Capítulo 1

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Enfim terminei de organizar os papéis de uma obra que precisaria fiscalizar amanhã e os guardei dentro de minha pasta, junto com o notebook. Meu celular vibrava sobre a mesa e eu tinha certeza de quem estava mandando aquelas mensagens, já que o relógio marcava quase oito horas da noite. Eu precisava correr para não me atrasar, ou o Yuri me mataria.

Peguei meu celular quando já estava saindo da minha sala e abri o WhatsApp, checando o grupo de padrinhos que o Yuri havia criado. Como ele e a Vivian estavam noivos desde o ano passado, decidiram que no segundo semestre desse ano o casamento iria se realizar, e era óbvio que ambos estavam surtando. Eu e o Igor seriamos padrinhos pela parte do Yuri, enquanto o Robson e o Victor seriam padrinhos da Vivian.

Assim que saí do prédio onde trabalhava, segui para o estacionamento, entrando em meu carro e soltando a respiração. Meus ombros doíam e eu estava extremamente cansado daquela semana que ainda faltava um dia para acabar. Só que eu realmente não poderia faltar àquele encontro, cujo Yuri havia marcado há, pelo menos, dez dias. Desde o pedido para ser padrinho, final do ano passado, não havíamos nos reunido nenhuma vez sequer para saber sobre os preparativos.

Coloquei o cinto e segui para o bar. Durante o trajeto liguei o bluetooth do carro e telefonei para minha mãe, pois não falava com ela há, pelo menos, uma semana. Assim que ela atendeu, lhe dei a notícia que havia sido aprovado no processo seletivo para professor daquela faculdade, e além de receber parabéns, também tive que explicar o motivo pelo qual eu estava arrumando mais um emprego, segundo ela sem necessidade. Ah, e também houve todo o questionando de o motivo por eu ainda não ter uma namorada, enquanto meus amigos estavam se casando.

Estacionei o carro do outro lado da calçada, tirei o cinto de segurança e desabotoei a gola da blusa e os punhos. A única coisa que me motivava nesse momento era tomar um chopp e conversar com meus amigos, mesmo que eu quisesse estar jogado em minha cama. Abri a porta do carro e desci, vendo mais à frente um casal, aparentemente conversando. Estava escuro e eu não fazia ideia de quem era, então acionei o alarme e saí.

Enquanto atravessava a rua, ouvi a voz masculina se exaltar e virei para trás, os olhando. O cara gritava, parado em frente a lateral do carro, onde anteriormente eu havia visto uma mulher encostada, e gesticulava colocando o dedo em sua cara. Caminhei até a calçada, ainda atento a eles, até que o vi colocar as mãos na cabeça e bufar, demonstrando cansaço diante a situação. De repente ele veio andando sozinho e ao se aproximar da claridade percebi que eu o conhecia. Era o Marcos, um arquiteto que trabalhava na mesma empresa que eu.

Nós éramos de setores diferentes, então não convivíamos diretamente, para minha sorte, mas sua fama se espalhava não só pela empresa e sim por todo o prédio. Eu não sabia se ele era casado ou tinha namorada, e nem sabia quem era a mulher ali com ele, mas todos tinham conhecimento que ele já havia saído e sacaneado com praticamente todas as funcionárias da firma. Ele era bom na sua área, não podia negar que era preferência de alguns clientes, mas como pessoa, ele não passava de um babaca inigualável, que eu não queria por perto.

Assim que me viu, Marcos fez um aceno de cabeça e eu apenas retribuí o cumprimento por educação. A mulher ainda não havia aparecido, então deduzi que ela permanecia no mesmo lugar. Fiquei olhando-o entrar no bar e em seguida vi meus amigos sentados em uma mesa bem no meio do estabelecimento, mas antes que eles me vissem, dei as costas e atravessei a rua correndo.

— Oi — falei ao me aproximar do carro, ouvindo-a chorar — Você está bem? — indaguei e então ela virou o rosto, me encarando.

— Quem é você? — perguntou e percebi pela sua voz que ela estava assustada — Está tudo bem sim, pode ir embora...

Contramão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora