K em lugar algum

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Aquele cara é um grande maluco!

Por que raios ele se jogou do trem pra vir ajudar? Ele tem algum problema? Por que se importa?

K não confia no estranho, apesar de ele ter se mostrado ser uma pessoa disposta a ajudar, e é exatamente isso que o incomoda, por que tanto esforço? Eles nem se conhecem e David já arriscou a própria vida pra salva-lo. Será que ele é somente um estranho qualquer que por acaso decidiu ajudar, ou, é alguém a mais tentando levar K.

Essa coisa de não poder confiar em ninguém é um verdadeiro porre! Ele quer confiar em David, poxa! David parece mesmo ser um cara legal, principalmente quando sorri daquele jeito meio bobo. K sorri com o pensamento. Não tem como negar que David é um homem bonito e é claro que K já observou os detalhes. Os olhos claros, a barba, o corpo grande, o sorriso simpático, mas o semblante sério na maior parte do tempo. Se fosse em outra situação K tentaria alguma coisa, um beijo talvez. Mas não é hora pra isso, ele precisa se concentrar na fuga.

Não existe tempo a ser perdido, não tem em quem confiar, nem por que confiar em alguém, todo mundo oferece risco.

Tudo poderia ser bem mais simples, mas não tem o que ser feito, se ele for pego sua vida vai se tornar um inferno, além de ser punido, vai ter que... não! K não quer pensar nisso!

O dia amanheceu frio, eles acordaram cedo e voltaram para a caminhada pelos trilhos. Faz bastante tempo desde que o sol nasceu e pelos cálculos devem chegar a cidade em menos de uma hora. O plano é simples, K  só precisa de se livrar de David e pegar um outro trem. Seu destino é o sul, o mais longe possivel desse lugar. Ele não pode ficar, nao mais, nao depois da morte de seu pai. K precisa ir, precisa deixar essa vida pra tras e seguir seu caminho, mas é claro que não é assim tão fácil! Marcos nunca deixaria ele ir, não sem uma boa briga. É assim que os dois vivem desde sempre, Marcos sempre gostou de brigar, mas agora é diferente, agora ele tem a vantagem e o que resta a ser feito é fugir.

- Você tá legal? - David pergunta percebendo que o outro tá distante.

K faz que sim.

- Tô bem!

- Parece preocupado.

Silêncio

- Olha, eu sei que a gente não se conhece e é mais que óbvio que você tá com sérios problemas. Eu posso te ajudar. - David conclui.

- Não tem o que você possa fazer, grandão.

- Eu posso levar você pra minha casa. É seguro e você pode ficar lá por um tempo ate saber oque fazer...

- Eu não posso ficar por aqui e não existe lugar seguro, eles me acharam, não importa aonde.

- Quem são eles? Eu sei que você não quer falar e que não confia em mim, mas eu quero mesmo ajudar.

David parece sincero e K acha isso muito amável. David parece ser o cara perfeito, bondoso, caridoso, virtuoso, cheio de virilidade e caráter. Mas não é hora de pensar nas qualidades de um estranho.

- Não vou te envolver, acho que já disse isso antes. Por mais nobres que sejam suas intenções, é perigoso e você pode acabar se machucando.

- O que vai fazer depois daqui?

- Definitivamente não é assunto seu.

- Quero saber se vai ficar bem.

- Eu vou.

David respira fundo e para de andar.
Ele segura o braço de K  fazendo-o parar também.

- Olha! Eu sei que a gente não se conhece e você parece um adolescente chato. Eu estou te oferecendo ajuda, porque sei que você precisa. Vi o quanto de gente que tá atrás de você e deduzo que tenha mais. Então para de bancar o lobo solitário, porque não é disso que você precisa agora. Eu tava tentando ser bonzinho, mas já vi que não vai funcionar, você é chato, imaturo e preocupante e não vou ficar de braços cruzados esperando que as coisas simplesmente deem certo! Vou te tirar dessa quer você queira ou não!

- Quem você pensa que é pra dizer o que eu preciso? Aliás, quem é pra decidir qualquer coisa por mim? Eu me viro sozinho, não preciso de você...

- Não foi o que pareceu na porta daquele trem...

- Você se intrometer, eu nao pedi sua ajuda...

- Mas agora eu estou aqui e não posso ir embora e fingir que nada aconteceu.

- Mas não aconteceu nada, cara! Você é um maluco que se intrometer numa briga que não era tua e pulou de um trem pra resolver um problema que nao era teu.

David não diz nada. Não tem o que ser dito, K tem razão. Não disso é seu problema, mas David nao consegue deixar de pensar que quando chegarem na próxima cidade o estranho vai simplesmente sumir e tudo pode acontecer. K vai ficar bem? Afinal, por que estão atrás dele? Por que tantos homens tentando pegar uma única pessoa? É notável que ele nao é nenhum bandido, afinal aqueles caras não eram policiais, a não ser que seja coisa parecida com aquelas gangues de filmes... David não para de pensar que vai ter que deixar o estranho ir, mas ele não quer. K além de ser a personalidade mais curiosa que ele já conheceu, tem o poder de tirar sua mente do sério e de faze-lo "sair da casinha". Essa é a primeira vez em anos que David está fazendo algo realmente empolgante e não é como se ele quizesse parar agora.

- Olha! Vamos chegar a cidade e pegar o trem para Nova Carolina...

- Nova Carolina?

- É, lá você vai estar seguro, ninguém sabe pra onde estamos indo e também não sabem quem eu sou. Eles nem vai pensar em procurar você lá. Vai ganhar tempo e pode bolar um plano melhor ou ate procurar as autoridades.

No fundo David sabia que nada disso que disse fazia mesmo sentido.

- A Polícia não vai ajudar, mas se você me garantir que é seguro eu aceito.

- Eu garanto!

- Ok! Vamos para essa tal de Carolina então.

- É Nova Carolina.

K da dá de ombros.

- Tanto faz.

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