Capítulo 10

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Letícia

Após o último final de semana em que Marcos e eu nos desentendemos, eu tentei lhe evitar durante toda a semana, mas quanto mais eu me afastava, mais insistente ele se tornava. As ligações constantes, mensagens carinhosas e chantagem emocional faziam parte do pacote. Confesso que amava quando ele ficava assim, mas, ao mesmo tempo, que eu queria estar com ele todas as noites em seu apartamento, eu também estava cansada e cheia de trabalho para fazer. Só que não podia dizer não, que ele vinha dizendo o quanto estava se doando para mim e eu querendo evitá-lo. Ele tinha razão, eu deveria ser mais flexível e arrumar um tempo para nós.

Na sexta-feira fomos ao shopping para almoçar juntos. Quando terminamos a refeição, ele pediu a sobremesa e foi ao banheiro. Fiquei sozinha à mesa, mexendo em meu celular até o doce chegar. Ergui a cabeça e fiquei olhando em direção ao banheiro, esperando que Marcos voltasse e para começar a comer.

Esperei por um tempo, que acredito ter sido além do normal e então me levantei para ir até lá, imaginando que algo poderia ter acontecido. Quando eu estava me aproximando do local onde os sanitários estavam localizados, o vi parado com uma moça em sua frente. Ela era loira e muito bonita e os dois conversavam animadamente, enquanto sua mão pousava sobre o ombro do meu namorado.

Franzi a testa e parei naquele mesmo lugar, não sabendo o que fazer. O olhar do Marcos veio até mim e notei quão desconfortável ele ficou. A moça virou o rosto para trás, me lançando um olhar de total desprezo, que me deixou totalmente incomodada.

Rapidamente ele se despediu dela e veio em minha direção, dando seu melhor sorriso, mas eu já estava sentindo um amargo ao ter presenciado aquela cena, cujo eu nem sabia explicar o que havia acontecido.

— O que está fazendo aqui? — Ele perguntou com naturalidade.

— Você estava demorando — expliquei.

— Era só me esperar na mesa, Letícia. — Ele sorriu com obviedade.

— Quem era aquela? — Indaguei, vendo-o franzi a testa.

— Não sei... — disse demonstrando confusão — Achou que me conhecia, me parou, mas acabamos descobrindo que eu não era quem ela pensou que fosse.

— Ela parecia bem íntima de você para ser uma desconhecida — comentei, erguendo as sobrancelhas, mas ele bufou um sorriso.

— Intima? Você está vendo coisa onde não tem. — Ainda rindo, Marcos passou por mim e voltou até nossa mesa.

Eu o segui e me sentei em sua frente, enquanto ele punha a colher no pudim que havia pedido. Mantive as mãos em meu colo e os ombros caídos, pois a situação que vi havia realmente me incomodado bastante. Eu podia ser insegura em relação a várias coisas, mas não ao nosso relacionamento. Sempre confiei no Marcos e não tinha motivos para duvidar do seu amor por mim.

— O que vocês estavam conversando? — Eu insisti e ele soltou a respiração, fechando os olhos — Eu vi quando ela colocou a mão no seu ombro e também no teu peitoral — falei e mordi o lábio inferior, aguardando sua resposta.

— Amor, para com isso... — Marcos murmurou, demonstrando exaustão sobre o assunto — Eu não sei quem é aquela moça. Ela veio falar comigo, eu disse que não a conhecia, falei que estava com minha namorada e então eu vim embora.

— Eu não acredito nisso. — Agitei a cabeça para os lados lentamente.

— Ok, Letícia. — Ele bufou e largou a colher sobre a mesa — O que você quer que eu diga? Que eu a conheço? Que somos amigos? Hã? — Indagou, me olhando com as sobrancelhas erguidas e a voz elevada — Se quer que eu minta para que tua loucura faça sentido, estou pronto...

— Marcos... — Falei assustada e levei os olhos para os lados, receosa por nos ouvirem.

— Não, Letícia, me fala o que você quer ouvir e eu invento. — Ele continuou — Estou te falando a verdade e você não quer acreditar...

— Eu só não acho que essa seja a verdade — retruquei.

— Você está ficando louca. — Ele disse enfático e se levantou, pegando a comanda sobre a nossa mesa.

Eu o vi ir em direção ao caixa, enquanto punha meu cotovelo apoiado sobre a mesa e a mão no rosto. Suspirei, não sabendo o que eu estava fazendo. Algo me dizia que Marcos estava mentindo, pois, a forma como eles estavam conversando denotava intimidade, mas, ao mesmo tempo, eu não via motivos para ele mentir para mim.

Quando ele voltou, pegou as chaves do carro que estava sobre a mesa e saiu andando, me deixando sentada lá sozinha. Olhei para ele indo em direção à saída e então me levantei, pegando minha bolsa e lhe seguindo.

No corredor do shopping, eu caminhava atrás dele, que parecia irritado, por isso me mantive calada. Ao chegarmos ao carro, ele destravou a porta e eu abri, entrando rapidamente. Colocamos o cinto e antes de dar partida no motor, eu virei a cabeça para o lado, analisando-o.

— Se ele é só uma amiga, porque você mentiria para mim? — Falei, vendo-o

grunhir com irritação.

— Ah meu Deus! — Exclamou em seguida — Eu tenho um caso com ela agora? É isso, Letícia? Sério mesmo que você vai insistir nisso? Desde quando você ficou paranoica assim?

— Não sou paranoica. — Bufei confusa — Só estou perguntando quem ela é e você está mentindo.

— Eu estou mentindo? — Indagou surpreso — Certo... Se você não quer acreditar em mim, isso não é problema meu. Você fique com raiva e quando passar, me fala, ok? Não quero mais discutir com gente louca.

— Ah Marcos, por favor, não sou trouxa. — Protestei irritada, pois eu tinha certeza do que havia visto.

Ele ligou o carro e saiu do estacionamento do shopping, mantendo-se calado pelo trajeto. No primeiro semáforo eu ouvi arranhar a garganta e então o olhei, esperando que fosse admitir algo.

— Você sabe que eu te amo e que você é a única mulher da minha vida — falou enquanto fitava a direção, mesmo o carro estando parado — Trabalho o dia todo, até a noite e nos vemos sempre que dá, então eu não tenho tempo para conhecer outras mulheres. Meu tempo livre é contigo, ou você acha que eu faço tudo por ti por acaso? Se eu não te amasse, não pagaria tuas contas, nem te ajudar como faço...

— Tudo bem. — Suspirei após suas palavras, pois ele tinha razão. Talvez eu tivesse realmente exagerado e estava procurando "pelo em ovo" — Desculpa, não quis brigar por isso.

— Vou te deixar em casa. — Ele informou quando acelerou o carro.

— Achei que iria para tua casa — falei indignada — você disse que não trabalharia hoje à tarde.

— Essa história toda me deixou com dor de cabeça. — Marcos disse sério, focando a atenção no volante — Vou aproveitar para dormir.

Eu apenas assenti, engolindo seco a situação e tentei compreender o seu lado. Algumas vezes ele fez a mesma coisa comigo, me acusando de dar bola para outros caras, enquanto eu não estava, então me coloquei em seu lugar e percebi como aquela acusação era realmente chata.

Ele parou em frente ao meu prédio e fechou os olhos, apoiando a cabeça contra o encosto do banco do carro. Ouvi sua respiração pesada e uma aflição começou a crescer dentro de mim sobre eu ter feito alguma besteira.

— Amor... — Falei com a voz baixa, virando meu corpo de frente para o dele.

— Letícia, por favor. — Ele disse chateado — Eu só quero ficar em paz agora. Você deveria aproveitar para pensar em todo o caos que fez. Estragou nosso almoço e a tarde que iriamos ficar junto.

— Desculpa. — Suspirei, mas me calei por não saber mais o que falar, então desci do carro.

Contramão (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora