1 - Melhor Amigo? -

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   Ainda me lembro da primeira vez que vi aquele loiro de riso fácil... Eu era muito novo pra entender, mas hoje eu sei que tinha sido amor a primeira vista...

   Eu estava na pré escola ainda, tinha 9 ou 10 anos, não lembro direito. Só lembro que eu era zoado muito e todo o tempo. Eu sempre fui mais alto que o normal. Era também magro e desengonçado, o que me tornava o "vareta", "cipó","Pau de sebo..." A criatividade das crianças ruins sempre são ricas e tive dezenas de apelidos durante minha infância.

   Nesse sábado que mudou minha vida eu empinava pipa num terreno baldio perto da minha casa. Naquele dia ele estava deserto, havia chovido de manhã então ele estava todo barrento. Esse terreno era o "parquinho" do bairro. A garotada colava lá pra fazer guerra de mamonas ou brincar de pique-esconde.

   Você pode estar se perguntando: "nossa, tão novo e podia ficar sozinho longe de casa?". Hoje uma cena dessa viraria um post indignado no Facebook ou Twitter sobre pais relapsos e tal. Onde já se viu deixar um menino tão novo andar sozinho por aí!?

  Hoje as crianças ficam enfurnadas em casa, jogam seus campeonatos no X Boxs, mexem nos seus iPhones ou fazem amigos virtuais. Há 10, 12 anos atrás nada disso existia! Os amigos feitos eram reais e o futebol cansava o corpo todo, não só os dedos.

   E a criminalidade era bem menor também.

   Por isso não achem que meus pais eram maus pais. O mundo era diferente.

   Eu estava tão concentrado na minha pipa preta com listras brancas (vai Atlético!) Que nem reparei num grupinho de arruaceiros se aproximando.

   - Ei! Olha a Olívia Palito ali! - zoou um deles e os outros 4 caíram na risada.

   Era os meninos da rua de trás da minha. Um bando de molecotes de 10 a 14 anos que não tinham o que fazer num fim de semana e por isso viviam enchendo o saco das outras crianças.

   Tentei ignorar os bobões e comecei a puxar minha pipa de volta. Eles se aproximaram de mim rindo e me "elogiando".

  - Você é tão fino que se cair deve quebrar em dois. - disse um deles parando na minha frente.

   - Haha, que engraçado - Rebati com um sorriso amarelo.

   - Bela pipa que você tem vara-pau. - o maior deles parou do meu lado e observava o céu com interesse.

   Senti um início de medo e raiva. Eles iam roubar minha pipa.

   - Posso brincar um pouco com ela? - ele tentou pegar o rolo de linha da minha mão mas não deixei. - Ei! Não seja egoísta!

   Ele deu um tapa na minha mão com força e o rolo saiu meio voando meio quicando pelo terreno.

   - Minha pipa! - olhei com raiva pro grandão (que era um pouco menor que eu mas bem mais velho e encorpado) e lhe dei um empurrão. Ele mal se moveu.

  - Quer brigar, Vareta?

   Senti alguém me segurar os braços e o Bully me deu um cascudo forte na cabeça. Esperneei tentando me soltar mas não chorei, não ia dar esse gostinho. Os meninos riam e davam tapas na minha cabeça e o maior me dava alguns chutes. Como eu queria ser mais forte, mais...

   Uma pedra passou voando na minha frente e acertou a orelha do grandão. Ele gritou de dor e se agaixou se protegendo. Aproveitei a confusão e consegui me soltar dos garotos.

   - O que vocês tão fazendo é covardia! - uma voz fina gritou.

   - SEU CUZÃO! - o mais velho tampava a orelha atingida.

Crônicas de Léo - Vol 2: Luka Onde histórias criam vida. Descubra agora