A Dama De Leipzig

Capítulo Dois

— Então, Esther, o que precisa? — perguntou Wilhelm, enquanto fumava um charuto.

— De uma carta de recomendação. — disse.

O casal a sua frente ficou com uma perspectiva enorme. Antes que ela completasse a fala, Frida já sabia mais ou menos o que a ex-aluna de seu marido estava solicitando.

— Quero cursar História em Leipzig.

O rosto rígido de Wilhelm Kuh se iluminou e um sorriso largo e divertido brotou em seus lábios. Era tudo o que queria ouvir. A aluna que mais gostava estava seguindo seus passos.

— Oh, mas isso é ótimo! — Frida falou.

— Tenho certeza de que irá conseguir. O curso é a sua cara, Esther.

— Mas para isso eu preciso de uma carta de recomendação e, bem... até agora, nenhum professor quis me dar. Só queria saber se o senhor, mesmo não sendo meu atual professor... digo, do último ano, pode me fazer uma e enviar.

— Conheço que há uma determinada burocracia para isso. — comentou. — Porém, acho que consigo. Fui seu professor por muitos anos e posso atestar que você é apta para o curso.

Esther ficou emocionada por dentro de ver que existia alguém na face da Terra que acreditava nela. Enfim, ela estudaria História.

— Isso é ótimo. — ela disse. — Desculpa minha ânsia, mas o senhor tem noção de quanto tempo demorará?

— Infelizmente, não.

— Ora, mas não deve ser muito. Wilhelm foi seu professor por muito tempo, além disso ele é respeitado no mundo acadêmico. É claro que dará certo, minha querida. — falou Frida.

— Espero que a senhora esteja certa.

— Vou preparar um chá para nós três. — terminou e foi para a cozinha.

O professor Kuh lançou um olhar de satisfação à ex-aluna. Gostava de conversar com ela. Antes que enviasse a carta e tentasse uma vaga para Esther, ele queria testar os conhecimentos básicos da garota acerca da universidade.

Os dois foram andar no jardim dos fundos. Um ambiente tranquilo e requintado, com uma pequena cascata de águas gélidas nessa época do ano e várias flores importadas, entre elas Wisteria e até Umê. Colorido, fazia contraste com a construção em madeira que mais parecia um amontoado elegante de mogno do que um simples chalé alemão.

— Então, Esther, sabe que você fez uma ótima escolha de universidade?

— Sempre ouvi falar maravilhas de lá. — sorriu para o nada.

— Sim, sim. — ele a convidou por meio de gestos para sentar-se no banco de madeira. — Sabe me dar algum exemplo de personalidade famosa que esteve por lá em algum momento de sua vida?

— Claro. Angela Merkel cursou Física lá.

— Ótimo. Bravo. Excelente. Alguém mais?

Esther pensou um pouco mais.

— Nietzsche. Friedrich Nietzsche.

— Deus está morto. — Kuh citou ele. — Continue. Quem mais?

— Há tantas pessoas... Goethe!

— Faust. Bravo! Mais...?

— Vou lhe dizer um ex-aluno notável que combina com a obra de Goethe, professor. Wagner!

— Amo a sinfonia. Antigamente lia Faust, de Goethe, enquanto ouvia Faust, der Wagner. — deu uma breve risada.

— Soube que Leibniz também esteve por lá... há tipo... alguns anos... — ironizou.