Capítulo 4: Com a Água no Pescoço.

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-Mãe, por que no escritório?

Nada que eu dizia era eficaz quando Mamãe estava decidida e convicta do que fazer. Mesmo sendo material para estudos, ela mesmo assim confisca meus pergaminhos com anotações do livro e tinha questão de me mostrar aonde iria trancá-los.

-Você não irá mais entrar aqui sem nossa permissão. Fomos bem claros com vocês antes. –seu tom veemente era adotado quando estava prestes a gritar.

-Por que o livro? Eu posso guardar no meu quarto se for o problema, eu não entro mais! –quase suplico a ela.

-O quarto é o menor dos problemas. Estão alimentando e lhe apegando ao sonho; pensei ter sido clara quanto a isso também. –Prae cruza os braços.

Suspiro, ficando assustado quando ela me estende a mão. Infelizmente não é um aperto amigável ou uma oferta.

-Sua varinha. Vamos.

Eu não respondo, apenas mantenho minhas mãos firmes e bem agarradas dentro do bolso da calça. Tinha a adquirido poucos dias atrás e não queria a largar. Algo que vinha dela me fazia sentir bem; era como muitos magos diziam sobre as próprias varinhas: mostravam em sua escultura de madeira quem eram e como era difícil de estar sozinho. Não gostaria de me sentir mais negado do que sou neste momento.

-...Não. Por favor. –contato visual estava complicando a cada dia.

-Me dê. Agora, Capti.

-Por favor, pelo menos que ela fique comigo, só ela!

Mas ela não me dá ouvidos. Da manga longa de seu vestido ela saca sua varinha, apontando-a em minha direção e fazendo sua ponta emitir uma suave faísca, como se precisasse acender um lampião. Contudo, o efeito foi outro; fez com que minhas mãos fossem ao ar e o graveto que era minha varinha escapar do meu bolso e ir direto a sua mão. Engulo em seco, sabendo que ela diria que não lhe dei opção.

-Me agradecerá depois. –ela larga tudo dentro da gaveta do escritório e tranca com outro movimento da sua varinha. – E isto só será destrancado até segunda ordem. Entendido?

-Sim. –respondo-a após segundos em silêncio e dou meia volta. Não conseguia entender a razão para tanta severidade apenas por ter um desejo ambicioso. Estava próximo da maioridade, quase um adulto.

-Então vá dormir.

As ordens dela eram ineficazes; eu já sabia que viriam logo antes de fechar a porta. Eu respeitava Mamãe como qualquer outro membro da família, mas nestes momentos todos estavam ofuscados pela crença idiota de não se apegar, o que impedia qualquer modo de dialogar. Reclamar não adianta, muito menos propor algum acordo, então evito de abrir a boca.

Deitar na cama me faz sentir sonolento deimediato, esquecendo de quase tudo. Imagino o quão exaustiva toda a conversatinha sido, a ponto de adormecer quase instantaneamente ao fechar os olhos.


Mesmo distraído com pensamentos nebulosos durante o sono, consigo sentir meu peito gelar; a inquietude me impedindo de permanecer coberto. Algo deixava minha mente em constante trabalho, algo extremo demais até para as dadas circunstâncias: fugir. Não podia fugir, mesmo estando tão encurralado. Estaria deixando toda a família para trás, preocupados. Mas também estão decepcionados demais com o membro mais promissor; um futuro mago que está muito apegado ao sonho de fugir de Caelum. O que fazer?

Quando abro os olhos, percebo que a porta estava destrancada, levemente deixando escapar raios de luz. O sol já estava forte e ninguém sequer tinha me avisado.

-Bom dia, Cog. Colly. –recebo os primos com o rosto ainda sonolento, vendo-os de relance brincar com algo de tabuleiro. Nunca tive paciência pra isso.

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