A noite foi fria para David, ele passou metade do tempo tentando se ajeitar de um jeito confortável naquele chão pedregoso. Cheio de dores pelo corpo, agora ele e seu novo amigo seguem a linha do trem na esperança de chegarem logo na estação mais próxima.
K não tem celular e David perdeu o seu quando pulou na água. Sem um meio de pesquisa, lhes resta torcer pra que estejam perto.K não fala muito, ele perdeu aquela postura travessa e adquiriu um tom sério que ja perdura a horas. É como se fosse uma outra pessoa, as vezes parece um tanto distante.
No que estaria pensando.Passo após passo e É como se tudo ficasse mais pesado, como se o caminho fosse mais difícil.
Com sua mochila nas costas K segue confiante, ele realmente não parece abalado. É um jovem incrivelmente destemido e parece ter a coragem de um leão. David o observa com atenção. É difícil não observá-lo. K tem uma beleza ímpar, não somente fisicamente, mas de várias outras formas também. Seu jeito de andar, elegante, confiante. A postura inabalável.
-- Então, você vai se casar! - K corta o silêncio depois de muito tempo calado.
David demora pra recobrar a consciência e fugir dos devaneios.
Ele percebe que o outro aponta para a aliança em seu dedo.
-- Ah! Isso? Sim... eu, estou noivo.
-- É uma pessoa bacana?
-- Ela é sim.
K sorri.
-- Ela é uma garota de sorte. -- Ele diz alegre. Desfilando sobre os trilhos do trem como se fizesse alguma ideia de onde estavam, como se tudo estivesse sob seu controle. -- Digo. Olha pra você. É bonitão e tem esse cabelo aí todo hidratado. Isso sem contar que é um homem de coragem.
David se lembra do momento em que pulou do trem. O momento em que perdeu completamente a cabeça é simplesmente pulou. Que ideia tola!
-- Acho que foi mais idiotice do que coragem.
K abre ainda mais o sorriso.
-- É! Eu acho que você também é um pouco idiota. Poderia estar super bem agora, ao lado de sua noiva. Mas cá está você, perdido, sem perspectiva, fugindo de mercenários...
-- Mercenários?
Do que o rapaz estava falando?
-- Aquele cara lá atrás. O que você derrubou pra me ajudar. Ele é um dos melhores que tem. Estão atrás de mim, mas acho que você já deve ter percebido.
David olha para o outro, é como se ele pouco se importasse com o fato de estar sendo caçado. Como se fosse a coisa mais normal do mundo.
-- O que você fez para ele?
-- Roubei o golfinho que ele tinha no aquário. Era o bichinho de estimação dele. Acho que ele não gostou muito disso.
Golfinho? O que exatamente estava acontecendo? Por que alguém roubaria um golfinho?
-- Você oque?
K levanta uma sobrancelha.
-- Idiota e surdo? Cuidado bonitão, isso pode ser uma combinação perigosa.
David fica irritado. K parece não levar as coisas a sério. É como um adolescente ou uma criança brincando num parquinho.
-- Por que você roubou o golfinho dele?
-- Tenho certeza de que se você fosse um golfinho, não iria querer estar num aquário. -- k responde com o ar mais sério.
-- Você é oque, um desses ativistas da natureza?
K sorri, aquele lindo sorriso que faz a barriga de David gelar.
-- Sou apenas um golfinho tentando nadar pra longe do seu aquário, meu caro. -- Ele volta a olhar pra frente. -- Apenas um golfinho querendo ser livre.
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MOCINHOS E VILÕES
Narrativa generaleDavid é um bem sucedido advogado viajando num trem, numa manhã nublada de terça feira. A calmaria da viagem será abalada quando K, um jovem rapaz, senta-se na poltrona ao seu lado.