a fogueira em lugar algum

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Depois de recuperar o fôlego David se levanta, ele olha para a longe, tentando ver se podia ver algum trem vindo, mas no fundo ele sabe que esse não é o horário de viagem.

- Por que aqueles caras estão atrás de você? - Ele pergunta ao estranho que continua deitado sobre os trilhos de madeira.

O estranho olha pra ele e depois para o nada.

- Acho que eu sou bonito demais. - Diz em tom zombeteiro. - O que posso fazer, né?

- Pare de brincadeira, isso é sério, ele pulou da droga de um trem atrás de você.

O estranho levanta uma sobrancelha.

- Você fez o mesmo, afinal, qual é o seu problema? Pedi pra ficar fora disso.

-Você parecia precisar de ajuda.

O estranho começa a andar pelo trilho, David o segue.

- Eu sei me cuidar sozinho.

- Não é o que parece.

- O que você quer? - O rapaz se vira pra David. - Que eu te agradeça? Obrigado! Mas eu não pedi sua ajuda, não pedi pra que passe do trem. Vamos seguir o trem e chegar a algum lugar e depois cada um segue seu caminho.

David respira fundo, o cara e muito marrento.

- Ótimo!

- Ótimo!

Eles começam a andar, ambos calados. Andam por horas até que ouvem o barulho de um trem. O veículo vem rápido e eles fazem sinal para que parem, mas o trem apenas passa.

- Que droga! - David reclama.

Eles voltam a andar e a noite vem.

David se arrepende de ter pulado. Todas as suas coisas ficaram para trás. Mas o rapaz veio preparado, ele juntou alguns gravetos e fez uma fogueira, também trouxe consigo comida e água.

Oito da noite. A fogueira é a única luz, o rapaz brinca com o fogo enquanto David o observa e por mais que tente ficar irritado ou com raiva, o simples fato de olhar para o rapaz apazigua tudo. Ele é jovem, tem o corpo malhado e o rosto angelical.

- Qual o seu nome? - David pergunta.

O rapaz levanta os olhos, e que olhos!

- Você não quer saber quem eu sou. - o outro responde de forma calma.

- Eu quero sim.

O rapaz suspira, ele passou todo o dia evitando responder às perguntas de David.

- K.

- k?

- É, pode me chamar de K.

Obviamente esse não é o seu nome, mas David prefere não insistir.

- Tá certo, K.

- É, K.

- O que eu disse, K.

- K!

Os dois caem na risada. Ninguém sabe ao certo o porque dessa pequena confusão, mas David achou lindo o sorriso de K.

- Você é uma figura estranho. - K diz sorridente.

- David, meu nome é David.

Os sorrisos se acalmam e K olha para David.

- Por que você pulou? Nem me conhece.

David fica um pouco embaraçado, ele nem mesmo sabe ao certo o que o fez pular para ajudar o rapaz. Ele agiu por impulso e aqui está, no meio do nada, numa noite fria, à beira de uma fogueira, acompanhado do moço mais lindo que ele já viu.

- Achei que precisava de ajuda.

- Mas você não tinha nenhuma obrigação.

- As vezes quando alguém precisa de ajuda, tudo oque precisamos fazer e ajudar.

- Isso inclui sair na portada com estranhos e saltar de um trem em movimento?

David solta um risinho.

- É, talvez eu tenha passado dos limites. Mas é você, eles eram tão perigosos assim, a ponto de fazer você pular do trem?

- Essa é a parte da história que eu não vou te contar. - K volta a olhar pro fogo. - Amanhã, vamos andar umas doze ou treze horas até chegar a próxima estação. Lá nossos caminhos se separam, não quero que se envolva nisso. Você é um cara legal David, caras legais costumam se machucar quando chegam perto de mim.

David percebe que ele fala sério, mas não se deixa levar por suas palavras.

- Eu posso ajudar você.

- Já fez o suficiente.

- Sou promotor, posso falar com alguns...

- Não. - K fala sério, porém calmo. - Aqueles caras no trem não são os verdadeiros vilões aqui, eles só são peões. Sabiam que eu escaparia, era um teste. Vai mandar gente pior, é depôs pior, até que eu seja pego, aí sim acaba. Preciso fugir para o mais longe possivel e não quero por a vida de ninguém em risco por minha causa.

David não pergunta mais, K deixou bem claro que não esta aberto a discussão.

K se deita no chão e apoia a cabeça em sua mochila.

- Boa noite David.

David sorri.

Boa noite K.

Então o rapaz fecha os olhos e minutos depois dorme enquanto David fica ali, sentado, olhando pra ele, achando cada detalhe perfeito.

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