Neuf

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Elizabeth acordou em seu quarto, aparentemente desnorteada e confusa, não conseguia se lembrar de absolutamente nada nem de como foi parar ali. Seu corpo continha escoriações e alguns cortes, fora a dor em seu pescoço e seu braço enfaixado. Tudo estava no lugar que ela sempre havia deixado e completamente organizado.

Seus pés tocaram seu carpete felpudo fazendo leves cócegas sobre as solas, trazendo uma sensação de conforto em seguida. Seus olhos estavam pesados como se não houvesse dormido por dias, seu corpo parecia estar sendo puxado em direção ao chão junto da horrível sensação de desmaio.

Elizabeth escorou sobre as paredes e os móveis, dirigindo-se até o banheiro de seu quarto, onde se deparou com seu reflexo no grande espelho, seu corpo repleto de hematomas fazia um contraste entre sua pele branca e os roxos que ela nem mesmo se lembra de onde os conseguiu. Era como se houvesse uma lacuna em suas memorias, e mesmo que tentasse lembrar, uma forte dor de cabeça a impedia, mas por alguma razão, ela sentia medo, muito medo, como se tivesse visto algo que seria possível apenas em seus piores pesadelos.

Após um banho quente e pensativo, a de cabelos azuis dirigiu-se até o closet observando suas vestes de boneca, e de certa forma, isso a deixou paralisada. Passou seus olhos pelos vários vestidos pendurados em cabides, e apenas um lhe chamou a atenção, o vestido a qual Jason havia remendado. Elizabeth passou seus finos dedos sobre a delicada costura feita pelo fabricante, fazendo-a se lembrar de seus momentos com ele e de seu sorriso gentil e encantador.

-Talvez ele saiba de alguma coisa... –falou consigo mesma, em seguida agarrando seu vestido.

Elizabeth vestiu-se como de costume, porém, não levaria sua sombrinha junto a ela hoje, apenas um casaco para se proteger do vento gelado. A garota saiu apressada de sua casa de bonecas gigante, correndo em direção á loja de Jason, na esperança de que ele a ajudasse em algo, já que de certa forma, ela sentia que deveria pedir ajuda ao ruivo de vestes elegantes.

Seu coração batia forte, como se estivesse prestes a rasgar seu peito, o vento frio de outono se assemelhava a pequenas agulhas contra seu rosto, causando uma vermelhidão abaixo de seus olhos e uma sensação de paralisia em suas bochechas. À medida que Elizabeth corria, seus pulmões pareciam pesar por conta do ar congelante que inspirava e expirava rapidamente.

Ao chegar à rua da loja de Jason, uma placa indicava que a mesma estava fechada, a de cabelos azuis paralisou, sentindo sua única esperança ir por água abaixo. Elizabeth se aproximou da porta de madeira e vidro temperado, empurrando a mesma garantindo que a loja estava realmente fechada, um olhar de tristeza se formou em seu delicado rosto. Pousou as mãos sobre a vitrine da loja observando o interior da mesma, todos os brinquedos se localizavam nas prateleiras, bem arrumados e alinhados, estaria se perguntando o porquê Jason não vira á sua loja hoje. Elizabeth olhou pelo reflexo da vitrine, observando um senhor de idade avançada que caminhava pelo outro lado da rua.

-Moço! –exclamou quase em um grito, chamando a atenção do velho- Por favor, sabe me dizer por que não abriram a loja hoje? –ela caminhou gentilmente até o senhor que usava um chapéu elegante junto de uma bengala velha.

-Desculpe-me querida, não passo muito por esta rua, mas eu ouvi dizer que esta loja está fechada á vários dias. –Elizabeth engoliu um seco.

-Não é possível, ontem ela estava aberta, eu vim aqui.

-Esta loja está fechada á mais de um mês minha cara, desde que a senhorinha, dona da loja faleceu. Se há alguém cuidando desta loja, provavelmente não tem interesse em trabalhar nela, posso até afirmar que logo será vendida ou demolida.

-T-tudo bem... Obrigada senhor.

Elizabeth voltou-se para a loja ainda desacreditada no que acabara de ouvir. Talvez o senhor não soubesse que Jason cuidasse da loja, mas ainda estava pensativa em relação à senhorinha ter morrido á mais de um mês e Jason não ter lhe contado nada, talvez ele não quisesse demonstrar sua dor, afinal, Elizabeth e Jason não eram próximos o suficiente.

Sua cabeça estava a mil, com vários pensamentos estranhos, como flashes diante de seus olhos, porém sem nenhuma explicação, e tudo ficava mais sem sentido ainda com o sumiço de Jason. Elizabeth encolheu-se de frio enquanto remoía suas incertezas e dúvidas. Talvez seja apenas coincidência, pensou consigo mesma.

°°°

Elizabeth pousou a agulha sobre seu disco de vinil, que agora tocara uma musica lenta ao som do piano, ela realmente apreciava musica clássica, embora não soubesse quase nada sobre a história de tal, mas tocava piano como ninguém devido às aulas em sua infância. Tomou sua xícara de porcelana em mãos e observou seus hematomas, ainda sem resposta para onde havia os conseguido.

A mente da garota martelava com o fato de Jason não ter aberto sua loja hoje, e porque estaria tão preocupada sobre tal motivo, afinal, Jason é humano como qualquer um, tem seus problemas como qualquer outra pessoa, bem que sua mãe lhe avisava preocupação demais causam dor de cabeça.

Elizabeth olhou para a janela e encarou as folhas dançarem ao vento, pareciam estar em ritmo com a música que tocava de sua vitrolinha fazendo a garota sorrir momentaneamente. Encarou sua xícara ainda preenchida pela metade com seu chá de camomila e observou seu reflexo.

Está na hora de dormir bonequinha.

Uma voz sussurrou perto de seu ouvido fazendo a de cabelos azuis largar sua xícara que se quebrou ao encontro do chão. Elizabeth se virou para olhar ao redor da cozinha e não encontrou ninguém. Sua cabeça martelou acompanhada com uma dor de cabeça forte fazendo-a tampar seus tímpanos com a ilusão de que aquilo pararia.

Um barulho alto foi ouvido de seu quarto, assustando-a. Elizabeth pegou uma faca de sua cozinha e tomou cuidado para não pisar em nenhum estilhaço de sua xícara quebrada, caminhou com rapidez até seu quarto que se encontrava com a porta aberta, Elizabeth respirou fundo entrando com tudo no cômodo, que aparentemente estava vazio e com as janelas fechadas. Para garantir sua segurança, Elizabeth olhou em todos os possíveis locais onde uma pessoa poderia se esconder em sua casa, concluindo que a casa realmente estava vazia e nada estava fora do local. A garota voltou para seu quarto, encarando algo que estava em cima de sua cama, e que tinha certeza que não estava ali antes: um coelho de pelúcia.

Era uma peça muito bem costurada e parecia ter sido feito com muito amor e carinho, o coelho era feito com várias partes diferentes do mesmo tipo de tecido, o deixando com metade do seu corpo na cor creme e na outra uma cor de vermelho bordô, seus braços também eram do mesmo modo, sendo um lado cor de creme e o outro um azul bebê, onde fazia um contraste gentil com seu colete preto e seu tapa-olho que era um botão costurado junto de um tule delicado. Elizabeth tomou o coelho com cuidado em suas mãos, revelando um bilhete que estava sobre a cama abaixo do coelho.

"Bons sonhos bonequinha."

Jason's DollOnde histórias criam vida. Descubra agora