182 Days | Larry Stylinson

um

this poem is about a dream
i don't remember

*

"Você tem certeza que quer fazer isso?", eu pergunto à Harry pelo que parece ser sétima vez enquanto nós dois tomamos café da manhã na minha varanda. Eu disse a ele que prefiro tomar café da manhã na mesa da cozinha, mas como ele gosta da varanda então eu disse que poderíamos vir até aqui uma vez na semana, como hoje, nas quintas. Ele sempre fica limpando as folhinhas amarelas do ipê enquanto eu falo e tomo chá de camomila. Faz isso o tempo inteiro e, quando termina, me responde somente dando tempo para que outras voltem a cair outra vez. Está fazendo isso agora enquanto eu falo. "Eu vou entender se você não quiser. Você sabe que eu vou, não é?" 

"Nossos seis meses acabam hoje." Fala lentamente e eu noto que nunca lhe disse que gosto do modo como a sua boca mexe quando fala comigo. É bonito e agridoce o modo como ele consegue dizer algo doloroso como se fosse suave e perspicaz. Eu me perco o tempo inteiro enquanto ele fala, ele sabe que sim e, ás vezes, a voz na minha cabeça pergunta se ele não faz isso de propósito. "O teste é nossa única chance, Louis." Harry empurra as folhinhas amarelas e, mentalmente, eu anoto que tenho que limpá-las antes de sairmos. Se sairmos. Se ele não desistir no meio do caminho. "Quero fazer isso com você."

"Também quero fazer isso com você", eu murmuro, puxando mais as pernas para cima da poltrona frente a mesa. Harry sempre diz que gosta do modo como eu cruzo as pernas quando estou comendo alguma coisa. Harry sempre trás a poltrona para a varanda para que eu possa sentar nela porque uma vez eu disse que as cadeiras de ferro machucavam minhas panturrilhas e deixavam meus calcanhares roxos. Gosto quando ele faz as coisas por mim. "Quero fazer isso com você", repito outra vez porque estou, de novo, com a coisa de ficar repetindo as frases por achar que elas nunca saem certas da primeira vez. Faço isso o tempo inteiro e fico me perguntando se, na verdade, Harry acha irritante mas não tem coragem de me contar. Eu sempre peço para que ele me conte. Sempre. Mas acho que ele mente porque, se não, me contaria elas o tempo inteiro. 

"Então vamos fazer isso juntos, certo? Eu e você?", diz outra vez. Seus lábios formam um biquinho quando ele quase sussurra o 'você' no final. Acho que faz essas coisa e nem nota, mas me deixam completamente maluco. 

"Se não dermos certo juntos você vai ter que ficar aceitar quem o governo te oferecer."

"Vamos dar certo juntos", assegura. Ele sabe que eu não acredito, então diz de novo: "Vamos dar certo juntos." Faz um tempo que eu lhe contei sobre a coisa de repetir as frases. Na maioria das vezes ele faz isso pra me divertir, mas não como agora. Quando ele quer me divertir ele fica sorrindo como um gato Chesire e seus olhos brilham o tempo inteiro. Ele repete quando sabe que sinto medo e eu fico com medo o tempo inteiro. 

"Você não iria gostar de mim se tivesse que me  conhecer de novo."

"Você está errado." Harry tira uma folhinha amarela de ipê do meu cabelo. Ele está sorrindo. É o tipo de pessoa que faz isso. "Gostaria de você um milhão de vezes. É só um teste, nós vamos passar." 

"Tudo bem", eu minto e ele beija minha testa. Uma, duas, três vezes.

"Eu gosto de você", Harry sussurra nosso pequeno eu te amo. Secreto e baixinho para que as câmeras não escutem. "Em qualquer lugar." E de novo: "Em qualquer lugar."

"Tem folhas de ipê no chá. Quero ir pra casa." Digo. Rápido demais. Eu sempre sou rápido demais. As vezes eu acho que ele mente quando diz isso, mas não me importo. Não muito. Porque Harry tem certeza que não e eu sempre tento acreditar em tudo que seus lábios dizem quado se mexem.

"Certo." Sua mão ajeita meu cabelo. "Nós podemos ir pra casa agora." 

Respiro fundo quando seus dedos ornam aos meus. Faço isso doze vezes até que consigo olhar para Harry de novo. "E-eu... Eu também... Eu também gos-"