seis

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my heart is on fire with the blue flame of paranoia

"Não vou embora, Lou." Harry tentou outra vez, puxando as minhas mãos para as suas com uma urgência que gritava mais do que seu tom de voz nos meus ouvidos. Fazia minha cabeça querer explodir. "Você não pode me expulsar. Preciso de você." 

"Eu posso." Respiro fundo, tentando afastar o cachecol vermelho do meu pescoço porque é como se de repente tudo apertasse demais contra os meus ossos e os partisse ao meio sem a menor cerimônia. "É demais, tudo bem? Você é demais. E enche minha cabeça de esperança o tempo inteiro com toda essa sua coisa de flores e sorrisos bonitos e covinhas e cachos. Não sou o amor da sua vida. Você não pode fazer o teste com alguém como eu, entende?"

Porque estava nevando e Harry ainda era bonito demais e eu só tinha cinquenta e dois dias quando ele me olhou como se tivesse puxado todo o ar dos seus pulmões para fora, com olhos verdes brilhando no estopim de um incêndio que eu havia causado. Queria poder magoá-lo para que fosse embora. Queria que entendesse que pessoas como ele não simplesmente acontecem com pessoas como eu e que realmente entenderia se ele desistisse de tudo agora. Se desistisse de mim agora.

"Então é por causa disso?" Ele ri com ironia, seus lábios dizem algo e suas mãos envolvem o cachecol no meu pescoço outra vez quando uma rajada de vento faz com que minhas bochechas esquentem, faz isso tão perto que posso sentir o cheiro do seu shampoo no meu nariz.  "Está realmente brigando comigo por que disse que queria fazer o teste com você? Consegue notar o quanto isso é idiota?" 

"Não é idiota." Encaro os meus pés, sentindo meus lábios tremerem quando começo a chorar como uma criança meio perdida no meio da rua, sabendo que o olhar de Harry ainda queima sobre cada milímetro do meu corpo ao arrastá-lo para fora da neve, dentro da nossa varanda. 

"O que diabos acha que está fazendo, Louis?"

"Mandando você embora." Digo, esfregando minhas mãos contra o rosto. "Vou... V-vou deixar o governo escolher alguém para mim, eu decidi isso. E você- você pode encontrar outra pessoa, certo? Você pode apenas..."

"Não quero encontrar outra pessoa. Quero ficar com você. Estou aqui há tanto tempo que não me imagino indo à outro lugar. Não posso te deixar estragar isso só porque acha que não mereço te ter por perto. Não pode brincar assim, Lou." 

"Sou bagunçado. Vou foder com a sua cabeça e você vai ir embora e a única diferença entre eu te mandar ir e você sair por vontade própria é que, pelo menos agora, eu sinto que estou preparado para me machucar." 

"Você tem que parar de fazer isso, tudo bem?" Harry passa suas mãos por entre os cachos cobertos de neve, não parece mais tão animado como duas horas atrás e eu quase consigo ouvir sua mente borbulhar perto da minha. Sinto que sou o álcool colocando sua mente em chamas e, agora, esse parece ser o pior sentimento do mundo. "Você simplesmente tem que parar."

"Não estou fazendo nada, Harry."

"Está usando sua doença. Está dizendo que é a sua doença quem vai foder com tudo, não você. E se você diz que eu mereço o mundo, por que não posso te ter também? Tem que parar de usar seu TOC como desculpa para as decisões que tem medo de aceitar e para as coisas que tem medo de ouvir. Precisa aceitar que estou apaixonado por cada parte de você, desde os seus olhos azuis até o jeito com que você bate nos joelhos e fica duas horas inteiras acordado só para se perguntar se apagou ou não as luzes da sala. Não pode me impedir de sentir isso."

"E se der errado?" Ele segura minha mão, negando com a cabeça mais vezes do que acho que posso contar. "E se o resultado disser que não sou eu e que você perdeu a chance de encontrar alguém que realmente te ame?" 

"Sou egoísta o suficiente para ficar com o que eu quero até que isso se torne o que eu preciso, entende? E eu meio que quero você agora, Louis. Só preciso que me queira de volta também e eu moveria montanhas por isso." Harry beija a minha testa. Quatro vezes quando na quinta ele diz: "Metaforicamente falando."

*

"Você tem tipo, essa coisa de síndrome de inferioridade, sabe?" Niall fala, deitando sua cabeça loira contra a mesa de vidro ao tomar um gole de café latte e sorrir. "O que eu entendo, é o mau do século e coisa e tal, mas quando você encontra algo bom, Louis, e esse algo bom quer ficar com você apesar de todas as partes suas partes fodidas, tudo o que você faz é aceitar, entende?"

"Aceitar?" Murmuro, batendo meus polegares contra o copo de chá e olhando o garoto loiro na minha frente. Niall, depois de Zayn, é a melhor pessoa para dar conselhos. Ele faz isso desde um mês atrás, quando Harry também decidiu que não seria tão ruim caso eu tentasse entender alguma coisa sobre flores. Com um botânico de verdade. Que, por algum acaso, também era formado em psicologia.

"Isso. Foi o que eu disse."

"Entendo." Bato os dedos contra o vidro outra vez. Alguém que aceite minhas partes fodidas. "Você já encontrou seu par, Niall?"

"Não." Ele dá de ombros, como se fosse algo simples.

"E se eu fosse seu par? Tipo, com a PsiFeel e tudo mais, e se você fosse ser o escolhido para ficar comigo?"

Niall pensa um pouco, segurando o copo de café entre os seus dedos pálidos. "Pouco provável."

"Por quê?"

"A Psifeel tem furos como todo sistema, você sabe."

Bato os dedos de novo.

"Furos?"

"É. Eu sou arromântico, Louis. Tipo um bug meio intrometido dentro do jogo que o governo quer jogar."

"Mas você tem vinte e um anos, Niall. Quase vinte e dois." Franzo as sobrancelhas. "Você não faz o teste?"

"Tenho vinte e um há um bom tempo, também. Tecnicamente, eu não tenho um par compatível."

"E o que acontece se você não tem?"

"Eu espero eles aceitarem isso. E fico... Aqui. Gosto da floricultura. De verdade." Ele passa as mãos pelos cabelos quando sorri, terminando seu copo de café. "Tem sorte de ter o Harry. E de gostar dele. Não deveria desistir disso só porque pode ou não dar errado."

"Mas e se der?"

"Então você foge, menino-perdido. Pula o muro e o que quer que tenha depois dele."

"E por que você não pula o muro também?"

"Porque esse não é o tipo de rebelião que se pode fazer sozinho."

182 Days | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora