Capítulo 5 | Maestria

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Um, dois, pausa para um giro calculado

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Um, dois, pausa para um giro calculado. Embaixo da aba curvada do boné seu rosto foi parcialmente escondido, desviando da mira de um conhecido revelado pelas portas recém abertas do elevador no subterrâneo do prédio. Três, quatro, cinco passos, agachou-se para amarrar um cadarço que nem sequer existia em seu par de coturnos. Espiando por cima do ombro, considerou limpo a barra quando as luzes traseiras do carro do Dr. Belizário esmaeceram no topo da rampa, indicando que o promotor havia saído.

Era seguro continuar.

Passava das nove quando Heloise assistiu Marina apagar no meio da leitura de um livro, e aproveitou o momento para escapar na calada da noite. No aguardo do momento certo, à espreita de todos que deixassem o local, delegada Mazza sentiu-se em um episódio de La Casa de Papel, onde inteligência e paciência seriam a chave para o sucesso da missão. Entre um giro e outro, sem ser notada ela saltou para dentro do elevador.

As portas se abriram e revelaram o interior da sede do Ministério Público. O prédio estava deserto, como ela esperava que estivesse. Há duas horas toda a equipe de funcionários cumpriu sua carga horária. Como uma boa policial, havia estudado calculadamente a rota antes de pisar os pés sobre tal assoalho. Descobriu numa conversa descontraída com Marina que o promotor era sempre o último a deixar o MP. Por essa razão, quando Dr. Belizário deu partida e seguiu rumo aos portões, foi sua hora de agir.

Estava ciente das câmeras que registravam ali sua inusitada presença, e por isso apressou os passos antes que tivesse que inventar alguma desculpa a um vigia noturno. Poucas vezes esteve ali, mas sua memória raramente falhava, e não ousaria naquele momento. Guiada pela rota borrada em sua lembrança, em pouco tempo estava diante da porta cujo adesivo identificava a sala como de Marina Campos Chagas, Analista Técnica Científica do Ministério Público de São Paulo. Um sorriso orgulhoso se fez presente em seus lábios. Orgulhoso e efêmero, pois em um segundo os sentimentos de Heloise foram enterrados, e os interesses de Mazza tornaram-se prioridade.

Oito, nove, dez passos, e ali estava, a área restrita que só teve entrada liberada com o cartão roubado de Marina, e a digital colada no sensor pelo durex que Helo carregava na carteira. Seus olhos cresceram gradativamente em expectativa até que acesso permitido apareceu em verde na mini tela no canto direito, e voilá, Mazza estava dentro da sala do promotor.

Acreditando já ter sido vista pelas câmeras dos corredores, agiu rápido. Vasculhou as gavetas atrás de qualquer papelada impressa com a data do dia, revirou a caixa de correspondência, em vão. Olhou no relógio, receosa. Nove minutos. Considerando que o mais atento dos guardas a tivesse notado no momento em que pisou o pé na recepção, e tivesse saído a sua procura imediatamente, lhe restavam nove minutos até que uma caminhada apressada partindo da sala de segurança no primeiro andar a alcançasse.

Com as mãos na cabeça maltratando os cabelos, pôs-se a pensar. Exigindo o máximo de seu raciocínio no menor tempo possível, Heloise se deu conta de que vivia na era digital. Se havia algum inquérito a ser enviado ao Tribunal de Justiça, estaria armazenado no computador. Por um segundo ela parou e refletiu. Sua pequena e bem intencionada investigação acabava de se tornar um crime, mas não pôde evitar. Ao se dar conta, já usava o truque da fita adesiva para recolher a digital do Dr. Belizário da maçaneta, e com sucesso burlou o sistema de proteção da Apple.

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