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Kataleya

E sem mais, nem menos o meu Samaris foi. Ele deixou de ser meu. Passou a ser de outra.

Foram tantos anos investidos numa pessoa que nunca fez questão de ficar comigo. Não consigo arrepender-me de ter voltado sempre. Todas as mensagens e todas as saídas a meio da noite, já estavam vincaras no meu coração.

Não havia forma de apagar ou esquecer o que aquele homem fez de mim. O que tivemos com os catorze continua guardado dentro de mim e os vinte reforçaram tudo isso.

Agora, com vinte e sete anos, percebi que tudo o que senti só fortaleceu. A cada reencontro e a cada despedida.

Sabia que era ele. Tinha que ser com ele.

No entanto, nunca o senti tão longe como desta vez. Escapou pelos meus dedos e outras mãos o prenderam. Era um desconforto enorme, como se tivesse levado parte de mim.

Um vazio gigante, como nunca. Como outrora nunca senti. Era triste.

Lágrimas deslizavam pelo meu rosto, só pelo pensamentos que tínhamos aberto mão um do outro e de algo que nos fez felizes.

Não queria cruzar os braços, mas não sabia que fazer. A verdade, é que ele estava numa relação e não podia desrespeitar. Vanessa não merecia, e eu própria não merecia.

Descer tão baixo ao ponto de estragar a relação de alguém... Não ia acontecer.

Marquei o número do meu melhor amigo.

- Kat, maluca! Como estás? - A sua voz animada, fez com que sentisse algum conforto, mas não o que precisava. - Ei, estás bem? Estás a chorar Kataleya?

- Sinto-me terrível, Nelson. Nunca pensei que me fosse arrepender tanto. - Admiti. Precisava de desabafar com ele.

- Não há muito que possas fazer. E Kataleya, o Samaris sempre foi o indeciso.

- Não com outras...

- Exatamente. Não sabia que gostavas assim tanto dele.. Nem que as coisas se tornaram tão intensas entre vocês.

- Mais do que era suposto. Tenho saudades de estar com ele. Não imaginas. O Samaris faz-me tão bem. Como ninguém me fez sentir. Talvez, seja esse o motivo que nos faça voltar sempre, ou fazia...

Fiz uma pequena pausa.. Mentalizando-me das minhas próprias palavras.

- Ele encontrou alguém que o fez sentir como nunca de sentiu comigo. Alguém melhor que eu e alguém que quis assumir. A ironia nisto, é ser alguém que jurou não ter interesse.

- Não acredito que seja isso Kat. Duvido que o Samaris tenha encontrado conforto nela dessa forma.

- Como assim?

- Vocês dormiram juntos no Porto. No dia em que lhe bateste à porta, ele nem hesitou. Acho que ela só preencheu o vazio que deixaste. Ele continua a sentir o mesmo.

- Não sabes. Não tens como saber. - Lágrimas continuavam a escorrer. - Isto é horrível. Devia ter ficado fora...

- Devido ao que me contaste.. Acredito que ele vai cair em si. Fizeste o que achavas certo. Só não encontraste tudo como deixaste. Não está a ser fácil... Consigo perceber. Mas tem calma Kat, por favor.

- Não consigo. Só queria que ele tivesse aqui. O David foi impecável comigo... Acabei com ele e disse-lhe a verdade.

- A sério?

- Sim. Não pelo Samaris. Mas por mim. Estou farta de me mentir a mim mesma. E também, o David não merecia isto. Não quero voltar a sair de Portugal tão cedo.

- Fizeste bem. Precisas de organizar a tua vida, nunca choraste por causa de um rapaz e muito menos desabafaste.

Tentei acalmar-me, passando as mangas pelos meus olhos e rosto molhado.

- Não desta forma.

- Como disse, nunca me senti assim com ou por ninguém, Nelson. O Samaris mexeu comigo de uma forma assustadora.

- Precisas de te afastar. De clarear as tuas ideias. Se pretendes ficar em Portugal, começa por priorizar a tua vida e as tuas necessidades Kataleya. Abstrai-te.

- Eu sei. Quero procurar emprego. - Suspirei, o moreno não deixava a minha mente.

- E fazes muito bem.

- Mas... E se ele não voltar? Se ao fim de tantos anos, ele realmente encontrou alguém que o fez esquecer de mim?

- Também vais encontrar.

Suspirei frustrada com a ideia. Não queria que fosse outra pessoa. Porque iria encontrar outro por aí, se tudo o que queria estava no Samaris e sabia exatamente onde ele estava?

Odiava toda a situação. Porque tive que ser tão burra? Tudo o que quis foi uma oportunidade e quando a tive, desperdicei.

Ele nunca ponderou em estar comigo, porém, a única vez que o fez... Eu fugi.

Com as minhas razões, sem dúvida.

Desliguei a chamada com o Nelson, pois o rapaz estava a caminho do bar e pediu que me fosse encontrar com ele. Concordei, sabendo o que podia encontrar no mesmo. No entanto, os meus amigos frequentavam o local e não podia evitá-lo para sempre.

Mais valia encarar o problema de frente. Algo que pretendia fazer, pelo menos, para ninguém desconfiar de algo. Não podia deixar de sair, já que estava em Portugal.

Nem conseguia imaginar a situação. Estar com o grupo e vê-lo feliz com outra rapariga... Pois, podia estar feliz comigo.

Tomei um duche rápido, dei um jeito ao cabelo e cobri as minhas olheiras.

Peguei nas chaves e sai do apartamento.

Enviei mensagem ao Nelson, avisando que estava a sair do prédio. Foram uns dez minutos que passaram num instante, pois havia pouco trânsito naquela zona. Observei o moreno nas mesas da esplanada.

Sentei-me ao lado dele, forçando um sorriso e dando-lhe um beijo no rosto. Beijou-me o rosto e puxou-me para um abraço rápido.

Não queria voltar a ceder. A chorar. Primeira e última vez que pretendia fazê-lo.

- Eles estão lá dentro.

O seu sussurro, cortou-me a respiração.

διαχρονικά  ➛  ANDREA SAMARISOnde histórias criam vida. Descubra agora