MOCINHOS E VILÕES

trem para lugar algum

É uma manhã nublada.
David acabou de comprar uma passagem para Nova Coralina, uma cidadezinha do interior aonde vai acontecer seu casamento. Amanda sua noiva já está lá, ela foi a uma semana e ele precisou ficar, pois tinha trabalho a fazer. 

David é um promotor muito conhecido  no país. Ficou famoso depois de por atrás das grades um grande traficante e meses depois um político influente e corrupto. Implacável seria uma ótima palavra para definir sua personalidade, ele não faz o tipo que deixa as coisas quietas e detesta injustiça.

O trem chega no horário correto e ele entra. São mais de cem quilômetros de viagem, que vai durar mais de uma hora e meia por causa das duas paradas que o trem vai fazer até chegar a Nova Coralina.

Enquanto ele passa pelo corredor procurando um lugar confortável, algumas moças e até rapazes o observam discretamente, mas ele percebe. David sabe que é atraente.

Acaba se sentando em uma poltrona quase no final do trem. Ali tem poucas pessoas e ele prefere ficar sozinho agora.

O casamento lhe tem tirado o sono, ele não tem certeza de que isso é o que realmente quer. Conhece Amanda a pouco mais de três anos, namoram a dois e noivaram a poucos meses. Ela fez o pedido e para não constrange-la na frente dos amigos ele disse sim, mas nunca pensou que tudo iria acontecer tão rápido.

Ao olhar para a frente, na direção de onde veio, ele percebe um homem olhando em sua direção. Deve ter seus trinta anos e não chega a ser feio. David sorri e recebe um sorriso de volta, mas não é momento pra flertar com estranhos. Ele vira o rosto para a janela.  O trem ainda esta parado na estação, pessoas ainda entram, mas os que iam sair, já saíram. Um jovem muito bonito entra na estação apressado. O rapaz vem com um jaqueta jeans e uma bolsa de lado, parece nervoso.  Ele desaparece da visão de David e reaparece quando entra no trem.

David tenta não ficar olhando enquanto o rapaz vem pelo corredor procurando um lugar pra se sentar. É simplesmente lindo, nao tem outra palavra pra descreve-lo. Alto, olhos azuis, cabelos castanhos e a pele clara.

O rapaz joga a mochila debaixo de um banco qualquer e tira a jaqueta, jogando-a pela janela. Agora vestindo apenas uma camisa manga longa branca, ele tira um nome do bolso de trás da calça e coloca na cabeça de modo que quase chega a rapar os olhos. Parece estar se escondendo. O rapaz continua andando e deixa a mochila escondida aonde a jogou, então se senta na poltrona da frente.

David pode se sua nuca, a pele clara e cheia de algumas pintinhas escuras aqui e ali. Um charme a parte.

O trem da sinal de que vai sair, apenas mais um rapaz entra na última hora. Ele se senta em uma poltrona qualquer mais a frente.

As pessoas estão acumuladas na parte frontal do vagão, aqui atrás tem somente David e o estranho, as outras oito poltronas a frente deles não tem ninguém e nem nas quatro atrás.

David está encantado pela beleza do rapaz e pensa em falar com ele, tentar a sorte, essa viagem pode ser bem mais interessante, certo? Não, seu casamento é em quatro dias, ele não pode trair sua noiva.
O promotor volta a olhar pela janela, a estação está ficando pra trás e a paisagem da cidade vai dando lugar a plantações e depois serras e florestas.  Vinte minutos se passam e ao olhar para trás não se vê mais nada de prédios.

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K tem quase certeza de que esse último cara que entrou está o seguindo. As coisas ficaram mesmo difíceis nestes últimos dias.
K está cansado de correr é tudo oque ele tem feito a quase oito horas. Quando que eles vão desistir?
Ele não pode parar, não pode desistir.
Para aonde vai o trem?
Droga! Esse foi o pior plano de todos, fugir sem rumo? Quem faz isso? Ele devia ter pensado, se programado, se preparado.
K simplesente foi.

Se ficasse seria bem pior. Esse pensamento lhe anima, seria pior se ficasse.

Olhando para o mundo do outro lado da janela de vidro, K sorri, essa sensação de liberdade é tão boa. É a primeira vez que ele está só, a primeira vez que ele tomou uma decisão realmente útil.

O homem que entrou esta olhando disfarçadamente pra ele. K se preocupa, não tem pra onde correr. Ele da conta desse cara, mas não é certeza de que ele esteja sozinho.

Não demora e o estranho se levanta da poltrona e vem andando em sua direção. K se vira para trás para ver se tem tem uma possível rota de fuga. Ele dá de cara com um outro homem, que o olha fixamente.

É tão bonito. O cabelo muito bem penteado e a barba desenhada perfeitamente. É grande e forte e K sente um pouco de receio, e se for mais um dos capangas de seu irmão?
Não ha tempo para dúvidas, ele olha para a porta da traseira do vagão, o estranho parece sorrir, mas ele nem deu atenção. É o último vagão e além da porta não tem mais nada.

O rapaz finalmente chega e se senta ao seu lado olhando-o com um sorriso no rosto.

É tão jovem quanto K. K o acharia bonito se não tivesse sentindo raiva. Olhos claros, pele bronzeada, vestindo uma camisa preta que desenha os contornos do corpo malhado.

- alguém já disse que você tem olhos lindos? - O estranho diz sorrindo.

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David ficou nervoso quando o rapaz a sua frente de virou para trás. Foi inevitável não sorrir, mas o garoto nem percebeu. Agora tem um outro cara sentado ao lado dele, também muito bonito e dando em cima dele.

David revira os olhos, que cara intrometido, ele disse mesmo que os olhos do rapaz são lindos? Bem, é verdade, mas... Ele podia dar o fora.

- É, já disseram sim. - O rapaz respondeu indiferente.

O cara se aproximou mais dele.

- Eu queria saber o que devo fazer pra te levar daqui e...

- Me deixe em paz. - O rapaz diz empurrando ele.

O idiota sorri.

- Você é difícil, mas nós dois sabemos que vai ter que sair desse trem me acompanhando.

David não gosta do tom de voz que o idiota usa.

- Cara. - David se levanta e pôe a mão no ombro do estranho. - Ele já pediu pra deixa-lo.

O idiota olha pra ele irritado.

- Fica na sua, isso não é assunto seu.

- Saia. - David insiste sem perder o tom calmo. - Ou eu vou ter que fazer você sair.

- Não sabe no que esta se metendo. - O o idiota bonitão se levanta.

- Não se meta, por favor, senhor. - O rapaz pede para David. - Eu posso lidar com isso.

- Você não esta me dando outra escolha. - David nem se importa com o que o rapaz diz.

O idiota sorri e se prepara para dar um soco em David, que também já esta pronto pra briga, mas antes que qualquer um ataque, o idiota e acertado por um chute do rapaz e acaba caindo na outra poltrona.

- Eu disse que posso lidar sozinho com isso. - Ele diz olhando pra David.

O idiota se esforça pra levantar e olha feio para o outro.

- Você tá deixando as coisas ainda mais difíceis.