Capítulo 1

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Kayla


Não sei se é porque morei muitos anos em Nova York com a minha mãe, com todo o tumulto, todo o barulho ou porque simplesmente não sou uma pessoa pra morar em cidades pequenas, mas nunca me acostumei com a vida em Asheville.

Não consigo imaginar coisa pior do que ser uma adolescente em uma cidade como essa. Não se pode cometer nem um erro, nem uma decisão errada, nem falar nada que te comprometa, porque as pessoas iriam saber e você ficaria marcada para sempre como "aquela pessoa que fez tal coisa". Simplesmente nunca me acostumei com isso e sentia raiva quando acontecia. Às vezes tinha vontade de ficar louca e sair fazendo merda atrás de merda, apenas para dar uma assustada nesse povo esquisito daqui.

Felizmente, meus dias nessa cidade acabaram. Estou terminando de arrumar todas as minhas coisas para ir pro aeroporto e seguir meu sonho, estudar na UCLA. Uma vida nova espera por mim. Sem preconceitos, sem ninguém que me conheça e ninguém que conheça minha família. Como uma folha em branco.

Nunca fiquei tão animada com algo, era como se eu pudesse ser quem eu quisesse, ou algo muito melhor: eu mesma. Seria impossível conversar sobre culturas diferentes, religião, amor, viagens e outras loucuras com alguém da minha cidade, mas em Los Angeles, tudo seria diferente.

Desde que me entendo por gente sonho em viajar pelo mundo, falar vários idiomas, seguir carreira em Relações Internacionais e me tornar a famosa "mulherão da porra" - aquela que não depende de ninguém, que se sente bem na sua própria pele e que vai atrás de tudo que quer e não para até conseguir - meu primeiro passo para isso seria a faculdade.

"Filha, você vai se atrasar!! Você sabe que tem que estar pelo menos duas horas antes do voo no aeroporto.", escuto minha mãe gritando do andar de baixo. Ela havia chegado de Nova York há uma semana para me ajudar com toda a mudança.

"Eu sei! Já estou quase pronta.", digo fechando a última mala que tinha todos os meus bebês dentro. Sim, meus sapatos são meus bebês, e não tenho vergonha de admitir.

Coloquei todas as malas no corredor e fui tomar um banho para depois me vestir.

Resolvi colocar um short jeans clarinho rasgado, uma regata branca com alguns detalhes em marrom e uma bota de cano curto também marrom.

Fiz uma maquiagem leve por causa do calor que estava fazendo e imaginando que só iria piorar quando chegasse em LA em pleno agosto.

"Até que enfim!", disse minha mãe quando cheguei com as malas perto do carro onde ela já me esperava.

"Pronto dona Stella, pode se acalmar agora.", digo dando risada de seu nervosismo.

"Eu nem acredito que estamos aqui, você finalmente indo pra faculdade! Parece que foi ontem quando você nasceu, como vai viver sozinha agora?", ela começa dizer com os olhos marejados enquanto colocamos as malas no carro.

"Ai mãe, não começa. Eu não estou indo pra China não, a senhora sabe muito bem que eu não vou estar sozinha. Kate vai comigo e nós vamos morar juntas no dormitório, como combinado.", falo pelo que parece ser a milésima vez nos últimos dias.

"Eu sei, mas mesmo assim, uma coisa é você morar comigo ou com seu pai, outra é com amigos. Não que seu pai seja um exemplo de boa pessoa, mas você entendeu.", ela diz.

"Podemos não falar mais dele? Prefiro não acabar com meu dia quando ele está só começando, obrigada.", digo seca.

"Tá bom, tá bom, não está mais aqui quem falou. Pronta?", diz ela colocando o cinto assim que entramos no carro.

FireStorm (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora