou com cuidado enquanto eu pedia desculpas e começava a soluçar, desesperado enquanto tentava manter-me calmo para dizer para ele que nós podíamos fazer aquilo.

"Nós não podemos continuar assim" , ele disse sério, sem raiva ou frustração. Ele só dizia com sua voz cheia de calor, abraçando-me como sempre. "Não é certo, flor do dia. Nem para você, nem pra mim. Você não é meu."

Passei as mãos pelos cabelos sentindo-me preso em minhas lembranças. De vez em quando eu torcia para que eu mesmo me esquecesse de tudo.

"Lembra de uma vez, quando começamos a sair juntos, que você me disse sobre uma teoria do esquecimento? Você me disse que sempre restam rastros do que foi esquecido... Mas eu acredito muito que todo mundo quer esquecer algo ou alguém pelo resto da vida. E se você está tentando esquecer um amor de verdade, não deveria. É impossível."

Depois daquilo nós nos separamos.

Não havia nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Nenhum outro adeus além do que dissemos um ao outro. "Feliz Natal", nós dissemos. "Aproveite a viagem!".

As batidas na porta me deixaram alerta. Era Mirio com suas malas de viagem enorme, é claro. Deixando os cacos de vidro em cima da pia, fui até a porta atender. Ele desviou o olhar do celular e fez uma careta, visivelmente preocupado. 

- Você está péssimo! - ele reclamou, entrando e deixando as malas na porta do apartamento. - Deus, Tamaki vai ter um infarto se você aparecer assim, Zuku!

- Desculpe - suspirei. - Eu não dormi muito bem. Essa viagem e tudo... Está me dando nos nervos. 

- Ei, está tudo bem - ele disse calmo, segurando minha mão e limpando o corte pequeno do dedo com um pano de prato na cozinha. - Podemos cancelar se quiser. Tamaki vai entender. 

- Não! - eu disse imediatamente. - Ele vai é tentar matar nós dois. Nós vamos, sim. Está tudo bem. 

- Tem certeza disso?

A Teoria Do Esquecimento | BAKUDEKU Onde histórias criam vida. Descubra agora