4 - Tudo para dar errado

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Assim que entramos no apartamento dele eu comecei a me arrepender de ter aceitado ao convite

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Assim que entramos no apartamento dele eu comecei a me arrepender de ter aceitado ao convite. O lugar era idêntico ao meu apesar de seus móveis serem diferentes, um sofá de couro preto estava à frente de uma grande TV de plasma, uma pequena estante com uns livros, nenhum quadro na parede branca.
Roland passou por mim tranquilamente e foi rumo ao balcão que separava a sala da cozinha.
— Você bebe vinho?
— Ah... Claro. Concordo ainda de pé perto da porta.
— Vou pegar para nós, fique à vontade, daqui a pouco nosso jantar esta pronto.
— Você quem está cozinhando?
— Uhum. Ele pisca para mim e eu começo a andar para seu sofá para evitar que ele veja que está me afetando.
Paro perto da pequena estante ao lado da TV e encaro um porta retrato de dois soldados no meio de um deserto, ambos sujos de areia mas ainda sorriam para a câmera. Eu arregalo os olhos quando percebo que um deles é Spin.
— Aqui está. Ele diz bem perto de mim me estendendo uma taça de vinho.
— Você é do exército? Pergunto curiosa.
Roland olha para a foto que eu estava ainda encarando.  — Fui fuzileiro. Mas não sou mais. Ele suspira.
— Porque não?
Spin me encara uns segundos e toma algumas respirações antes de voltar a falar. — Falhei em uma missão. Esse cara da foto era o meu melhor amigo, por minha causa ele está morto agora.
— Você o matou? Digo perplexa.
— Não perceber que entrar naquela casa abandonada no meio do deserto de Bagdá era uma cilada me faz o culpado.
— Então você não o matou... Sussurro voltando a encarar a foto. — Isso acontece, afinal vocês estavam na guerra.
— Eu não penso assim. Roland disse como se estivesse irritado. Estende a sua mão e abaixa o porta retrato deitando a foto.
— Desculpe, eu não quis ser intrometida. Tento aliviar o clima reparando que ele estava desconfortável.
— Vem, vamos nos sentar. Ele segura meu braço e me arrasta para perto do balcão onde tem uma enorme pizza de queijo.
— Wow, você faz sua própria pizza? — As vezes sim. Sorri e ajeita os fios longos do meio da sua cabeça que teimavam em cair na sua testa.
— Sente-se, vou servi-la. Aponta uma banqueta alta e eu me sento sentindo um arrepio cobrir meu corpo. Spin estava muito próximo de mim, e a cada movimento ele fazia questão de sequer que seja um dedo tocasse em mim.
— Obrigada por me convidar, eu estava pensando ainda o que pediria para jantar.
— Você não gosta de cozinhar? Pergunta me servindo um pedaço e um para ele no prato que estava ao lado do meu. Eu preferia que ele se sentasse de frente.
— Até que sim... Mas ainda não fui fazer compras.
— Tem um mercado ótimo na próxima quadra. Ele comenta como se fôssemos velhos conhecidos.
— Certo. Concordo encarando o pedaço de pizza a minha frente.
— Vamos lá, Tessa, você tem que comer para julgar meus dotes culinários. Sua voz sai baixa e brincalhona. Meus olhos sobem do prato para ele que está sentado ao meu lado, em seu peito tatuado repousava o informativo com nome e tipo sanguíneo, o pequeno colar de prata reluzia e agora fazia sentido já que todo soldado carregava aquilo.
— Então vamos lá. Respondo cortando um pequeno pedaço e levando a boca. Spin estava me olhando atentamente esperando minha reação.
Fecho meus olhos uns segundos e vejo suas sobrancelhas arquearem em expectativa.
— Caramba, isso realmente ficou bom. Murmuro depois de engolir e agarrar minha taça para um gole de vinho.
O sorriso que ele me deu fez com que meu estômago revirasse como estava a minutos atrás quando ele me buscou em casa.
— Ander disse que você é brasileira.
— Sim. É tudo que falo.
— E que veio fazer curso de fotografia.
— Parece que Ander passou a minha ficha. Dou uma risadinha e vejo ele ficar vermelho. Roland era capaz de ficar envergonhado?
— Aquele cara pode ser um fofoqueiro.
— Eu acho que sim. Dou uma risada e ele me acompanha.
— Então... Remexo no banco. — A garçonete é a sua namorada?
— Rule?
— Eu não sei o nome dela. Minto. É claro que eu sabia o nome daquela vadia loira.
— Bom, não... Isso vai ser grosseiro, mas foi um favor ela ter te destratado no bar, ela já estava entendendo errado as coisas.
— Então você a demitiu mesmo?
— Eu te disse mais cedo. Deu de ombros. — Não quero pessoas daquele tipo no meu bar.
— Do tipo que transa com o chefe?
— Que maltrata os clientes... E sim, que transa com o chefe. Spin bebe um grande gole do seu vinho e volta a abastecer nossas taças.
— Entendi.
— E você?
— Eu o que? Arregalo os olhos.
— Mais um? Me oferece mais um pedaço e eu aceito. Ele serve mais um pedaço para mim e para ele. — Não tem namorado? Deixou alguém no Brasil?
— Não era meu namorado.
— Mas deixou alguém então?
— Também não. Mastigo pensando em João Pedro. Ele era passado e era impossível. O cara era muitos anos mais velho e não queria nada sério.
— Então devo deduzir que você ia passar o seu número para meu funcionário ontem.
— Hache?
— Sim... Estou falando de Hugo.
— Não necessariamente.
— Não? Ele se vira para mim de modo que seus joelhos esbarrassem em minhas pernas.
— Não acho sensato me envolver com pessoas que terei contato frequente por aqui.
— Como assim?
— Seu bar, eu vou frequenta-lo. Se eu saísse com Hache e não desse certo dicaria uma situação desconfortável.
— Entendi. Ele bebe mais um gole de vinho e de repente eu perco o apetite. Viro a taça toda de vinho sentindo meu rosto queimar sobre o olhar especulativo dele.
— O que? Perguntei depois de quase minutos em silêncio
— Eu estava só pensando... Se você pensa assim, está descartado qualquer envolvimento comigo também certo?
Eu quase cuspo o vinho. Ele estava sendo assim tão direto?
— Você quer dizer o que?
— Isso mesmo que você ouviu. Você não vai transar comigo então? Eu estava bem afim na verdade.
— Meu Deus.  Digo atordoada.
— O que? Fui direto demais? Desculpe, devo dizer que não sou de relacionamentos.
— Ander disse algo sobre.
— Ele disse?
— Disse que eu não deveria me envolver com você caso não quisesse sofrer... Isso significa que não assume ninguém.
— Eu não sou um cara bom, Tessa. Na verdade eu sou o avesso de bom.
— Tem haver com a briga de outro dia?
— Por incrível que pareça aquilo aconteceu por causa do meu lado bom.
— Eu não estou entendendo mais nada. Encaro o prato a minha frente sentindo meus neurônios quase fritarem por pensar que Spin era mais estranho do que eu pensava.
— Eu vou te levar para casa.
— Mas já? Digo assustada.
— Quer ficar?
— Hum, não... Eu...
— É o melhor a se fazer. Desculpe pelo equívoco de novo, espero que me desculpe por todos esses acontecimentos desde que nos conhecemos.
— Roland, você é um pouco confuso...
— Eu sei. Ele sorri friamente ficando de pé. — Eu acho que é hora de você ir.
— Ok. Digo me sentindo perdida e ofendida. Ele estava me expulsando do seu apartamento.
— Eu te levo até sua porta.
— Não precisa! Digo irritada.
— Eu faço questão. Falou e saiu atrás de mim. Dessa vez eu não esperei ele me oferecer a passagem, sai com raiva e comecei a descer as escadas sem entender realmente o que tinha acontecido. Parei em frente à minha porta e a abri sem tempo de pensar, e já a estava fechando quando ele colocou a mão para impedir que eu a fechasse.
— Desculpe...
— De novo? Falo ignorante. — Pelo o que dessa vez?
Spin levanta as sobrancelhas como se não esperasse aquela reação da minha parte.
— Por estragar o jantar. Na verdade... Ele fechou os olhos. — Eu não sei ser amigo de garotas, Tessa, sinto muito,  com mulheres o meu contato é sempre sexual, não sei lidar de outro modo...
— Então quer dizer que me buscou para jantar a fim de transar comigo?
— Não... Quer dizer... Eu quero, mas então você disse que não quer.
— Eu não disse isso.
— Você quer? Sua voz saiu com esperança. Puta que pariu.
— Eu também não disse isso.
— Certo agora eu quem não estou entendendo...
— Você disse que não consegue ser amigo de mulheres, certo?
— Hum.
— Que tal eu ser a primeira.
— A primeira a que?
— A ser sua amiga.
Roland solta uma gargalhada. — Você quer ser minha amiga?
— Porque não?
— Sei lá... Ele coça sua cabeça. — Como funcionaria isso?
— Do mesmo modo que você é amigo de homens, ora essa...
— Não sei, coração. Ele me olhou sem vergonha. — Vai ser difícil ser seu amigo quando eu estava pretendendo te foder de quatro ate seus joelhos estarem esfolados.
— Isso não é nada gentil de se dizer. Reviro os olhos.
— Está vendo?
— Tudo bem. Vamos considerar o nosso primeiro encontro de amigos amanhã.
— Amanhã é domingo.
— Por isso mesmo. Vamos fazer um programa de amigos.
— Eu já tenho planos para amanhã.
— Que planos?
— Você não precisa saber.
— Você pode foder com alguém depois do nosso encontro, primeiro você vai comigo fazer compras.
— Compras? Os olhos dele se arregalaram é um sorriso zombeteiro tomou seu rosto.
— O que tem de engraçado? Somos amigos, e é isso que os amigos fazem.
— Qual é, Tess. Ele me puxa mais uma vez para colar nossos corpos. — Vai dizer que também não imaginou fodendo comigo?
— Hum... não. Gaguejo.
— Beijando minha boca? Não pensou nem um pouco como dever ser meu pau depois de me ver com a bunda de fora? Sua sobrancelha arqueia. Esse cara se achava.
— Você está me constrangendo. Reviro os olhos. — Me solte.
— Responda a verdade. Ele aproximou o rosto do meu. — Se você disser que não pensou, eu te solto agora e não beijo essa sua boca linda como estou pretendendo desde que vim te buscar para jantar.
— Como eu disse, eu não quero me envolver com pessoas que eu vou conviver aqui...
— Resposta errada, coração. Ele falou e grudou nossos lábios.
Puta que pariu. Eu estava beijando Spin em frente ao meu apartamento, no corredor, qualquer um podia ver aquilo. Eu estava a 5 dias em Nova York e já estava excitada me esfregando e beijando o único cara que eu tinha certeza que não valia nada. Eu não estava tão necessitada, você pode ficar chocada mas eu tinha uma vida sexual ativa no Brasil, apesar de papai nem imaginar isso, graças a Deus.
Suas mãos desceram da minha cabeça para os ombros e então para a minha cintura. Spin apertou minha bunda e fez com que colássemos um no outro ao ponto de eu sentir sua excitação enquanto sua língua trabalhava muito bem dentro da minha boca.
— Não faz isso. Suspirei quando ele se afastou para respirarmos.
— Desculpe... amiga.
— Você é um canalha. Me afasto tentando não vacilar já que estava incrivelmente tonta. — Nunca mais faça isso, Roland.
— Hum, talvez eu faça sim coração.
— Nesse caso, não seremos nem amigos.
— Ok, desculpe. Ele riu erguendo os braços como se estivesse se rendendo.
— Te vejo amanhã.
— Só posso as três horas.
— As três então. Respondo e fecho a porta na cara dele.
Minhas pernas pareciam gelatina. Agora mais do que nunca eu sabia que não podia cair em tentação com Spin, ele tinha deixado claro que não queria nada mais que sexo. Eu não havia ido para Nova York para sexo. Mas também não veio para namorar. Minha mente gritou.
Talvez se eu transasse com ele ficasse mais fácil de sermos amigos. Eu tinha feito isso com João...
Minha cabeça gira rapidamente e eu não penso muito antes de voltar a abrir a porta e me surpreender ao perceber que Roland ainda estava no mesmo lugar. Ele se assusta parecendo ter saído de seus devaneios.
— Você aceita ser meu amigo depois de transarmos?
— Como assim?
— Você disse que não se envolve, eu também não quero um namorado, mas com certeza preciso de um amigo...
Spin me olha por uns segundos antes de se aproximar de mim rápido demais e me empurrar para dentro do apartamento.
— Você tem certeza?
— Tem tudo para dar errado, mas eu tenho sim.
— Não vai se arrepender. Seus olhos brilharam.
Eu iria fazer merda e iria me arrepender sim, mas já estava acostumada.

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