Capítulo 8: Bendita Curiosidade.

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Nada além de luz natural apertando por entre os espaços de cada cortina da cúpula redonda passavam, transformando a figura solitária da pessoa que estava lá mais visível através de sua silhueta formal. Estava balbuciando palavras por detrás daquela máscara de engrenagens de cobre e lentes, direcionando-as ao vento. A visão das nuvens lá fora era de se contemplar, quando abriam espaço para o a lua e estrelas; nada além. Apenas um céu vazio onde a visão mais apurada vai, a mais pura solidão.

Dois toques na porta de madeira interrompem aquela calmaria e serenidade. Com um movimento de seu dedo indicador direito -notavelmente maior que os demais- As duas portas se abrem, revelando aquele rosto angular e careca de Mortem. Parecia esboçar uma certa hesitação mesmo ao ser recebido pela anfitriã do ritual do dia anterior.

-Me desculpe, Senhorita Caelum. Fui recomendado pelos outros membros da Mesa a lhe acompanhar com seus planos. –ele diz com a voz rouca forçando seriedade.

-Entendo. –ela faz uma breve pausa– Eles lhe indicaram mas eu não dei minha palavra. Ou dei?

-Não senhora. Irei me retirar neste momento.

-Mas fique. –Caelum diz– Adoro companhia para meus monólogos prolixos...

Estava de certo modo satisfeita. A Mesa e todos os departamentos de gerenciadores de Caelum Insula estiveram frente a frente com a tal Manda-Chuva e viram como se perdia em pensamentos e delírios. Algo em sua mente facilmente lhe maravilhava e mal podia se conter.

-Venha à janela, Mortem. –ela indica a pequena fresta ao seu lado.

Mortem em silêncio caminha até a posição dita, se deparando com uma lua minguante radiante, um tanto ofuscada por aglomerações de pequenos porém irritantes Monokosu; baratas do tamanho de uma mão, capazes de destruir madeira em segundos. Por sorte, mesmo voando em bando, não atacam a ilha.

-O que vê, Mortem? Olhe o horizonte e me diga o que vê.

-Nada de tão extraordinário, senhorita. A lua minguante em nosso céu, as nuvens escassas de noite e os Monokosu voando em bandos. Estamos entrando na temporada destes insetos, mas sempre temos o devido preparo.

-Nada de tão extraordinário? –Caelum repete as palavras do colega– Não entendo minha surpresa, afinal, é uma excitação difícil de compreender...

Aquele suspiro fez parecer que Mortem tinha dito algo de errado, já que Caelum gostava de ser concordada. Era um tom melancólico, mas igualmente prazeroso.

-Sabe, Senhor Mortem, o senhor foi um dos primeiros que conheci até minha ascensão, e ainda me surpreende. Olhe novamente. Nada lhe traz emoções? Prazer, excitação?

E Mortem nada diz. A mente de Caelum era difícil de compreender mesmo com tanto tempo. Gostava da solidão e de seus monólogos tanto quanto gostava de reuniões e quietude, quando admirava o céu por longos minutos sem uma palavra. Ela suspira para quebrar o silêncio.

-A história deste refúgio humano não é explicada nas escolas sem razões. Mostra como pudemos nos reerguer depois de tantos conflitos com os Arthbangues –ela continua, virando-se para a mesa que ficava bem no centro daquela cúpula– Ah, aquela espécie; amiga da magia, esbanjando sua natureza rica e belezas como se fossem os donos do céu...

Era a informação mais preciosamente guardada dentro do conselho geral da ilha; selada a sete chaves e nunca dita fora da única sala em que ambos Caelum e Mortem se encontram. A civilização humana outrora fora pertencente ao solo, abaixo daquela espessa camada de nuvens que parecia levar ao limbo. Residiam sociedades inteiras abaixo, escondidas em feudos de rochas e casebres de palha; completamente cercados pela ignorância e aceitação de que aquele modo de vida era o suficiente e qualquer busca por conhecimento, qualquer desejo de ir além, era considerado uma ameaça. Informações sobre como a matéria funcionava, como podiam usar o maquinário a vapor a seu favor e, principalmente, como ter bom proveito da tão oculta e ainda tão presente chamada magia.

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