Noah Knight e Pirralha

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P.D.V Julia.

As vezes chego a me perguntar se aquela mulher que eu chamo de mãe realmente me ama, porque se ela me amasse mesmo talvez eu não estivesse nessa situação agora.

Chovia forte em Manhattan , eu estava encharcada com três malas gigantes, apertando a campainha de um apartamento na frente do Central Park onde passaria os próximos dias sob os cuidados de um garoto que nem fizera 18 anos direito, depois de ter descido do taxi na rua errada e andar 5 quarteirões com os carros fazendo as possas de água misturadas com tudo quanto é impurezas espirrarem em mim. Será que dava para piorar?

Sempre dá para piorar, principalmente quando você é uma pessoa azarada como eu.

Mas antes de qualquer coisa: Meu nome é Julia Morris, uma garota legitimamente inglesa, sou filha de pais separados desde que me entendo por gente, baixinha, tenho 16 anos , loira de cabelos cumpridos sempre presos num coque bem firme, com olhos cinzas meio azulados, uso óculos, sou apaixonada por brigadeiro enlatado com coca-cola, desastrada, amo animes, sou nerd e definitivamente odeio os Estados Unidos.

Considero lá um lugar de gente suja, sem classe, exatamente o lugar onde meu pai foi arranjar uma madrasta para mim.

Eu estava indo passar mesmo as minhas férias na casa de meu pai, ainda não conseguia acreditar no rumo que minha vida estava tomando. Totalmente degradante. Tudo porque minha mãe trabalhava demais e dessa vez decidira que trabalharia nas férias também, nunca entendi muito bem essa sua fissuração pelo trabalho, eram poucas as vezes que via sua sombra dentro de casa, era por isso que eu estudava período integral, porém com as férias eu não passaria mais 10 horas estudando e como ela estaria trabalhando, depois de duas ou três conversas no telefone com meu pai eles decidiram que seria melhor eu passar as férias na casa dele.

Meu pai, Tom Morris, nunca foi muito presente pelo fato de morar longe, mas sempre fez questão de manter contato comigo, ele é um daqueles pais de quarenta e tantos anos que não aceita envelhecer, acho que era por isso que ele era casado com a hiena burra da Julia. Sim, a vaca da esposa dele tinha o mesmo nome que eu, e idade para ser minha irmã, ou pelo menos aparentava isso, apesar dela já ter um filho de 18 anos, o que fazia eu repensar a idade dela.

Bom, o dito cujo do filho dela se chamava Noah Knight, ser de 18 anos(deveria ser um idiota, drogado, metido a marginalzinho) com quem (para o meu azar) eu passaria o verão todo. Meu pai e a Vacadrasta iriam para um cruzeiro e depois passariam o resto das férias em algum lugar no Brasil. Eles acharam melhor que eu ficasse minhas férias com Noah, porque ele tinha 18 anos e se responsabilizaria por mim enquanto mamãe trabalhava como uma escrava por vontade própria (fazer o que se ela prefere o trabalho no lugar da filha) e papai curtiria umas férias agitadas ao lado da Vacadrasta ladra de nomes. Se bem que eu nasci depois dela, isso queria dizer que eu que roubei o nome dela... ah esquece.

Acho que fiquei ali uns 20 minutos apertando freneticamente a campainha até que o maldito Noah viesse abrir a porta. Eu já o odiava por ter feito 18 anos semana passada e agora o odiava mais ainda por ter me feito esperar 20 minutos molhada e nojenta.

A porta foi destrancada e aberta por um garoto alto, incrivelmente perfeito, de cabelos negros e curtos, olhos castanhos.

–Oi.- sorriu encantadoramente.

Meu Deus, retiro tudo que eu disse sobre um idiota drogado e de ser um azar eu precisar passar as férias com ele, para falar a verdade era uma tremenda sorte passar todos esses dias com um cara tão estupidamente bonito.

–O-oi, sou Julia, filha do Tom.- estendi minha mão para que ele apertasse.

–Sou Gabe, amigo do Noah.

Para tudo! Se esse Deus grego não era o Noah, quem era o Noah, onde estava o Noah?

Minhas duvidas logo foram sanadas por uma figura que apareceu logo atrás com um controle de vídeo-game sem fio na mão.

–Porra eu já disse que não quero comprar a merda desses biscoitos!-reclamou um homem alto de cabelos compridos e oleosos, usando um gorro cinza, olhos azuis e regata preta, mostrando seu corpo delineado e suas tatuagens deploráveis com marra de marginalzinho ambulante.

–Fica tranqüilo Noah, é só a sua irmã.- Gabe falou me dando espaço para entrar

–Entra logo pirralha.- esse era o Noah?

Merda, definitivamente as coisas sempre tendem a piorar para mim.

P.D.V Noah

Seria praticamente impossível ter boas férias quando se esta pagando de babá para uma pirralha catarrenta. É nesses momentos que eu me pergunto: para onde vão as festas de arromba com garotas nuas e bebidas alcoólicas liberadas que eu estive planejando para as férias todas?

Ah, sim. Por água abaixo.

Acho que minha mãe não me ama, porque sinceramente, as mães que não amam os filhos que deixam os filhos dos outros para os próprios filhos criarem.

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, eu estava na fossa. Teria que passar todo verão de babá, será que ainda dava tempo de eu me suicidar?

Olhando daqui, aquela sacada me parecia bem convidativa, ainda mais no sétimo andar, onde a probabilidade de eu morrer era maior.

Ta Noah, chega, não deveria ser tão ruim assim cuidar de uma pirralha catarrenta, afinal, para que é que existiria os lencinhos de papeis se não fosse pelas pirralhas catarrentas. Se for pensar melhor, elas fizeram um favor à humanidade.

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, eu tava na fossa de qualquer jeito.

Peguei meu celular do bolso a apertei a primeira tecla da discagem rápida.

–Alo?

–Gabe, cara vem pra casa.

–O que foi Noah, aconteceu alguma coisa?

–Sim, a enviada do apocalipse esta vindo para estragar as minhas férias.

–Hein?

(...)

Baixinha, com o cabelo entupido de gel e amarrado num coquei hiper apertado que dava até dor de cabeça de olhar, usando um óculos gigante que refletia a luz fazendo não ser possível enxergar a cor de seus olhos, pele pálida, usava um blazer cinza (ela estava vindo passar as férias ou fazer um entrevista de trabalho?) que agora deveria estar encharcado, ar de nojenta.Essa era a figura do pântano que eu tomaria conta nos próximos dias.

Ela ficou lá parada me olhando, pelo menos eu acho que ela estava me olhando, porque não era realmente possível enxergar os olhos dela através daquelas lentes fundo de garrafa.

–Entra logo pirralha.- falei, ela me parecia grandinha o suficiente para não precisar carregá-la no colo para lá e para cá.

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