O idiota se levanta. Ele tem um jeito debochado de olhar para o outro rapaz, mas também parece desejoso. David fica incomodado, não por isso, mas o garoto quer ficar em paz e esse babaca tá incomodando.
Três homens vem pelo corredor as pressas, nao parecem nada amigáveis. Os passageiros, que já perceberam a confusão, espião espantados.
- Você podia ter facilitado e vindo comigo. - Disse o idiota com o sorriso de canto de boca.
- Fácil nunca foi uma palavra que me define. - Disse o rapaz com segurança.
- Então será a força. - O estranho avança sobre o rapaz.
David entra no meio e acerta a cara do idiota com um soco, os outros três homens chegam, dois deles vão para cima de David, tentando tira-lo de cima do idiota, mas David é forte e dá trabalho para os três. O terceiro vai pra cima do rapaz e ambos começam uma luta corporal.
Os homens não vieram pra separar a briga, vieram auxiliar o idiota.
David chuta um dos caras e se livra do outro que tenta segurar seus braços. O idiota aproveita e acerta seu rosto, mas não demora pra estar no chão de novo. Um dos homens é jogado sobre uma poltrona e o outro leva um chute naquele triste lugar onde homem nenhum quer ser chutado. Ele geme e se encolhe no chão enquanto o outro tenta levantar, mas é impedido por David que sobe sobre ele e o apaga com alguns socos no rosto. O idiota já está de pé e os dois começam a se enfrentar novamente. O estranho briga melhor do que os outros dois, mas David consegue lidar com ele. Depois de alguns socos e chutes trocados o idiota é lançado contra a parede e bate a cabeça ao bater no chão. O primeiro que sentia for pelo chute no saco já esta se recuperando e antes que se levante, David acerta seu rosto com um chute desacordando-O.
Ao olhar para o rapaz David vê o quarto agressor caido no chão. O rapaz está intacto e sorridente, parece ter se divertido com a briga.
David chega perto dele.
- Você tá bem? - David pergunta.
O rapaz o olha de forma reprovadora.
- Fique fora disso. - Ele corre até a poltrona mais a frente se abaixa e pega sua mochila, que havia escondido ali.
As pessoas olham tudo curiosos e até mesmo David sente curiosidade. Claramente esse rapaz está com problemas, por que querem leva-lo? Quem é o idiota? Quem são os outros?
O rapaz coloca passa a alça da mochila pelo ombro e se aproxima de uma das janelas.
- Hey! O que tá acontecendo? - David insiste.
- Você nao tem nada a ver com isso. - O rapaz diz sem olhar pra ele.
- Quem são esses caras? Quem é você?
- Não importa.
O rapaz acerta a janela com o cotovelo duas vezes e o vidro se quebra, não é tão duro quanto David pensou que fosse.
- O que tá fazendo?
- Você faz muitas perguntas, cara! - O rapaz diz subindo na poltrona.
Ele simplesmente sobe na janela e espera alguma coisa.
- Desce daí! - David diz preocupado. - Vai cair.
O rapaz apenas sorri pra ele como se soubesse o que esta fazendo.
- Obrigado pela ajuda. - Ele diz e olha para os caras no chão. - E... você é um homão da porra!
É a última coisa que diz antes de saltar para fora do trem. David corre por impulso, mas nao chega a tempo de impedi-lo. Quando chega na janela ele vê um enorme rio e o rapaz emerge da água. Ele é louco. David gosta disso.
O idiota aparece de repente e puxa David da janela, depois ele sobe no mesmo lugar que o rapaz subiu e pula também.
Droga! Seja o que for, aquele rapaz é mesmo importante pra esse cara.
A ponte está acabando e David quer pular. Mas ele tem mesmo que se meter? Por que? Por que ajudar? Por que ir atrás dele?
Foda-se.
David sobe na janela. O vento é forte, não há tempo pra pensar, logo as margens do rio vão aparecer e vai ser tarde pra pular. Ele olha pra baixo, é alto. David respira.
- Coragem, coragem, coragem.
Ao olhar para trás ele vê o rapaz nadando em direção a margem se afastando do idiota que está mais a frente. O cara tá mesmo determinado a pega-lo e quando chegarem a margem vão estar cansados e é possível que o garoto seja subjugado.
David tem que ajudar.
- Coragem, coragem, coragem.
Então ele pula.
O vento chicoteia forte contra seu corpo enquanto ele desce sem freio. Tudo dura menos de um segundo, a água abraça o seu corpo violentamente e depois que para de afundar, ele se esforça pra voltar a superfície. Depois de recuperar o fôlego lá em cima procura aos arredores pelos estranhos e vê os dois nadando próximos ainda longe da margem.
Ele os segue.
Os dois chegam a margem finalmente e o idiota tenta pegar o rapaz, que luta, mas os dois estão cansados demais.
Demora, mas David finalmente chega a margem. Os dois continuam brigando, se aquilo pode se chamar de briga. David nem descansa direito, apenas levanta cambaleante e vai ao auxílio do rapaz. Ele acerta o idiota com um soco não tão forte, mas é o suficiente pra ele cair e não levantar mais. David segura a mão do rapaz e o puxa na direção da floresta.
- Vamos!
- Você veio atrás de mim? Qual é o seu problema? - O rapaz diz ofegante.
- Não tem de que. - David é sarcástico.
- Falei pra ficar de fora disso.
- É, você disse mesmo.
O rapaz não diz mais nada, apenas segue david pela Mata, eles sobem um morro baixo e acabam saindo nos trilhos aonde caem cansados.
- Vamos seguir o trilho. - David fala. - Vamos chegar a próxima cidade em algumas horas, ou se dermos sorte podemos pedir ajuda ao próximo trem.
- Você é um idiota. - O rapaz diz. - Um idiota bonito. Todo mundo sabe que não se pula de um trem pra ajudar estranhos.
- Acredite. - David olha para ele. - Já estou arrependido.
O rapaz sorri. Sei sorriso e lindo, simplesmente lindo, mas cheiobde ironia.
- Meu herói. - Ele diz. - Meu herói idiota.
David não diz nada, ele mesmo se acha um grande idiota depois disso.
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MOCINHOS E VILÕES
General FictionDavid é um bem sucedido advogado viajando num trem, numa manhã nublada de terça feira. A calmaria da viagem será abalada quando K, um jovem rapaz, senta-se na poltrona ao seu lado.