06. aquela canção de aniversário

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Fiz o tal dos dezenove em março e não teve festa como ela queria. Quem é o Caio para me persuadir a alguma coisa?

Bom, mas teve eu, minha mãe, o Léo, o Caio e os pais dele, a Dona Virgínia e o Seu Altair. Jantamos uma comida especial que minha mãe preparou para mim.

Léo me surpreendeu muito com o presente. Ele importou dos Estados Unidos um teclado controlador tão leve e fofo que poderia caber na minha mochila sem dificuldades. Eu fiquei quase sem ar com o instrumento e dei o abraço mais apertado que eu poderia oferecer em gratidão.

Minha mãe não escondeu o largo sorriso ao ver isso. Ela me deu roupas e um perfume. Os pais do Caio disseram que o presente tinha ficado preso nos Correios, mas a cara do Caio às escondidas dizia que era mentira, que eles inventaram aquilo porque não haviam comprado porcaria nenhuma.

Por sua vez, ele me deu uma linda e enorme bandeira do Reino Unido. E um quadro de parede com uma pintura de um dos álbuns do The Doors.

Dois meses seguintes, descobri que meu pai havia enviado uma carta de aniversário. Ele tinha pedido para alguém escrever o que ele dizia. Por um milagre, ele tinha saído do coma e estava se recuperando do derrame cerebral. Ele também falou que não havia nada com o que se preocupar. E que ele me amava muito.

Sentada nas costas do sofá, bem de frente para a entrada da casa, esperei minha mãe chegar.

— Mãe, você achou que eu nunca fosse encontrar isso? — perguntei abanando a carta assim que ela deu o primeiro passo para dentro.

— O que...? Ah, porcaria... — ela xingou um palavrão em baixo som. Fechou a porta, largou a bolsa no chão e veio ao meu encontro. — Nina, eu achei que fosse melhor pra você.

— Achou que fosse melhor? Achou que fosse melhor eu não saber que o meu pai escreveu pra mim? Mãe, isso é o mínimo que eu tenho dele. O mínimo — falei, perplexa, sacudindo a carta nas mãos. — Você não ia me dizer que ele saiu do coma?

— Eu achei que ter notícia dele preocuparia voc...

— Isso não é desculpa — interrompi ela usando o tom de seriedade que impedia mentiras. Resolvi não discutir nem pestanejar. Já estava feito mesmo. — Sei o que você faz, mãe. Mas meu pai está morrendo. E se você tentar me impedir de maneira suja, vai surtir com efeito contrário.

— Nina. Me desculpe.

— Prometa que não vai me esconder mais nada sobre ele, por favor.

Ela respirou fundo algumas vezes antes de prometer. E mesmo assim, não me vi segura na promessa.

O presente de aniversário do meu pai, aquele que abandonou a nós duas, foi o mais valioso para mim: a indicação de uma música que eu nunca, nunca tinha ouvido antes: "She's Not There", do The Zombies.

O mais estranho é que ela começa dizendo: "Bem, ninguém me falou sobre ela, sobre como ela mente".

Nina já nasceu enferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora