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Kataleya Mendes

A noite continuava.

Sentada na esplanada com Nelson, a conversa prolongou-se por uma hora. Sentia falta dele, o meu melhor amigo de sempre.

Foi difícil vê-lo deixar o nosso clube de coração e agarrar uma nova aventura fora de Portugal e deixar de estar tão acessível para conversar. Ou até mesmo para um abraço e passeios noturnos de carro por Lisboa.

Era tão bom estar ali com ele. Foi tão fácil dizer que sim a Filipa, sobre esta festa.

- O que te preocupa?

- Sinto-me desmotivada. Sem ambições. Quero começar a trabalhar, mas não sei. Nem sequer sei o que quero fazer.

Desabafei, sendo algo que me preocupa desde o regresso a Portugal há um mês.

- Já procuraste alguma coisa?

Balancei a cabeça, negando.

- Se calhar devias começar por aí. Ou então... A equipa não deve ter fechado portas. Não a ti. E tu sabes que és uma mais valia.

- Voltar ao Futebol não me parece certo. Queria abraçar a minha área.

- Administração, certo? - Assenti. - O que não falta são oportunidades. Só tens que procurar e saber procurar bem. Vais ver que corre bem, só tens que te esforçar.

- É difícil... Voltar a casa.

- Há muitas recordações, eu sei. Mas precisas de começar a viver por ti Kat, não agarrar-te ao passado.

Ambos encaramos o Samaris, que despejava as cervejas num instante.

Competia com Cervi.

- Principalmente um passado que não foi capaz de te assumir. Que te fez acreditar numa ilusão ao dizer que eras especial, que havia ligação e a seguir, assumia outra miúda qualquer. Tiveste, em doze anos, demasiado disso.

- Três vezes. E a terceira fui eu que larguei. - O Semedo encarou-me. - É tão fácil ceder quando se trata dele. Independentemente dele namorar ele acaba sempre de volta comigo.

O rapaz sabia exatamente do que falava, sendo o único que sabia.

- E eu já tentei e olha onde estou.

- Como assim? - Encolhi os ombros. - Não me vais dizer que voltaram a ter alguma coisa? - Os seus olhos refletiam-me.

Virei o telemóvel para o mulato, mostrando-lhe a mensagem que havia recebido.

'Kat!! Vamos para tua casa?'

- Não acredito.

Encolhi os ombros, embora desanimada com o facto do Samaris ser próximo da Vanessa. Pelo que o mulato me havia dito, eram só amigos. E pelo que ambos sabemos...

O grego sabia esconder/fingir muito bem.

Nunca ninguém desconfiou de nós e já lá vão uns bons oito anos de encontros ás escondidas, de mensagens e desejos.

Os outros quatro, os rapazes deram conta que havia proximidade. Mas só isso.

Ao fim de uns minutos, acabamos por voltar à festa. Ficamos pelos jogos, pois o frenesim já se tinha atenuado um pouco. O cansaço, os copos a mais, já se faziam sentir.

Principalmente em mim, o cansaço.

Acabei por me despedir dos rapazes, da Filipa e da Joana, caminhando para o carro.

Optei por nem falar ao grego, este na presença do Cervi e da Vanessa. O rapaz olhava-me, e eu simplesmente virei a cara.

Entrei no carro e segui para casa. Sozinha. Com intenções de dormir. Não lhe respondi. Voltar a estar numa incerteza e num vai não vai, talvez não fosse a melhor ideia.

Sabia que não ia lidar com a aproximação dele com outra rapariga e abrir-lhe a porta.

Isto porque... A última virou namorada.

(...)

διαχρονικά  ➛  ANDREA SAMARISOnde histórias criam vida. Descubra agora