Capítulo Seis

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Klaus Sperb bebeu uma xícara de chá de ervas doces e rapidamente contraiu-se em sua cadeira reclinável. Adorava passar o dia em sua sala particular que ficava na sua própria residência. Ela foi inspirada no estilo japonês, contendo todos os tipos de flores típicas da região que foram trazidas por ele mesmo quando esteve no país, durante as férias passadas.

Ele abriu o notebook e começou a analisar os últimos e-mails. No dia anterior, mal conseguira dormir. Esteve junto a sua equipe da Feuerwehr Darmstadt no local onde a igreja frequentada por mais da metade da tradicional comunidade luterana pegou fogo durante a finalização de um culto. Felizmente, houve feridos, mas ninguém morreu. Uma única vítima desaparecera ao entrar novamente na construção em chamas e não ser mais encontrada. Por enquanto, não havia corpo. E, ainda sobre o assunto, vários tenentes, chefes de bombeiros e cadetes tentavam se comunicar com ele.

Sperb era um homem bom, porém não queria falar com ninguém, mesmo que fosse tremendamente preciso. Achava que progredia mais quando trabalhava sozinho e era isso que estava disposto a fazer.

Ele saiu de sua casa no início da tarde, após não almoçar nada. Não importava-se com a fome que sentiria posteriormente. Ele tinha uma única motivação em mente e iria segui-la.

Minutos depois, estava dentro de um metrô. Sentado no vagão praticamente sozinho, ele começou a analisar suas anotações. O nome da garota que estavam procurando era Esther Ruschel e havia completado dezoito anos recentemente, no começo do ano. Todos já haviam concordado que a senhorita Ruschel estava morta, pois não havia como escapar da morte naquelas circunstâncias, mas Klaus Sperb discordava e para comprovar sua tese, iria o quão longe fosse preciso.

De repente, seu telefone móvel tocou. Ele atendeu prontamente pela primeira vez naquele dia.

— Boa tarde, tenente Sperb? — a voz do outro lado da linha falava.

— Sim. Sou eu.

— Precisamos do senhor no quartel agora. Temos mais informações a compartilhar. Acabamos de enviar para o local uma equipe de perícia para analisar o que exatamente causou o incêndio e outra equipe dos bombeiros para tentar localizar os restos mortais de Esther Ruschel.

— Sinto muito, mas não posso ir aí agora. — respondeu ao telefonista friamente.

— É de extrema importância sua presença nesse caso. — a linha ficou muda.

De dentro do quartel, o cadete que encarregaram de telefonar para Klaus Sperb encarou o telefone durante um tempo. Nunca em sua vida viu alguém tão arrogante e estúpido quanto seu superior.

Sperb permanecia sentado no vagão vazio. Seu corpo balançava de forma relaxante a medida que o metrô andava. Ele virou a cabeça para encarar a janela e a única coisa que viu foi a escuridão total do túnel subterrâneo.

Seu destino era avançar para o centro antigo da cidade e falar com os pais de Esther. Ele achou mais plausível fazer um interrogatório com eles primeiro — claro, sempre respeitando a privacidade deles, pois deveriam estar vivendo um momento difícil — e traçar um perfil psicológico para Esther com base no que ouviu. Queria entender suas motivações, seus interesses, tudo. Sperb não se importava em ser considerado louco. Ele tinha uma intuição privilegiada e iria segui-la novamente.

Ao longo da viagem, o telefone tocou mais vezes, porém ele não atendeu. Por último, antes de descer do metrô, ele desligou o aparelho e enfiou dentro de sua pasta de couro.

Quando começou a subir as escadas, foi tomado pela forte luz vespertina. O vento gélido batia em seu rosto. Para reverter a situação, ele sobrou a parte inferior — queixo e boca — com seu cachecol de lã.

A Dama De LeipzigOnde histórias criam vida. Descubra agora