Capítulo dez

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O psicólogo da polícia de Darmstadt pisou na calçada da casa da família Ruschel firme, porém enfraquecido por dentro. Apesar de já ter feito aquilo várias outras vezes, cada vez que levava a notícia da morte de alguém à família da vítima era uma tensão diferente. Cada um reagia a sua forma: às vezes armazenavam a dor da perda dentro de si para depois desabar em lágrimas no conforto da solidão, ou se entregavam ao padecimento diante de todos.

Ele subiu os degraus de madeira incomodado e bateu à porta. Foi atendido por uma mulher loira, pequena e, sem embargo de aparentemente melancólica, muito bonita.

— Bom dia. Sou Adam Necker, psicólogo da polícia. — ele abriu um sorriso simpático.

— Eva Ruschel. — a mulher pronunciou com um tom de voz baixa e retraída, um pouco rouca.

Os dois trocaram apertos de mãos. Ela foi firme nesse momento.

— Eu poderia tomar um pouco do seu tempo, senhora Ruschel?

— Entre.

Ela abriu espaço para que Adam Necker entrasse.

A casa era clássica e bonita por fora, mas do lado de dentro ela estava empoeirada e um tanto bagunçada. Era possível ver a quantidade de pele morta que virou poeira sobre os móveis. A luminosidade era precária: somente a pouca luz exterior que passavam pelas cortinas iluminavam a sala de estar à sua direita; aquilo era como um crepúsculo artificial.

— Sente-se. — convidou Eva. — Vou preparar um chá.

— Não é necessário. Não tenho a intenção de demorar.

O olhar de Eva estava carregado de emoções distintas de todos os tipos. Ela já sabia o que iria ouvir; ela já sabia que jamais teria sua filha de volta. Mas, mantendo-se forte, ela sentou-se no sofá e assistiu o Dr. Adam Necker dar-lhe a pior notícia de sua vida. A notícia mais dolorosa que uma mãe pode receber.

— Senhora Ruschel, eu lamento dizer, mas até então não encontramos sua filha nos escombros. — ele observou os olhos esverdeados derramar lágrimas silenciosas que manchavam seu rosto meio sardento e pálido pelas circunstâncias. — E mesmo se encontrássemos, seriam restos mortais.

Eva colocou as mãos no rosto para conter as lágrimas. Ela demonstrou sua angústia de forma silenciosa e respeitável.

— Joachim está sedado desde domingo. — ela contou. — Ele mesmo já sabe que Esther morreu. Não suporta acordar e enfrentar a realidade. Joseph não fica mais em casa. Prefere estancar a ferida sozinho na casa dos amigos. Eu que fico aqui, solitária e melancólica.

Ela contava tudo enquanto encarava o chão com um olhar vazio. Adam sentiu pena dela, mas observou que era uma mulher forte. Qualquer um desabaria no lugar dela.

— Se precisar de alguma coisa, estou aqui para apoiá-la. Eu e toda a minha equipe. — ele retirou um cartão do bolso. — Qualquer coisa, ligue para nós.

Ela contemplou o cartão da clínica de psicologia forense.

— Estamos à sua disposição. Sinto muito pela sua filha. Melhoras.

— Eu quem agradeço, Sr. Necker.

Ela sorriu tristemente para o psicólogo.

***

Era 7:30 da manhã de quarta-feira. O apartamento de Frank Weber parecia que havia ressuscitado, saído das cinzas e voltado a se tornar um lar confortável e alegre por possuir pessoas  falando dentro dele. Mais do que pessoas: jovens e seus estimulantes assuntos. A época na qual os dois filhos de Weber ainda moravam lá parecia ter voltado.

A Dama De LeipzigOnde histórias criam vida. Descubra agora