" She wore Blue Velvet "
" But in my heart there'll always be "
" Precious and warm a memory through the years "
" And I still can see Blue Velvet through my tears "
Lana del Rey - Blue Velvet
* Harry *Hoje acordei com um sorriso enorme na minha cara. Hoje irá ser o grande dia, o dia em que finalmente serei Padre.
Sei que se os meus pais estivessem vivos eles iriam preferir que eu constituísse uma família, tivesse uma casa, dois filhos e um cão e claro uma esposa para o resto dos meus dias, mas isso nunca irá acontecer. Desde aquele dia que eu tomei esta decisão.
- Tira-me uma foto, amor. - Zoey pede, dando-me a máquina fotográfica e fazendo uma pequena corrida até à ponta do paredão.
- Tem cuidado! Não andes mais para trás. - aviso, ciente de que ela não sabe nadar e que no Inverno o mar é mais violento.
Levanto a câmara e aponto para ela. Estava tão concentrado a tentar tirar uma boa foto à primeira tentativa que apenas me lembro de a ouvir gritar, desesperada: - Harry! Ajuda-me! -
Largo a câmara e procuro-a com o olhar, não a encontrando.
- Zoey! - grito, enquanto corro até à ponta do paredão.
Olho para baixo, encarando as águas agitadas, mas infelizmente não há qualquer sinal dela.
Tiro o meu telemóvel do bolso das calças, pousando-o no chão e sem pensar duas vezes, atiro-me para a água e mergulho, procurando-a até ficar sem ar.
- Zoey! - berro, sentindo lágrimas quentes contra a minha face gelada.
Não obtenho qualquer resposta. É como se ela tivesse simplesmente desaparecido.
Já era de noite. Quanto tempo fiquei à procura dela? A verdade é que não faço a mínima ideia.
Decido sair da água e telefonar aos meus pais, talvez eles saibam o que fazer.
Com as mãos a tremer, pego no telemóvel e espero.
- Filho? - oiço a voz da minha mãe.
- Mãe! - suspiro de alívio por ela ter atendido. - Ajuda-me! Eu, a-a-a Zoey á-água! - grito pelo telemóvel, não dizendo coisa com coisa.
- Tem calma Harry. - ela pede. - Conta-me o que se passou.
Respiro fundo e tento de novo.
- A Zoey caiu ao mar. E-e ela não s-sabe nadar! - fungo. - E-eu procurei-a mas não a encontrei!
- Oh Harry! Diz-me que telefonaste à polícia e aos bombeiros. -
Merda!
- N-n-não. Eu fiquei um bocado desorientado e apenas tentei encontrá-la. - digo, levando as mãos ao cabelo.
Sinto o vento frio a embater com força contra as minhas roupas molhadas, o que me faz espirrar.
- Telefona à polícia e aos bombeiros. Eu vou telefonar ao orfanato onde ela vivia e depois vou logo aí ter. Até lá mantém a calma. Tudo irá ficar bem. Os bombeiros irão conseguir encontrá-la. - a voz suave da minha mãe tenta acalmar-me.
Mas nada ficou bem. A Zoey nunca foi encontrada; quer viva ou morta.
Sinto tanto a falta dela. Ela era muito simples, talvez por viver num orfanato desde pequena, e apesar de todos os problemas que ela pudesse ter, sempre me apoiou em tudo.
Ela era tudo para mim e eu deixei-a escapar pelos meus dedos. Eu no fundo, sou o responsável pela sua morte e nunca me perdoei por isso. Eu podia tê-la impedido de ir para a ponta do paredão, sabendo que ela não sabia nadar, mas fui estúpido e não consegui salvá-la.Agarro numa toalha branca, assim como tudo o que necessito para tomar banho e faço o meu caminho até à casa de banho.
Deixo a água quente lavar as memórias daquele dia e também relaxar os músculos tensos das costas.Após lavar todo o meu corpo volto para o meu quarto, que partilho com o Louis, e visto a mesma roupa que todos os seminaristas usam; uma camisa branca fechada até ao último botão por baixo de um casaco cinzento claro assim como umas calças de corte direito da mesma cor.
- Então, Harry. Entusiasmado com o dia de hoje? - pergunta Louis, assim que entra no nosso quarto.
- Bastante, para ser sincero. E tu? - pergunto.
Ambos temos esperado por este dia durante anos.
- Também, mal posso esperar para esta tarde.
Fazemos as nossas camas e as nossas outras tarefas diárias, enquanto conversamos sobre coisas aleatórias.
- Hum, Harry... - Louis chama.
- Sim? - digo, virando-me para o encarar.
- Para onde vais viver quando acabar a cerimónia? Vais continuar a viver aqui? - ele pergunta e eu sei que ele não me quer lembrar que não posso ir viver para casa dos meus pais por razões óbvias, mas a verdade é que eu já tenho um plano.
- Bem, na verdade, eu estava a pensar ir viver para o Sant Mary Arizon. - conto.
- Oh. É um convento misto, não é?
- Sim. - confirmo.
Após o almoço e as nossas habituais orações, era finalmente altura de ir para a igreja.
Confesso que comecei a sentir-me nervoso. E tudo piorou quando o padre começou a dizer o nossos nomes numa missa de celebração.
Este é o único caminho em que não voltarei a perder ninguém que amo.
Mãe, pai, Zoey... estarão sempre comigo no meu peito. É este o último pensamento que tenho antes de ir assinar a minha parte do documento e tomar a óstia.
Louis sorri-me discretamente e eu retribuo-lhe um breve sorriso.
Volto a sentar-me no banco da igreja e sei que apartir daqui tudo vai mudar.
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POSSUÍDA || h.s
Fanfic" Numa terra de deuses e monstros, eu era um anjo, que vivia no jardim do diabo. " - Lana del Rey xx. [ Highest Ranking: Terror #1 Mistério/Suspense #1 ]