Capítulo 4 - Os Órfãos

68 2 0
                                    

Marianella tinha aprendido de maneira dura a por freio em suas fantasias. A vida havia sido tão cruel com ela, que foi o suficiente para que não tivesse mais sonhos ou desse atenção aos seus desejos de uma criança normal, o que só lhe causava mais frustração. Então, tentava não pensar em Thiago ou em seus olhos lindos, ou no seu sorriso lindo. Até que decidiu que deveria parar por ali e não fantasiar mais nada sobre o garoto. Sua decisão estava sendo bastante simples, mas quando o via ou ouvia sua voz, tornava-se fácil esquecê-la. Mas era impossível não amá-lo quando o viu com o uniforme da escola.

Cielo havia avisado-o que havia esquecido seu celular na cozinha quando foi tomar o café da manhã, enquanto no interior do pátio Nico estava dando aulas aos outros. Mar foi para a cozinha e viu-o descer as escadas, quase correndo. Ele vestia uma camisa verde, jeans escuro e um casaco azul e vermelho. Seu cabelo era liso e um pouco bagunçado, reparou que estavam molhados, e carregava uma mochila no ombro e um livro em mãos. Ele foi em direção a porta da frente, mas Mar permaneceu onde estava esperando que ele notasse sua presença ali. Quando o livro caiu das mãos dele, Mar se aproximou para pegá-lo.

- Olá... - disse Thiago.

Ela respondeu com um "olá", enquanto abaixava-se e pegava o livro entregando-o a seu dono. A situação entre os dois parecia estática pela falta de respostas da garota, mas ela, quando voltava para a cozinha se perdeu no corredor. Thiago abriu a porta, olhou para trás mais uma vez e saiu enquanto Mar se escondia atrás da parede do corredor para espiá-lo.

De repente, ouviu um grito histérico que a fez dar um salto. Assim que Thiago abriu a porta, havia uma garota muito magra, alta, com cabelos lisos e pretos. Ao lado dela estava um menino com cabelos também lisos e pretos, bochechas grandes e um sorriso vitorioso. Ambos vestidos com o uniforme da escola de Thiago.

- Thi! Você voltou! - exclamou a garota com a voz irritantemente fina, se pendurando no pescoço de Thiago, abraçando-o firmemente. - Você está até se parecendo com um inglês, fofo! - Thiago sorriu, agradecido pelo elogio e a amigável saudação.

- Oi, Tefy! - Disse Thiago que, em seguida, olhou para o amigo, que parecia incrédulo, os dois sorriram com cumplicidade e suas mãos se tocaram em uma afetuosa saudação.

- Mano! - Disse o gordinho.

- Márcio! - Disse Thiago.

E eles se abraçaram forte dando tapinhas nas costas. Ao lado deles, Tefy estava histérica, feliz pelo reencontro dos amigos enquanto Mar observava tudo do corredor onde estava. Thiago e seus amigos eram descolados, bons filhos, ricos, arrogantes e altivos. Thiago parecia não se encaixar nas últimas duas categorias, mas facilitaria se pensasse que ele era igual aos outros.

Os três entraram na casa e foram até a sala, Mar pegou a bandeja com croissants que estava sobre a mesa na cozinha para levá-la para a cozinha e comer um pouco, havia pensado que os outros já haviam ido embora, mas eles ainda estavam lá, sentados nas poltronas, enquanto Márcio e Tefy falavam, começando uma conversa confusa, gritada e ininteligível, tamanho era o número de gírias e palavras em inglês que usavam.

Mar tinha que passar por onde estavam para retornar ao pátio onde os órfãos ficavam, e tentou fazê-lo sem olhar para eles, mas o gordinho, sem dizer nada, pegou a bandeja com os croissants de suas mãos, enquanto Tefy entregou-lhe o casaco e, sem olhar para ela disse:

- Para mim, um café com leite, com mais leite que café, leite desnatado, obviamente, e duas gotas de adoçante, por favor.

Marianella a olhou com ódio, já sentia um certo desprezo por Tefy em particular e os de sua classe em geral, mas agora que fora confundida com uma empregada por Márcio tudo piorara.

Quase Anjos - A Ilha de EudamónOnde histórias criam vida. Descubra agora