Capítulo 8

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Letícia

Ouvi quando a Nayara chegou em casa no domingo pela manhã. Não sei se já havia amanhecido, mas eu não havia fechado os olhos nem por um minuto naquela madrugada. As palavras do Marcos ainda estavam martelando em minha cabeça e as lágrimas insistiam em cair, mas eu não sairia do meu quarto sob nenhuma hipótese.

Meus pensamentos foram interrompidos quando minha amiga rodou a fechadura da porta, não conseguindo entrar por estar trancada. Nayara ainda insistiu uma vez e depois se afastou, provavelmente indo para o seu quarto.

Sempre que eu estava mal após alguma briga com o Marcos, eu me trancava para não correr o risco de ela me ver nesse estado. Fazia um tempo que Nayara não me via chorando, mas era por opção minha e não por não acontecer. Fingia estar tudo bem mesmo que não estivesse, somente para que não tivesse que ouvi-la reclamar sobre ele. Aquilo me incomodava e me deixava envergonhada.

Após a hora do almoço, ela deu duas batidas em minha porta e eu tive que sair para que ela não desconfiasse do meu sumiço. Assim que abri a porta, me deparei com o Marcos parado no meio da minha sala, de braços cruzados, enquanto minha amiga estava mais atrás, me olhando entediada.

— Oi — falei ao encará-lo, engolindo seco.

— Oi amor. Você não está me atendendo. — Ele disse sério e parecendo preocupado — Aconteceu algo?

— Ah, eu não sei onde pus meu celular... — Menti, falando com a voz fraca, já que Nayara me olhava já sabendo que havia algo errado.

— Vim te chamar para almoçar. — Marcos informou, mas eu fiz uma careta.

— Estou enjoada e com dor de cabeça... — murmurei — Vou dispensar.

— Podemos conversar? — Ele franziu a testa e entortou a cabeça, me encarando — A sós.

Olhei dele para a Nayara, que revirou os olhos e seguiu para a cozinha. Eu assenti e dei-lhe as costas, voltando para o meu quarto, sabendo que ele iria me seguir. Quando a porta foi fechada, ele segurou em meu punho e me girou de frente, aproximando-se com uma mão em minha bochecha.

— O que aconteceu, bebê? — Ele perguntou tão docemente, analisando minuciosamente meu rosto, que nem parecia o cara que me disse coisas horríveis ontem.

— Nada, Marcos — falei seca.

— Você sumiu lá de casa ontem e nem me avisou que estava indo embora... — falou intrigado — Fiquei te ligando, mas você não me atendia.

— Não gostei das coisas que você me falou. — Engoli seco, olhando em seus olhos e de repente eu o vi sorrir, mas com indignação.

— Amor, eu só te falei aquelas coisas porque eu te amo. — Marcos justificou-se — Eu quero o teu bem, quero você só para mim e não admitiria ninguém te julgando de outra forma caso aquele entregador saísse falando alguma coisa de você por aí e...

— Como? — Franzi a testa, confusa.

— Não foi sobre o entregador? — Ele arqueou as sobrancelhas — Você não estava com trajes adequados e sendo extremamente simpática com ele, então pensei que ele pudesse confundir as coisas...

— Não, Marcos. — Eu o interrompi — Sobre como você me via, sobre minhas roupas, minhas atitudes...

— Não falei nada demais, Letícia! — Ele deu um riso indignado — Você está vendo coisa onde não tem, meu amor. Mas se isso te ofendeu de alguma forma, me perdoa. Não quis te magoar... Jamais falaria algo assim.

Contramão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora