“Charlie?” Ele diz, mas quase não o ouvi, os meus sentidos estão muito perturbados.
“Charlie fala comigo.” Ele diz, agarrando os meus braços e abanando-me.
“Sinto muito. Sinto mesmo muito.” Começo a murmurar, apertando a minha cabeça para sacudir os pensamentos da Ellie, mas desta vez não param. O seu nariz sardento e os olhos penetrantes são agora a minha visão. Posso ouvi-la rir e isso soa quase real.
“Pensei que o teu nome era Charlie Wilson.” Niall sussurra dando um passo para trás. Balancei a cabeça. Não tinha percebido que estava a chorar até o Niall puxar um lenço do bolso e dar-mo.
Não quero que ele saiba. Não quero que ele pense em mim dessa forma. Porque eu sei o que isso faz com as pessoas. Dez anos mais tarde e as pessoas ainda me olham com pena. Não mereço pena. Devia ter morrido com a Ellie.
“Niall.” Respiro, com medo que as minhas palavras possam reprendê-lo. Ele não responde, só olha para mim com os seus olhos frios, de cristal.
“Procura Charlie Parker na internet. Depois vais saber.” Sussurro, rasgando os meus olhos nos dele. Começo a preocupar-me com isto, que ele chame a polícia e eu seja mandada de volta para casa, para um lugar de miséria e arrependimento.
“Não vais entender, mas menti por alguma razão.” Digo e Niall lança um longo, retido suspiro.
“Mentir? Tu mentiste a cada segundo que tiveste comigo. Para ser honesto, talvez tu sejas perfeita para o Harry.” Ele diz, balançando a cabeça.
Antes que consiga ter controlo em mim e responder-lhe, ele vai embora.
~
Em vez de tentar voltar a dormir, o que é inútil, porque a Jo ressona como um burro, pego no meu maço de cigarros e faço o meu caminho para o pátio.
Sento-me num banco debaixo de uma árvore de flor e acendo-o. Nem sei que horas são exatamente, mas sei que é cedo devido ao facto de ninguém estar cá fora.
“Leva-me embora.” Sussurro ao meu cigarro e acendo-o.
“Fumar é mau para ti, tu sabes.” Ouço alguém dizer. Viro-me e vejo Zayn, a usar uma camisola de capucho com os seus headphones à volta do pescoço. O meu corpo fica tenso quando ele se senta ao meu lado.
“Podes-me dar um?” Ele finalmente pergunta. Olho para ele perturbada e ele ri.
“Só porque é mau para a minha saúde, não quer dizer que vá parar.” Ele dá de ombros, pega num cigarro do meu maço e acende-o. Assinto com a minha cabeça concordando com ele e acabo o meu cigarro. Desajeitadamente, levanto-me e amarro o meu cabelo num rabo-de-cavalo.
“Espero que sabias que ele não vai descansar enquanto não fores a esse encontro com ele.” Zayn ri entre o fumo do cigarro.
“Simplesmente não entendo. Porque eu?” Murmuro, totalmente frustrada.
“Acho que o fazes lembrar alguém.” Ele encolhe os ombros, a minha mente congela.
“Ele não foi sempre assim, sabes.”
“E tu?” Pergunto com as sobrancelhas levantadas.
“Eu o quê?”
“Todo tatuado e mau.” Sorrio.
“É tudo uma capa.” Ele encolhe os ombros com indiferença.
“Como assim?”
“Quem sou por dentro, é diferente de quem sou por fora. Obriguei-me a mim próprio a olhar para este lado… então por dentro nunca poderia ser como sou por fora.”
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