Alguns dias mais tarde, após se recuperar psicologicamente, Elizabeth tomou coragem para passear pela manha, como sempre fazia. O frio estava chegando, as flores já caiam sobre o chão, o enfeitando das mais variadas cores. Suas vestes eram preenchidas por tules e lã quente junto de suas meias e seus sapatos delicados. Seu casaco azul grisaceo fazia um contraste delicado com seu vestido cor de pêssego. O tempo estava acinzentado como de costume, o vento gélido beijava o rosto de Elizabeth, como se fossem pequenas facas espetando seu rosto.
Elizabeth adorava o clima frio de outono, sua pele parecia ficar mais pálida que o normal, ela também adorava ver as pessoas vestidas elegantemente nas ruas. Casais andando juntos e crianças brincando sobre o monte de folhas que havia na frente de alguns quintais. Era uma estação que lhe trazia muita alegria.
Ao passar na rua da loja de Jason, pode-se ver que estava fechada hoje. Talvez ele tenha tirado um dia de folga, afinal, sempre que caminhava, ela via a loja aberta, mesmo que quase sempre vazia. Dava para contar nos dedos os dias em que ela havia visto uma ou duas pessoas dentro da loja. A de cabelos azuis suspirou triste, ela não iria encontrar seu amigo ruivo hoje.
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Seu bule com desenhos de coelhos estava cheio de chá matte. Já estava anoitecendo e a temperatura estava caindo aos poucos. Elizabeth despejou um pouco de chá em sua xícara e notou que os torrões de açúcar haviam acabado. Por sorte havia mais em um dos armários.
Ela pegou uma de suas cadeiras e subiu, já que não alcançava o armário de cima. Ao descer, despejou os torrões em seu porta-cubos de açúcar, agarrando um em seguida. Elizabeth encarava sua xícara com uma incerteza em sua mente. Por mais normal que possa ter sido a loja de Jason fechada fazia sua mente sofrer uma batida. Jason nunca deixava a loja fechada, por um momento ela imaginou que seja por causa da avó adoentada de Jason.
-Tomara que esteja tudo bem. –falou consigo mesma tomando um gole de seu chá em seguida.
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Elizabeth andava pelo seu pequeno jardim observando seu canteiro de flores e sua cerejeira, que estava pronta para desabrochar junto do tempo frio. Seus cabelos tons de gelo balançavam conforme o vento assoprava, sua mente estava tranquila, mas ao mesmo tempo, um turbilhão. Suas pequenas botas afundavam sobre a grama pouco coberta por geada.
A garotinha olhou para o portão da frente de sua casa e percebeu que uma figura alta a observava de longe. Sua postura ereta e seus ombros largos, ela não conseguia identificar, pois já estava escurecendo, o que lhe dava um pouco de medo. Seria um dos homens que a atacara dias atrás? Seu coração disparou, e em meio à adrenalina, acabou pisando dentro de um pequeno buraco na grama fazendo seu pé torcer e a mesma cair por cima de seu braço em cima de um caminho de pedras pequenas, mas pontiagudas.
Ao se levantar, a figura estranha já não estava mais lá. Elizabeth estava sentindo muita dor em seu braço e seu tornozelo. Por morar sozinha e não ter contato com nenhum amigo ou parente, teria de ir ao hospital sozinha.
Elizabeth andava devagar pelas ruas escuras, seguindo a mesma rota de sempre para chegar ao hospital o mais rápido possível. Ao passar na frente da loja de Jason, ela pode notar que havia uma luz acesa dentro da loja, embora houvesse uma placa dizendo que estava fechado. A de cabelos azuis se aproximou da porta com esperanças de ver seu amigo ruivo, e com esperanças que talvez ele pudesse lhe ajudar.
Ao se aproximar da porta de vidro com detalhes em madeira esverdeada pode ver com mais clareza dentro da loja. Estava uma bagunça. Milhares de bonecas e brinquedos estavam espalhados pelo chão. Algumas estavam inteiras, outras quebradas, com as cabeças arrancadas de seu corpo e seus vestidos rasgados. Seu coração disparou. Jason estaria em perigo ou haviam invadido sua loja? Elizabeth observou a porta, estava encostada apenas. Com todo o cuidado ela empurrou a porta, fazendo o pequeno sino ecoar.
Era quase impossível caminhar pela loja sem pisar em alguma parte de algum brinquedo. Elizabeth sentia um frio em sua barriga e um nó na garganta. Queria clamar pelo nome do ruivo, mas temia que não fosse ele o culpado por esta bagunça. A garotinha olhou por de traz do balcão onde sempre depositava seus brinquedos para Jason os olhar, porém estava vazio e com arranhados profundos na madeira. Aquilo a deixou mais aflita do que já estava.
Seguiu seu caminho até uma porta que estava entreaberta, onde ela encontrou uma oficina rodeada de brinquedos quebrados ou inacabados. Seus olhos brilharam diante de tantas criações encantadoras e delicadas. Algumas bonecas eram do tamanho de um humano, chegavam a dar medo, pois pareciam ter vida em seus olhos de vidro.
Ao analisar melhor a sala, Elizabeth encontrou uma porta azul, estava entreaberta e havia pouca luz vindo de lá de dentro. A porta estava rodeada de brinquedos com sorrisos tortos costurados rapidamente. Era como se eles fossem forçados a sorrir. A de cabelos azuis espiou por entre a porta.
Uma sombra.
E sangue.
Um rio de sangue.
Seu coração parecia estar prestes a saltar para fora de seu peito. Ela nunca havia presenciado nada como isto em sua vida. Uma risada ecoou pelo quarto. Seus pelos do corpo arrepiaram. Como um ato involuntário, Elizabeth atravessou a porta azul, e assim vendo o dono da sombra que estava espreitando. A cartola branca sobre o cabelo ruivo, o casaco preto com plumas extravagantes sobre os ombros e os olhos verdes fosforescentes. Jason. Com suas mãos negras junto de garras enormes e afiadas. A pele em suas mãos parecia se decompor, revelando partes de sua carne. Seu sorriso psicopata e seus dentes afiados. Elizabeth estava paralisada, sem nenhuma reação enquanto observava o ruivo arrancar os membros de uma garota que estava deitada sobre uma mesa de metal.
-Oh, minha doce bonequinha. Eu não queria que visse isto. Não queria que visse o meu verdadeiro eu. –Jason olhava para Elizabeth com uma expressão de ódio misturada a tristeza, mas seu semblante mudou ao notar que a mesma segurava seu braço com um pano branco pintado em vermelho vivo- Esta ferida? Céus! Minha preciosa boneca! Você está quebrada! –o ruivo se aproximou rapidamente de Elizabeth agarrando seu braço machucado, revelando um pequeno corte, porem profundo- Venha minha querida, por aqui. Eu vou te concertar.
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Jason's Doll
Romance"Elle est ma poupée! Cela n'appartient qu'à moi!" "Je vais arranger ça pour toi" - "Ela é minha boneca, só pertence a mim!" "Eu vou te consertar "