Paris nunca me cansa, a típica cidade da luta, de guerras e grandes feitos, de revolucionar, a cidade das luzes, o ar frio sendo disputado pela brisa quente que atravessa as padarias deixando o cheiro irresistível de croissant em cada esquina
— Só de pensar nesses croissants eu engordei umas gramas - Era Clara tentando resistir ao cheiro tentador
— Então engorde comendo, assim vale mais a pena
— Não esquece que não podemos perder o foco, essas gulosemas não pertencem ao nosso mundo
— Blá Blá blá, pois se você não come, eu como por nós duas, quero dois, um doce e um salgado - guardei o óculos de sol na bolsa me encaminhando para a porta da padaria
— Sophiaaaaaaaaa !!!!
Entrou por um ouvido e saiu por outro, eu já estava na fila atrás de uma senhora com um gato no colo, não sabia que permitiam a entrada de animais em estabelecimentos como esse, a vigilância sanitária não deve estar de acordo com tal feito
— O lançamento é essa noite, não posso deixar que coma uma bala à mais do que a nutricionista permitiu, sabe que se comer essa porcaria vai ficar uma porca, enorme de gorda
— E a minha vontade onde que fica ?
— A sua vontade eu não sei, mas o dinheiro cai direto na sua conta, a sua imagem vai repercurtir o mundo inteiro em questões de segundos, os críticos atentos a cada pequena falha, os alfaiates com os olhos pregados em cada fio do seu vestido, e todas as barangas prontas para dizer o quanto você engordou, então me poupe da suas vontades, elas pouco me importam, mas cada grama à mais no seu corpinho é mais trabalho para mim
—Pensei que você recebesse por isso, e estava enganada sobre seu trabalho, porque achei que você era minha acessora não uma nutricionista, uma personal ou qualquer coisa desse tipo
— Não seja assim Sophia, não seja egoísta, eu cuido da sua imagem, tenho toda a responsabilidade do que pensam sobre você, dos rumores que correm por cada página, em cada programinha meia de boca de fofoca, estou te defendendo, é difícil notar ? - Ela pegou o dinheiro da minha mão, rasgou como se fosse um guardanapo, ou melhor como se não valesse nada - Você não vai comprar isso, nem donuts, pizza, cheetos ou mato, absolutamente nada
O clima fechou entre nós, não era uma tempestade em copo d'água, era um temporaral daqueles, cheio de raios, trovões e furacões saindo em forma de palavras
— FODA-SE FODA-SE. - Eu gritei olhando bem no fundo dos seus olhos, virei para o lado para retribuir osolhares curiosos sobre mim - Vocês acham que minha felicidade é importante?
Acredito que o espanto total paralisou eles, o silêncio foi a resposta imediata
— Sophia não seja patética, está crescidinha para espetáculos, se controla
Insisti na minha pergunta :
— Vocês acham mesmo que eu sou feliz ? Que eu acho meu corpo perfeito? Me diga vocês acham que eu queria estar aqui? - A euforia tomou conta do meu ser, do meu canal sanguíneo
Uma voz do fundo se arriscou bem baixinho : " você tem tudo"
O rapaz ficou surpreso ao perceber que sua resposta não soou tão baixo pois eu escutei
— Não, eu tenho dinheiro, fama, sucesso, mas eu não tenho amor, nem tempo para mim, não tenho vontades, eu já não sei o que é vir de pijama na padaria - me referindo a adolescente que estava sentada na primeira mesa do local, vestida com um pijama de bolinhas, uma pantufa do Mickey e os cabelos presos em um coque desleixado, se alimentando como se estivesse largada no sofá da sua própria casa - ou beber em uma madrugada pelas ruas da cidade pacata onde eu cresci sem ter um paparazzi me perseguindo, acordar na manhã seguinte e ver manchetes falando da minha noitada irresponsável, nem um doce eu posso comer sem ter alguém me vigiando, me sinto como uma bandida quando paro em um aeroporto e peço um cappuccino caprichado na espuma
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Lapso
Misterio / Suspenso"Quem eu sou? Isso é uma das milhares de perguntas que eu não irei responder, mas se quer saber o porque eu estou aqui sente-se e escute toda a história, aviso somente que são muitos suspeitos e cabe à você decidir quem é o culpado, de mim só irá s...