05. festas de aniversário são desnecessárias

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Faço aniversário em março. Quando eu estava prestes a completar dezenove, minha mãe insistiu que eu precisava ter uma festa. É uma coisa minha, mas não sou fã de celebrações do tipo. Não entendo pra quê alimentar pessoas que só vão te oferecer sorrisos falsos e presentes baratos. E ainda sairão falando mal de você. Sempre mal. Mais mal do que bem. Mesmo que sejam seus supostos amigos.

— Filha, sua última festa foi aos doze anos. Ah, vamos lá. Você acabou de entrar pra faculdade. Tem um monte de coisa pra comemor...

— Eu não quero e ponto final — resumi enquanto tentava preparar a aula de inglês que eu daria por Skype em menos de uma hora. — Por que isso agora, hein? Você sabe que eu não gosto de festa, mãe.

— Mas você pode chamar suas bffs... — insistiu ela, sentando na beira da minha cama com a avidez de uma adolescente. Ninguém mais diz BFF. Desprezei-a com meu olhar fatal. — Não me olhe assim, Nina! Tudo bem. Você pode chamar suas amigas da faculdade.

— Eu não tenho amigas na faculdade.

— Uma oportunidade perfeita para quê? Fazer novas amigas!

— Não estou interessada em amizades criadas por leve e espontânea pressão — respondi, com os olhos no notebook ao meu colo.

— Então pense nos meninos, Nina. Hein?

— Ah, qual é, mãe? — perguntei abaixando a tela do computador portátil a ponto de destruí-lo. Insatisfeita, dei um pulo da cama marchando até a porta e abrindo-a. — Eu tô ocupada preparando a próxima aula.

— E esse é o seu problema — disse ela, sem sair da cama. — Você não tem idade pra trabalhar. Quem vê isso pensa que eu não sustento você. Você não tem necessidade disso.

— Mãe, tchau, por favor.

— Nina, querida... — tentou ela, assumindo um tom mais meigo de voz. Levantou e se arrastou até perto de mim. As sobrancelhas fazendo um desenho de súplica. — Você tem que se divertir um pouco. Por isso a festa. Não é pra te incomodar, minha filha. É pro seu bem.

— Mãe, o meu bem vai ser eu poder trabalhar e praticar o bendito do piano em paz.

Ela ainda ficou me encarando com aquela expressão de buldogue sem teto nem sucesso. Então, por fim, cruzou os braços com força e, antes de sair, falou.

— Pois eu vou falar com o Caio e eu quero ver se ele não vai te convencer. Essa eu quero ver.

Nina já nasceu enferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora