Não é um encontro

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-Então!! O teu namorado veio atrás de ti? Romântico.- Cantarolou Karla assim que entrou no dormitório.
-As notícias correm depressa... Quem te disse? - Naya sabia a única pessoa que lhe poderia ter dito, mas perguntou na mesma.
O sorriso que estava no rosto da amiga desapareceu, dando lugar a uma expressão receosa.
-Em relação a isso... O teu namorado viu-me no café. Disse-me que tinha visto uma foto no teu facebook e perguntou o teu número. Eu não o ia dar- tentou explicar.- Mas ele falava de uma maneira tão linda sobre ti... Que eu não consegui dizer que não.
Naya pôs uma almofada na cara. Não para esconder a irritação, mas para esconder um sorriso que lhe nasceu nos lábios. Não podia deixar Karla dar-se conta disso.
-Ficaste muito chateada? Como foi o encontro? Vocês discutiram?
Naya respirou fundo, destapando a cara.
-Não, não fiquei chateada. Não foi um "bom encontro" e não, não discutimos. Mal falámos.
Karla olhava-a como se quisesse encontrar as palavras certas para lhe dizer algo.
Naya fez um gesto com as mãos para que a sua amiga transformasse os pensamentos em palavras.
-Eu não encontro justificações para o que ele te fez, mas eu acredito que Evan goste realmente de ti.
-Eu... -Karla interrompeu-a.
-Mas, para um pouco de pensar no que ele sente.- A amiga senta-se do lado de Naya.- E foca-te naquilo que tu sentes.
Naya engoliu em seco.
-O que sentes, Naya?
-Hm, eu... Eu n-não... Não consigo perdoá-lo; não consigo esquecer o que me fez e muito menos confiar nele. Karla, sem confiança não há relação! Eu não posso atirar-me para Evan sabendo que vou desconfiar de cada palavra que sair da sua boca!
A sua amiga acenou com a cabeça, concordando.
-Mas, tu não sabes o que aconteceu. Não sabes se a versão que te contaram está cem por cento certa.
-O Josh não me mentiria.
-O que eu quis dizer é que, tu não ouviste a versão do Evan. Como sabes que o que te contaram não tem pontas soltas?
Naya coça a nuca.
Era verdade, ela tinha até perdido a conta das vezes que Evan se tentara explicar e dizer que o que se passou não era bem aquilo que lhe contaram... E ela não quis ouvir.
Naya suspira, se levantando.
-Acho que tens razão. Eu devia falar com ele. Afinal, Evan até fez um caminho enorme só para se explicar... Devo-lhe isso, pelo menos...
Karla sorri, concordando.
-Se vocês reatarem é bom que ele não apronte. Caso contrário quem o fará chorar serei eu.
Riem.
De repente, Naya para.
-Como vou falar com ele se não sei onde o encontrar?
-Bem... Talvez eu tenha ficado com o número dele. Só por precaução. Evan avisou que tu irias ignorar qualquer mensagem que te enviasse.
Naya rio com um nervoso miudinho no estômago.
Karla passou-lhe rapidamente o número do ex-namorado.
A morena respirou fundo.
-Okay, vou marcar um encontro com ele! Não um encontro. Isto é, não um encontro de namorados nem "first date". Não que eu queira ter um encontro com ele...
Karla faz-lhe sinal com uma expressão divertida.
-Eu já percebi, amiga. Liga-lhe logo!
-L-ligar? Estava a pensar em mandar uma mensagem.
Karla revira os olhos.
-Nem penses! Vais ligar-lhe e marcar um encontro com convicção e segurança.
Com aquilo, Naya preferiu não referir as suas inseguranças como: e se ele ignorar a chamada? E se já se tiver fartado? E se entretanto conheceu outra pessoa? Cinco horas podem resultar em muita coisa!
Respirou fundo e ligou a Evan que não demorou a atender.
-Oi?
-Ah, Evan.Sou eu, a Naya.
-Eu sei. Tenho o teu número. Estou é surpreendido por me teres ligado. Não apagaste a mensagem que te mandei?
Naya afastou um pouco o telefone e respirou fundo, para evitar gaguejar.
-Não sejas tonto. Eu faço coleção de mensagens. Adiante, não te liguei para fazer converse fiada. Quero saber se estás disposto a encontrar-te comigo. Não "encontrar", mas encontrar. Tu sabes, para falar, e se ainda quiseres explicar o que aconteceu na noite da aposta...
-Claro! Diz-me quando e onde. Quanto mais depressa melhor. Quero ver-te sem o teu "companheiro" por perto. Tu e eu. É bom, não é?
Naya pigarreia antes de continuar:
-Não é a mesma coisa. E são só uns minutos de conversa.
-Existe a hipótese de reatar-mos? Eu a...ahm, sinto a tua falta, morena.
Naya sentiu o seu coração falhar.
Não lhe chamavam morena já fazia tempo e a voz dele fazia daquela palavra... Especial.
A morena respirou fundo e tentou dizer com a maior convicção possível:
-Não... Acho que... Acabou.
Fez-se algum tempo de silêncio do outro lado da linha.
-Quando nos podemos ver?
-Amanhã. Perto das oito da noite?
-Para mim está ótimo! O que achas de irmos a um Starbucks? Há um que gosto particularmente de ir.
Naya ponderou. Aquilo estava a parecer demasiado um encontro e não era isso que ela lhe queria fazer parecer.
Suspirou.
-Tudo bem. Envia-me a morada por mensagem.
-Combinado, então! Até lá, morena.
-Pois, tchau.
Não esperou muito e desligou, sentando-se como gelatina de seguida.
-Isso...
-Não o digas, Karla!
-Pareceu mesmo um...
-Cala-te!
-Encontro!
-E disseste-o...
-Oh, por favor, Naya! Isso foi um encontro entre dois apaixonados. Está na cara!
-Não, não, não, não! Não. Eu não estou apaixonada por ele. Okay, não "ultrapassei" a cem por cento, mas já não estou.
Karla sorri e fala com um ar um tanto sonhador:
-Ele se aproxima no fim da vossa conversa e sussurra no teu ouvido "Saudades de ti, da tua boca do teu...
-Para com isso!- Apressa-se Naya a dizer, ligeiramente embaraçada. Ela começava a imaginar a cena que Karla narrava e a ficar desconfortável.
-Ah, imaginaste, não foi? Gostaste, certo?
-Não! Andas a ver filmes demasiado clichê.
Karla dá uma gargalhada divertida.
-Tens razão. Estou a exagerar. Não vais ficar a noite toda a pensar na saída com o teu namorado.
-Ex!- realça a morena.
-Por enquanto.- Ri Karla.

Depois Do Ponto FinalOnde histórias criam vida. Descubra agora