Raridade é ter a oportunidade de amar um só coração em duas pessoas diferentes.
Oito anos após a morte de seu primeiro esposo, Rara encontra o amor novamente residindo no peito do político Caetano D'Ovant, o receptor do transplante de coração de se...
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
O destino é imparcial. Não assume riscos, não toma lados. Não tem favoritos, não avisa duas vezes, não se obriga a escolher entre bons ou maus. É também autossuficiente. As coisas acontecem por terem que acontecer. Assim, sem sentir que deve um porquê, uma resposta aos clamores de inconformidade bradados ao céu. Apenas segue a linha traçada sem se importar com os destroços deixados para trás. Lágrimas e dor não causam impacto algum.
O destino zomba da humanidade. De tão evoluído, pequenos detalhes como justiça não fazem a menor diferença. Não se importa com o merecer. Ao fim, nada disso importa. Ele sabe, sabe que não somos nada. Que do pó viemos, e para isso voltaremos.
O destino é cruel. Não dá opção de escolha, não abre escapatória. Apenas destina, traça a rota. Abençoado seja aquele fadado ao pôr do sol no fim do arco-íris.
Acomodado no banco passageiro, o corpo de Heloise lutava para acordar enquanto era tempo. Era como se seu inconsciente pudesse sentir o fechar das cortinas, o escurecer do apagar das luzes. A todo e qualquer custo esforçava-se para avisá-la, para fornecer as forças da salvação. Em vão. De nada valeriam os esforços, uma vez que seu inflexível destino foi traçado; que o fim foi escrito antes mesmo do princípio, pensado e calculado nos detalhes por uma mente criminosa.
Um bode expiatório foi a jogada de mestre. Um alguém que não teria voz para provar sua inocência, o culpado que excluiria qualquer outro nome da lista de suspeitos. E ali estava, jazia no banco de trás o cadáver que levaria a autoria do assassinato de Heloise Mazza. Baltazar liberou um riso vingativo ao lançar pelo retrovisor um olhar odioso ao corpo de Maicon Guedes. A preocupação sobre como se livrar daquele vestígio de culpa vinha lhe perturbando a cabeça desde que se viu obrigado a dar um fim a ele.
As imagens ainda eram recentes, frescas na memória que gostaria de perder. Cada vez que fechava os olhos, podia visualizar em sua frente aquele verme se enterrando em sua Esther. Flagrar os dois foi repudiante a um nível vertiginoso. Ódio e rancor cerravam os punhos de Baltazar toda vez que se lembrava do ar de prepotência que exalava daquele moleque. O delegado era a personificação do tipo de homem que ele detestava. Típico cafajeste que não respeita os relacionamentos alheios. Ele não via? Não via que era Esther Montenegro ali? Talvez a enxergasse, mas não se importava. Maicon carregava no pescoço aquele distintivo ridículo pêndulo sobre a nudez do abdômen. Ele a invadia. Uma mão agarrava o cabelo de Esther e o puxava sem delicadeza, a outra resvalava por suas curvas e apertava sua carne com autoridade, ao passo que sua bunda se contraía a cada movimento bruto.
Invadindo, invadindo, e invadindo.
Ela gemia e gritava, e Baltazar tapou os ouvidos e se fechou para a hipótese do prazer. Não, não podia ser. Ela gritava por ajuda, para que tirassem de dentro dela aquele invasor. Em mente, ele repetia a si mesmo que Esther estava livre, que ele a tinha libertado. Não precisava mais fazer aquilo. Nunca mais teria que se deitar com outros homens, que não ele mesmo. Nunca mais ingressaria num casamento indesejado, nunca mais teria que fingir orgasmos com aqueles vermes. Por sorte, ele estava ali para salvá-la.