Capítulo 3 | Viúva Negra

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— Olá, estranha

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— Olá, estranha.

Em um milésimo de segundo, Heloise já estava com as mãos no coldre, pronta para sacar a pistola. Passava pela porta do apartamento quando o susto se esvaiu tão rápido quanto surgiu, à medida que a voz que a pegou no pulo chegando em casa tarde da noite foi reconhecida. A prata da Lua minguante isolada ao alto do céu se derramava sobre a grande São Paulo, iluminando com ar natural a sala de estar envolta pela penumbra da noite. O relógio se aproximava das duas da madrugada, e Marina a esperava acordada matando horas de sono na companhia de um livro e fones donde ecoavam a playlist do capítulo, acompanhada do gatinho Grey deitado em seu colo.

Em razão da cor do pelo e dos olhos cinzas, e em homenagem a Meredith Grey, não Cristian Grey, Heloise fazia questão de esclarecer.

— Quando deu uma hora eu comecei a pensar que minha noiva tinha fugido antes do casamento. Mas percebi que você não levou Grey, então definitivamente não poderia configurar seu sumiço como fuga. Então entrei em pânico. Estava prestes a oferecer uma recompensa para quem te trouxesse com vida para casa. Poxa, Helo! Você não pode ser policial e sumir assim. Eu penso que você pode estar tomando um tiro a cada dez segundos, sabia?

E ali estava a bronca que ela sabia que merecia. E para livrar-se dela, a técnica de sempre foi logo instaurada. Sarcasmo.

— Não percebeu ainda que eu desligo o celular de propósito? — brincou, dando adeus a cinquenta por cento da carranca de Marina. — Você fica linda quando está preocupada.

— Você não devia estar descansando, delegada Mazza?

De braços cruzados sob o peito, Marina endureceu o semblante e arqueou uma das grossas sobrancelhas. Linda. Irada, mas linda. Seus traços lembravam o povo indiano e seus olhos grandões, mas levemente puxados... Heloise não sabia explicar, mas ninguém lhe tirava da cabeça que Marina Chagas era uma estrangeira metade indiana e metade asiática perdida em solo brasileiro.

— Você me pegou. — Helo trancou a porta e se virou de braços erguidos, rendendo-se. — E eu estava, até ouvir as sirenes em direção ao Palácio dos Bandeirantes. Está no meu sangue, você sabe que não controlo. Fui até lá checar o que aconteceu, e quando dei por mim, estava no Albert Einstein fazendo perguntas a Rara D'Ovant. Depois de lá eu precisei tomar um ar. Suicídios são... Pesados.

Cem por cento da carranca de parceira preocupada foi eliminada. Marina detectou de imediato um daqueles assuntos que causam aquele clima, aquele cheio de melancolia que ela tomava como missão de vida não permitir que criasse suas raízes peçonhentas e envolvesse e afundasse Heloise em lembranças. Como de costume, tratou logo de ignorar o assunto.

— Quem você teve que matar para te deixarem assumir um procedimento desses? Suicídios já não são sua área há um bom tempo. Se não me engano, agora você lida com assunto de gente grande. Pelo menos é assim que o pessoal fala lá no MP.

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