03. vestidos e maquiagem

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Nunca morei em outro lugar além dessa casa. É uma casa grande, a Claribela. Sempre tive a incontrolável mania de dar nomes e apelidos às coisas a qual me apego. Então essa é a Claribela. Digam muito prazer. Uma casa de dois andares, com direito a um pequeno quintal nos fundos e desnecessárias reformas de ano em ano.

O Léo não apoia muito isso, não. É mais coisa da minha mãe. Léo é o meu padastro e eu ainda acho estranho que eles estejam juntos por tanto tempo e nunca tenham tido um filho. Eles não falam sobre isso. Não na minha frente. A esse ponto, estou convicta de que ele não está se iludindo porque deve ter a plena certeza de que nunca será como um pai pra mim, mesmo que me trate bem e peça a minha pizza preferida toda terça, já que vem em dobro.

Minha aparência física vem da minha mãe. Talvez muitos traços da personalidade também. Damos respostas uma à outra com a naturalidade que faz as pessoas se espantarem. Os cabelos dela são castanhos e na altura do fim do pescoço exatamente como os meus. Os olhos castanhos. Nem ela nem meu pai vieram com sardas no rosto. Deus deve ter escolhido isso especificamente pra mim. Bonzinho.

Ter dezenove anos não é suficiente para que a minha mãe entenda sobre alguns dos meus gostos. Número um. Eu nunca vou usar vestidos. Me sinto uma pata choca. Número dois. Não me presenteiem com maquiagem. Nunca vou esconder minhas sardas. Me sinto quem eu não sou.

Nina já nasceu enferrujadaOnde histórias criam vida. Descubra agora