14. "Golden Locket"

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Harry’s POV

“Não sejas estúpido Harry.” Ouço a voz da Julia na minha cabeça. Ignoro imediatamente, guiando para a pista lateral ficando ao lado de um dos pilotos da Liyala.

“Tens que me deixar ir Harry.” Ela sussurra, com uma pitada do riso dela na voz. Aperto a minha cabeça com a mão esquerda e tento sacudi-la dos meus pensamentos. 

Tinha feito tão bem. Tinha-me esquecido dela, empurrei-a para fora da borda do meu coração por meses e meses.

E depois, Charlie apareceu. 

Fecho os meus olhos e abro-os com fúria, com foco nesta corrida. A Julia foi-se. A Charlie não é a Julia, nem quero que seja.

Não preciso de ninguém; não quero nunca mais amar alguém novamente. 

Olho para a minha direita, estreitando os olhos para o outro corredor e pressiono ainda mais o meu pedal de gás. Ele pressiona o dele também. 

Pressiono o meu até 120 e como estou suficientemente à frente dele para o passar, para passá-los a todos, o topo do carro dele bate ao meu lado. 

Sinto-me girar, algo como um carrossel mas muito pior. Depois, estou invertido. Imagino que estou a morrer. Antecipo o que vou ver, vou ver a Julia à minha espera, dando-me as boas vindas para me juntar a ela num lugar magnífico. 

Dizem que quando morres, por sete minutos a nossa vida inteira passar à frente dos nossos olhos. Isso significa que ia ver tudo de novo. Ia ver as caras sorridentes da família que tinha. Ia ver os momentos mais felizes da minha vida juntamente com os piores. Estou quase contente com isso, morrer e reviver a minha vida em sete minutos felizes. Mas a alegria desaparece quando não vejo nada. Não vejo o primeiro encontro que tive com a Julia. Ou o dia em que a Gemma me assustou tanto que mijei nas calças. Não vejo o raio de luz onde a minha mãe se importava ou quando a Gemma me fez ir para o clube do livro e depois quando terminei o maldito livro estava tão louco com o final desastroso. 

Sinto-me como se tivesse caído no esquecimento. Estou tão perplexo que quero rir, mas não sinto nem os meus lábios. 

Onde estão os meus lábios? O que são lábios?

Sinto vontade de rir, porque devia ser comediante.

Cabras adoram comediantes. 

Todo o meu corpo está dormente, e acho isso muito engraçado. Tento dizer ao meu cérebro para abrir a minha boca, mas está a rir de mim. Centenas de pequenos cérebros dançam ao redor da escuridão aquecendo os meus olhos e estão todos a rir-se de mim.

Estou a ter alucinações. 

Não posso deixar de participar e rir com os cérebros tolos. Claro, realmente não rio, mas imagino que sim. 

Quando as imagens de cartoon dos cérebros engraçados diminuem na minha cabeça, começo a ouvir barulhos. Concentro-me o suficiente até que possa ouvir claramente as vozes em pânico ao meu redor, os sons das respirações pesadas fazendo eco nos meus ouvidos. Tento falar, abrir a boca, mas nenhuma palavra consegue escapar dos meus lábios. O sono está lentamente a persuadir-me. Concentro-me na escuridão atrás dos meus olhos, lutando para inalar o oxigénio da máscara ligada à minha cara.

Então é aí que os meus lábios estão.

Sinto picadas na minha pele, líquidos a ser baleados pelos meus braços. O meu corpo está lentamente a ficar limpo à minha volta, afundando na escuridão, uma escuridão a sorrir para mim, dando-me as boas vindas com um sorriso. Pensei que a morte vinha mais rápido, mais facilmente, que não ia ter tempo para abdicar. Mas a minha mente está a fechar, lentamente, calmamente. Então sinto uma mão levemente a apertar-me para ser enviado para a escuridão.

Charlie’s POV

Oiço o batimento cardíaco irregular do Harry. A minha cabeça repousa no colo dele, enquanto ele está a dormir, na cama de hospital. É meia noite. 

A porta range abrindo-se e preparo-me para ser expulsa, mas vejo um rosto desconhecido. Levanto a cabeça da cama do Harry e pisco para ele.

“Ele estava a competir outra vez, não estava?” O homem sussurra e dá-me um olhar duro, como se eu fosse a pessoa que o pôs no carro. Ele está bem vestido com uma fato longo preto e de seda. Ele pega no telemóvel e mexe nele violentamente, mal olhando para mim.

“Quem é o senhor?” Pergunto.

“Devia estar eu a perguntar-te isso.” Ele diz, tirando o casaco e endireitando-o antes de o pendurar. 

“Sou uhm… amiga do Harry.” Digo, quase engasgando-me. Para ser honesta, não sou nada ao Harry. Este pensamento dói-me. Nem devia estar aqui.

“Sou o padrasto dele.” O homem dá de ombros.

“Oh, é um prazer conhecê-lo.” Murmuro ao homem e ele volta a olhar para o seu telemóvel.

À pressa, ele responde e geme. “Ouve, diz ao Harold que vim e para ligar à mãe dele. Ela está preocupada, mas agora está num desfile de moda muito importante e eu tenho que ir para o escritório. Não o deixes sair daqui até que ele lhe ligue.” Ela resmunga. Nem sequer tenho a hipótese de responder antes de ele ir.

“Já foi?” Ouço um sussurro atrás de mim. O Harry tem um olho aberto quando olha para mim.

“Harry!” Quase grito, saltando para cima da cama dele.

O Harry instintivamente envolve os braços dele em volta da minha cintura e o meu corpo treme. Escorrego do seu corpo para o chão, arranhando o meu cotovelo.

“Eu não queria fazer… Eu não estava a pensar em…” 

“Está tudo bem Charlie.” Ele ri. 

“Há quanto estavas acordado?” Sussurro. 

“Só há um minuto, vi-o ao telefone e fechei logo os olhos. A minha cabeça está a latejar.” Ele sussurra.

“És um idiota. És um idiota, não posso acreditar que farias algo tão perigoso. Não sabia que tinhas um padrasto. Porque é que não o queres ver? Estás bem? Doí-te alguma coisa? Os médicos disseram que podes ter alguns problemas de memória nos próximos dias e…”

“Charlie.” Ele interrompe, com a voz tão baixa que só a minha respiração apanha.

“Não ignores as minhas perguntas. Preocupaste-me.” Mordo o meu lábio. Não sei porque é que disso isto e não sei porque é que não me sinto estranho por dizê-lo. Os olhos do Harry estreitam e caem dos meus olhos para o meu pescoço.

“Tens uma cicatriz no pescoço.” Ele franze a testa. Rapidamente puxo para cima a minha casaca de couro para cobri-la. Não posso deixá-lo saber de onde vem.

“Estás bem? Lembraste do que aconteceu?” Sussurro novamente, sentando-me ao lado dele.

“Sim, estava a tentar mostrar-te.” Ele bufa. Não posso deixar de sorrir para o rapaz à minha frente. Este é o Harry, bem um dos tons do Harry, acho que é o… tolerável.

“De que mais te lembras?”

“Eu não estava a pensar direito… estava a pensar na Julia e depois… depois estava a pensar em ti. Ouvi um monte de coisas e tudo estava escuro, não sei, acho que alguém me injetou porque porra, o meu braço dói.” Ele sussurra. Não percebo, mas penso que o Harry está a delirar do acidente e é por isso que ele está a dizer isto.

“Harry.” Sussurro, abanando a cabeça.

Tenho tantas coisas que gostava de dizer.

Não te posso conhecer, Harry. Não devia estar aqui, Harry. Não sou o que tu pensas, Harry. És tudo o que eu quero esquecer, Harry. Assustas-me, Harry.

“Um encontro Charlie. Se depois me odiares, prometo que nunca mais falo contigo.” Ele murmura.

“Não posso.” 

“Tu fazes-me… sentir de novo. Não quero ser o idiota do bar com o braço tatuado e sem uma visão sobre a vida. Tu… não sei Charlie, tu odeias-me e eu… adoro isso? Não podes dizer não a um aleijado.” Ele ri de si mesmo. Deixo escapar um riso leve e balanço a cabeça. 

“Não és um aleijado. És um idiota.” Sorrio.

“Por favor Charlie.” Ele diz.

“Não posso ser a tua Julia, Harry.” Sussurro.

“Mas podes ser a minha Charlie.” Ele diz, olhando para os meus olhos, arrastando-me, segurando-me tão perto que se tentasse, não me conseguia afastar.

Levanto-me da cadeira e limpo o meu resto, com medo de mostrar qualquer efeito da emoção. Ele não entende porque não posso, porque recuso. Há tantas razões que não fazem sentido. 

Quando giro o puxador da porta ouço o Harry suspirar. Viro-me e olho para ele, apanhando os olhos dele no meu corpo, onde não deviam estar.

Quem és realmente, Harry Styles?

“Um encontro Caracóis.” Finalmente digo e vejo o rosto dele iluminar-se com surpresa.

Vou embora antes que me possa arrepender do que acabei de dizer.

Um encontro. Um encontro e, depois, ele pode deixar-me em paz e eu posso fazer algo por mim nesta cidade linda. Um encontro e, depois, Harry Styles pode seguir em frente e encontrar alguém para o consertar.

Um coração partido pode encaixar-se noutro coração partido… mas vai haver sempre aquela lágrima no meio, não totalmente curada, apenas à espera da próxima oportunidade para rasgar novamente. Para comer a parte interior e rasgar a única parte do coração a bater pelos dois.

Pessoas magoadas não podem corrigir outras pessoas magoadas.

Aprendi a não esperar pelo impossível.

~

Até chegar ao dormitório é quase uma hora.

“Ele está bem?” A Dominique praticamente me ataca quando entro pela porta.

“Acho que sim. Ele parecia bem.” Sussurro, bocejando.

“Oh, bem Lep veio à tua procura.” A Dominique encolhe os ombros e salta de volta para a cama dela.

Lep?

“Niall?” Ela acena com a cabeça e, de seguida, vira o rosto para a almofada.

“O que é que ele disse?” Peço-lhe. A Dominique geme e vira-se para mim.

“Disse que precisava de falar contigo, todo firme. Para ser honesta, ele assustou-me.” Merda.

Corro pela porta e pelo corredor sem pensar um segundo. Corro direta aos dormitórios dos rapazes e controlo a minha respiração ofegante antes de bater à porta do Niall. Espero um minuto ou mais antes que a porta se abra.

Ohhh.
À minha frente está Liam sem camisa e com um sorriso cansado. “Olá Charlie. O que te traz a meio da noite?” Ele diz, tentando mascarar o mau humor.

“Estava à procura do Niall.” Digo sem fôlego. O sorriso da boca do Liam transforma-se em carranca.

“Ele foi há vinte minutos atrás, disse que ia ao teu quarto. Pensei bem, pensei que vocês…”

“Oh não, por favor, não digas isso em voz alta Liam.” Coro e ele ri, depois a gravidade volta para o rosto dele.

“Sabes onde é que ele pode estar?” Pergunto, mordendo o lábio. O Liam dá de ombros e corre de volta para a cama dele, vestindo uma camisola de futebol.

“Vamos dar uma olhada?” Ele sorri. Concordo com a cabeça e sigo-o para fora dos dormitórios dos rapazes e do campus. A minha mente está tão ocupada que nem tive a hipótese de perceber que esta casaca não me dá calor nenhum.

“Ele podia ter ido beber uma cerveja.” O Liam diz enquanto andámos num ritmo rápido. Quero concordar, mas algo dentro de mim sabe que não é o caso. 

“Ok, eu vou verificar o East Study Hall e porque não verificares o West Study Hall e todas as árvores de flor? Ele podia ter ido buscar uma bebida e ter desmaiado. Encontro-te aqui em cinco minutos ok?” Liam instrui e eu aceno. De seguida, os dois começam uma corrida à procura de um homem irlandês pequeno e idiota.

Primeiro procuro na biblioteca e depois, no West Wing mas nada. Depois corro para as árvores de flor e tento digitalizar os meus olhos na escuridão. 

“Charlie.” Ouço novamente; a mesma voz, a que não deixa a minha mente. Olho à volta em pânico e dou um passo para trás. Quero dizer algo como “quem está aí?” ou “não te aproximes” mas não faço. Sei que é na minha cabeça.

Tem que ser na minha cabeça.

“Charlie.” Ouço de novo, mas é uma voz diferente. Uma voz ferida. Uma voz irlandesa. Volto para as árvores e encontro o Niall encostado numa delas. Corro para ele com toda a velocidade, caindo de joelhos. 

“Niall.” Guincho. O rosto dele está magoado, com o nariz e o lábio a sangrar. 

“Oh meu Deus! Oh meu Deus, Niall! O que aconteceu?” Quase choro. Ele está a respirar com força.

“Fui ao teu quarto, mas não estavas lá, então estava a ir de volta para o meu dormitório e ouvi uns sons estranhos. Depois, alguém me empurrou para trás e me atacou. Não conseguia ver nada, nem mesmo um rosto ou qualquer traço para saber quem eram. Eles estavam-me a bater repetidamente, nem conseguia defender-me.” Ele sussurra, estremecendo quando pego no braço dele. 

“Eles deixaram cair isto.” Ele diz, segurando um medalhão de ouro. 

“Tentei abri-lo mas não dá. Não deve ser um medalhão real.” Ele sussurra. Olho para o medalhão e vejo-o balançar. Viro os meus olhos para o Niall e sinto o meu rosto suavizar.

“Niall, eu sinto muito.” Quase choro, retirando o meu casaco e pressionando-o contra o lábio dele. Não posso deixar de me culpar por isto. Se não tivesse ido com o Harry, o Niall estaria seguro comigo no meu quarto. 

“Harry.” Sussurro. O Niall olha para mim confuso. 

“Tinha a sensação que era ele.” O Niall murmura, tentando sentar-se.

“Não, não. Niall… o Harry está no hospital.” Sussurro e os olhos do Niall focam debaixo do luar.

“Então não era o Harry.” O Niall diz, mas não parece aliviado.

Não, não era.

Se não foi o Harry, então quem foi?

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2014 ⏰

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Deception || h.s || Tradução PTOnde histórias criam vida. Descubra agora