Capítulo 1: Nuvens e nada mais.

134 6 0
                                    

-Respire fundo.

Silêncio. Nem o som ambiente ousa atrapalhar meu foco. Calmamente puxo e expiro o ar, sentindo meu peito mais leve.

-Estenda a sua mão.

Ergo a minha mão dominante para cima, deixando a palma da minha mão aberta para o chão. Mesmo de olhos fechados eu sei que ela está tremendo. Eu preciso encerrar isso.

-Recite o encanto.

-Ó item de auxílio de todo mago, novato ou experiente; ouça o meu chamado, leia minhas intenções e se una a mim. Eu me ofereço de bom grado, Minha Varinha.

Sinto uma energia formigar por todo meu corpo, com pontos de vibração maiores em minha cabeça e cérebro, como se estivessem reagindo com o meu encanto. Minha mão direita logo reage em sincronia, sentindo-se atraída por algo.

Meus ouvidos captam um movimento agitado do ar, como se houvessem diversas moscas desordenadas ao meu redor, sussurrando sobre sabe-se lá o que poderia ser. Não abro os meus olhos apesar da minha curiosidade. Eu precisava de toda a minha concentração com a magia neste momento. As varinhas ao meu redor estavam dialogando para saber quem seria seu verdadeiro portador por todo o resto de nossas vidas.

-Estou lhe esperando... –comento.

Todos os zumbidos cessam e seguem por um repentino som da madeira das varinhas caindo no chão de madeira encerada. Algo havia se jogado contra minha mão e eu, por impulso, a fecho. Já haviam chegado a uma decisão.

-Capti Ventum. As varinhas chegaram a uma decisão e esta aceitou lhe acompanhar. Meus parabéns pelo seu primeiro passo como mago!

A voz feminina de minha professora me dá as congratulações. As escolas sempre têm seus primeiros seis anos entre conhecimento tecnológico, mágico e linguístico, até quando eles chegam à minha idade de dezoito anos. Todos os alunos precisam fazer uma iniciação obrigatória para mais três anos aperfeiçoando magia e todo o nosso conhecimento na prática. A escolha do portador por parte da varinha é o primeiro passo de todos e eu acabei de cumpri-lo.

Ouço aplausos educados da plateia ao redor, outros mais vigorosos vindos do meu pai, tios e primos. Toda a família estava lá para ver seu filho único se formar como um mago iniciante. Abro meus olhos e estudo a varinha em minha mão. Seu cabo era bem geométrico com duas pirâmides quadradas encostando suas pontas e outra servindo como todo o resto da extensão. Encaixava perfeitamente e era bem leve. Nós parecíamos completar um ao outro em cada função.

-Obrigado, Senhora. –agradeço balançando minha cabeça.

-Pode ir para o seu assento. Estará dispensado ao fim da cerimônia.

Confirmo e a obedeço, caminhando até a arquibancada do auditório e sentando perto da minha família. Meus primos haviam reservado um espaço para mim do lado deles, então eu me sentei.

-Caraca, olha isso!

-Me deixa usar também, Ven? Por favor! –Colly anseia para poder pegar meu item, mas eu o afasto.

-Cada um vai ter o seu depois; esta é a minha.

-Você lembra o que a Tia falou, né?

Ela havia se referido à minha mãe e eu sei muito bem o ditado ao qual ela se refere.

"Jamais se apegue demais a algo. O apego pode levar até o mais são dos homens a fazer as piores loucuras."

Ela repetia isto sempre que podia e com uma convicção gigantesca. Todos da minha família seguem esta doutrina fielmente, não se apegando a bens materiais, aparência, imagem ou o que mais for. Seus utensílios e conhecimento de magia não seriam diferentes. Eu desde novo recebia uma palavra ou outra antes de entrar definitivamente na escola para aprender sobre magia.

Céu InfinitoOnde histórias criam vida. Descubra agora