Lapso

O leilão dos segredos.

Pois se a vida é para ser vivida brindaremos. Se acaso as lágrimas surgirem procuraremos lenços. Mas se o dinheiro fizer de mim um outro ser que eu aprenda a deixar o passado, sem remorsos, sem pena, apenas perseverança, mas nunca piedade. V de Vida, V de Vingança, V de Vitória.

Certa vez Debby me disse que o quê me torna cruel é a minha capacidade de raciocinar cada pequeno ato maldoso e ainda sim cometê-los, a perfeita consciência é o quê me torna a vilã dessa história, da história da minha vida.

Mas era a vilã, era eu que estava alí com uma peruca loira às escondidas, parada em uma floricultura comprando cravos na cor rosa

Ala 7, lápide 265.

— Reymond, não conseguir derrubar uma lágrima em um momento como esse é requinte de crueldade? 

Sentei na grama ainda molhada do sereno da noite, em frente à lápide  daquele que um dia eu chamei de pai.

— Você  acha mesmo que eu sou só  essa casca-dura?  Por acaso eu sou oca por dentro ?

— Pois se você achou que sim é isso mesmo,  eu sou oca, isso aqui começou quando eu nem sabia o quê queria ser da vida

Desceu pela garganta mais um gole fundo da garrafa de whisky.

— E sou eu uma desgraçada cheia do dinheiro - A minha risada alta competia com o sopro forte do vento.

— DES-GRA-ÇA-DA

Mais um gole fundo.

— Mas milionária,  sabe papai eu nem deveria estar aqui, conversando com um morto frio...É só  falta eu estar morta - Me afundava cada vez mais em risadas falsas- Porquê fria eu já  sou né!? 

— Mamãe me disse no domingo que eu não sou a filha que ela queria ter,  você  acha mesmo que eu me importo? 

— Amanhã aqueles  idiotas  que trabalham  comigo  vão  dar um fim na Julie, a vagaba.

— E aí eu terei tempo para fazer o que eu quiser, tempo e dinheiro

— Matt me ligou ontem para me acusar de sabotar o carro da mulherzinha dele, caralhos que eu iria fazer algo para aquela sonsa, ela se estraga por si só

— E meu trabalho é  bem feito, ela teria morrido se tivesse meu dedo no meio, até seria bom, aquele idiota voltaria a trabalhar para mim, voltaria a me respeitar.

— Você lembra da morte da mãe dele?  Ele surtou, jurou vingança, Sophia se sentiu culpada por tudo aquilo, um blá blá blá, agora vive aí cheia de problema

— E mais uma vez eu sou a ganhadora, tenho a melhor vida, a vida que eu quero

A garrafa esvaziou, joguei os cravos na lápide sem nenhum zelo, entrei no carro, o destino era meu apartamento, apaguei da memória aqueles últimos minutos, como se nada daquilo tivesse acontecido um dia.

13:28

Chamada de Merli.

Esqueci de deixar o celular no mudo. Ahh não! 

— Alô? - a voz sonolenta

— Você está dormindo Bonnie?  São 13:28 da tarde ! - Minha irmã sempre colocando ênfase em frases simples

— Tudo bem Merli? - A frequente irônia.

— Bonnie, você tem que crescer, é por isso mesmo que estou te ligando, consegui um emprego para você

— Ah é ? Me fale mais - Como se eu realmente quisesse um emprego, apenas dei corda a sua ilusão - Estou curiosa

— Lembra do restaurante do Eslo?