A Dama De Leipzig

Capítulo Cinco

— Abram suas bíblias em Filipenses 4:13. — ordenou o pastor Jung. Todos obedeceram.

No instante seguinte, a igreja inteira começou a folhear seus livros sagrados em busca do versículo que Jung pediu. Só se era possível escutar o atrito entre papel e dedo. Quando finalmente todos encontraram, o culto prosseguiu da forma mais tradicional possível.

— "Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece". Irmãos, tem bastante formas de interpretar cada parte da bíblia. Por causa disso, quero pedir um minuto de silêncio. Eu quero que vocês abaixem suas cabeças, repitam esse versículo em suas mentes e reflitam mais sobre ele. Busquem seu ponto de vista único acerca do que foi dito. Eu também irei fazer isso. Após esse um minuto, vamos conversar sobre.

Todos abaixaram a cabeça. Os mais velhos realmente focaram em buscar uma explicação do seu interior, porém os mais jovens aproveitaram a ansa para verificar seus e-mails em seus aparelhos celulares.

Já fazia uma semana que Esther recebeu a melhor mensagem de sua vida até agora. Ela escondeu de tudo e todos. O professor Kuh estranhou a atitude de Esther. Apesar disso, não questionou.

As aulas começariam em um mês, mas o professor recomendou ela a ir duas semanas antes. Ele a assegurou que o reitor Frank Weber iria lhe proporcionar moradia nos anos em que estivesse estudando.

— Ele me disse que irá encontrá-la na estação Leipzig Hauptbahnhof às 10:30 da manhã. Você sairá de trem por volta das 4:20 para chegar mais ou menos nesse horário. Então, ele irá levá-la para conhecer o campus e lhe explicará algumas coisas. — dizia alguns dias antes, enquanto lhe dava algumas instruções.

Ela sabia que a distância de mais de quatrocentos quilômetros entre Darmstadt e Leipzig tinha um percurso de trem pouco mais demorado do que de carro. Eram quase seis horas de viagem até conseguir chegar em Leipzig. Para isso, ela já se preparou. Mas havia algo que lhe preocupava muito.

Esther ainda não tinha planos de fuga. Ela sabia que forjar uma morte levaria muito mais tempo e dificultaria mais a situação. Poderia até perder sua vaga por atraso. Além disso, se um braço direito do professor Kuh iria recebê-la, ela não iria conseguir dar uma de morta, porque simplesmente todos saberiam que ela estava viva.

Enquanto havia uma discussão em toda a igreja luterana por conta de um versículo, em sua cabeça a discussão era muito mais acalorada. Esther Ruschel contra Esther Ruschel. Como prosseguir? Foi nesse momento que ela percebeu que anos de planejamento foram insuficientes. Ela havia fracassado... novamente.

***

Era uma tarde de verão. Estava relativamente quente, o suficiente para Esther vestir um vestido fresco que exaltava suas curvas recém formadas pela adolescência. Apesar de ser uma garota muito fechada, ela atraía olhares masculinos juvenis e até dos mais velhos quando utilizava roupas mais despojadas. Mas ela não queria atrair a atenção de nenhum deles. Só havia um garoto que ela realmente se importava em atrair.

Ela marcara de se encontrar com Bernard em um parque pouco frequentado de Darmstadt, porém muito ruborizado e que tinha lindos bancos com mesas de xadrez entre os cercos de árvores que mais imitavam paredes. Era um típico cenário de um parque russo, local onde os membros dessa mesma nação costumavam jogar xadrez: ao ar livre, em parques ruborizados.

Quando chegou, o parque estava totalmente vazio. Ignorando os alertas da mãe — Eva sempre lhe dizia para evitar aquele parque sozinha —, ela caminhou para adentro do local e foi em direção à mesa mais isolada, que eles sempre se sentavam.

Antigamente, havia rumores pela cidade de que à noite, naquele parque, havia muita circulação de prostitutas. Houve até relatos de que, há muito tempo atrás — quando Esther ainda era uma criança de cinco anos —, elas costumam levar os clientes que menos pagavam para praticar o ato sexual nas profundezas do local. Porém, nada disso jamais fora confirmado e para ela, aquele ainda continuava sendo um local acessível, tranquilo e seguro para encontrar-se com o garoto que amava — e seu melhor amigo.