Capítulo 5: Guerra de sentimentos

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A noite logo caiu e encostado naquela árvore, já familiar, me vi novamente sozinho, enquanto escutava aqueles lobos assustadores uivarem sem parar. Arranquei pedaços do peixe com as próprias mãos — com auxílio da afiada ponta de um dos gravetos —, enquanto pensava nas coisas que não consegui perguntar para Wisdom.

"Por que Lauren derreteu no chão quando Seven surgiu? Por que estou tão triste e ela não tem aparecido mais? Como será que estão minha mãe e meus amigos?"

— Vejo que nossa conversa, de fato, não foi o suficiente para tirar suas dúvidas — disse alguém a sentar ao meu lado.

— AH! — gritei assustado. — É você...

— Por que não fez uma fogueira? De fato, está bem frio por aqui... — Era ele. O grande sentimento da sabedoria: Wisdom.

— Eu não sei fazer como isso, mas já que está aqui... pode me responder umas coisas? — perguntei, mudando de assunto.

— Claro...

— Por que Lauren sofreu tanto com a chegada do Seven? Ela nunca havia sumido daquela forma antes — botei na boca um pedaço do peixe, que veio com espinha e tudo. — É confuso... se vocês não existem, então quem está falando tudo isso é o meu "eu doente" para o meu "eu normal", digamos assim?

— Sim, claro. Quando Lauren o tirou de casa para vir à esta floresta, era você mesmo que comandava suas ações. Seu "eu doente" entra em conflito com sua mente e você automaticamente obedece. Simples assim. Lauren derreteu, pois de fato, temos uma certa rivalidade...

— Então não foi ela quem matou aquelas pessoas... fui eu por completo! Não foi a Lauren quem me trouxe aqui e me abandonou no meio do nada! Fui eu! — exclamei preocupado, arregalando os olhos para Wisdom.

— Não, rapaz! Não é assim que funciona! — Gritou ele.

— Antony! Que bom que você me entendeu! — exclamou alguém, vindo da floresta.

— Não! Ela quem fez isso! — bradou Wisdom, derretendo-se ao chão.

Todas as vezes em que eles derretiam com a aparição do outro, meu coração pulsava forte e minha cabeça doía por não aguentar ver a cena.

— Lauren! você apareceu! — arregalei ainda mais os olhos e falei, vendo que a voz que surgira da floresta era dela.

— É o que ele disse, docinho! Somos rivais... se um aparece, o outro precisa sumir da sua cabeça — explicava ofegante.

Assim que ela acabou de falar, senti uma forte pontada no peito; e como uma estátua, a assisti derreter-se até o último fio de seus longos cabelos loiros. Sem aguentar ter que ver aquilo mais uma vez, olhei para o lado e vi que em seguida, Wisdom surgia novamente pelo chão.

— Por que isso de novo? Parem de fazer isso! — gritei sem paciência.

— Essa é a lei, Antony! — Exclamou Wisdom, gloriosamente. — Seu corpo não consegue suportar mais de um sentimento ao mesmo tempo. Ela exerceu minha função ao explicar isso para você, então de fato, o Dyspertism entendeu que eu deveria prevalecer nesta ocasião.

Eu já estava completamente calmo e a par da situação. O maldito poder tranquilizante de Wisdom agia instantaneamente em minha cabeça, e sem mais nem menos, eu aceitava e compreendia. Já não fazia mais sentindo ficar triste pela ida de Lauren... havia compreendido que aquilo era necessário, de algum modo.

— Preciso voltar até a casa do velho... talvez de lá eu consiga me guiar e achar o caminho de volta para casa — mudei o assunto, lembrando da real situação.

Dyspertism: A praga dos sentimentosOnde histórias criam vida. Descubra agora