Livro de duas folhas.

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Abri os olhos sentindo uma imensa dor nas costas. O quarto ainda estava escuro, não devia passar das quatro da madrugada.

Noah continuava deitado em meu colo, e sua temperatura estava quente. Deitei a cabeça dele com dificuldade no travesseiro e fui em direção ao banheiro. Procurei em uma das gavetas a caixa de remédios e optei por um antitérmico, busquei um copo d’água na cozinha e liguei a luz facilitar.

–Noah.- chamei me sentando na cama.

–Humm.- gemeu com os olhos semicerrados.

–Eu peguei um remédio, toma. – ele se sentou pegando o comprimido da minha mão, e o copo.

Esperei até que ele terminasse de beber e depois levei o copo até a mesa do computador, aproveitei e deixei meus óculos lá também. Apaguei a luz e segui para me deitar na cama de cima.

–Julia?- a voz dele saiu rouca, me impedindo de subir na pequena escadinha.

–Está passando mal?- perguntei, não de forma irônica, mas de forma preocupada diante a seu estado.

–Obrigada.- sussurrou rouco.

Cheguei a me perguntar se ele tinha mesmo agradecido, ou se eu estava fantasiando, mas então me dei conta de que ele que estava num momento de delírio.

– De nada.- respondi finalmente subindo na cama.

O desabafo de Noah havia realmente mexido comigo. Talvez fosse porque eu não esperava que ele pudesse ter passado por uma coisa dessas. Devia ter sido difícil para ele superar isso, o que justifica o fato dele ter aquele jeito de quem nunca está nem aí para nada, como se nada fosse importante o bastante para ele se importar. Ele devia ter deixado de se importar com as coisas quando descobriu que a única coisa importante para ele era um monstro. Me sinto mal agora por ele, sinto dó. Eu percebi que ele, tanto como eu, é apenas um ser humano, com inseguranças e medos. Mas uma coisa me intriga...Talvez eu possa estar vendo coisa aonde não tem...Por mais que ele não se importe com nada, por conta de seu passado, eu sinto que no fundo ele se importa comigo.

É, a possibilidade de eu estar enganada é muito grande, mas de qualquer jeito, vê-lo tão indefeso como eu vi hoje, mesmo que ele estivesse apenas delirando, me fez ser incapaz de odiá-lo.

Sim, eu ainda odeio como ele se acha garanhão, odeio as roupas que ele usa,odeio aquelas covinhas que teimam em aparecer quando ele sorri, odeio o estilo de skatista dele, e odeio muito mais coisas nele, mas mesmo assim eu sou incapaz de odiar a pessoa que ele realmente é. É meio confuso até mesmo para mim.

Decidi a partir de hoje a tentar aceitar o fato de sermos irmãos.Que dizer, irmãos odeiam ene coisas uns nos outros, mas no fundo se gostam, e é isso que eu estou decidida aceitar.

(...)

Acordei novamente, só que dessa vez sem dor nas costas. O quarto estava claro, sinal de que já havia amanhecido. Me sentei na cama meio entorpecida. Noah estava acordado mexendo no notebook.

Desci da cama e fui até ele pegar meu óculos.

–Bom dia.- murmurei sonolenta, colocando o óculos.

–Bom dia.- falou sem tirar os olhos de seu facebook.

–Se sente melhor?- perguntei analisando-o, ele estava sem camisa, com o cabelo ligeiramente molhado e uma calça de moletom preta.

–Me sinto ótimo pirralha, por quê?Eu estava mal?- indagou finalmente me encarando com uma sobrancelha erguida.

Talvez ele não lembrasse da noite passada por conta da bebida.

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