Finalmente chegam a uma estação depois de caminharem o dia todo. Não há dinheiro para sacar, mas David consegue um telefone e liga para Tobias, seu melhor amigo.
K esta sentado num banco olhando para os trilhos que se seguem até desaparecer entre as árvores ao longe. Pensativo, distante. David se senta ao seu lado.
- Tobias está vindo buscar a gente. Deve chegar em algumas horas.
- Falou com sua noiva?
David faz que não.
Ele achou que explicar tudo isso a ela a deixaria muito preocupada. Eliza é uma mulher intensa e ansiosa. Deve estar morrendo de preocupação em casa e ele quer adiar um pouco a discussão que certamente vai haver.- Não. Achei que seria mais fácil cuidar de você antes de falar com ela.
- Não sei se quero ir com você e seu amigo. Sabe, envolver você nisso, ainda mais pode ser uma ideia bem ruim. Vivo uma vida perigosa.
- Eu não vou deixar você sozinho.
Seu olhar para K é de reprovação. Aonde esse cara tava com a cabeça. Ficar sozinho, perdido num lugar desses, sendo perseguidos.
- Isso não é você quem decide.
- Você vai comigo, depois vamos a policia.
- Eu não vou a policia!
K se levanta e David se levanta logo depois.
- Olha. Vai viver sua vida, David. Você não me deve nada.
- Eu não pulei de um trem em movimento pra deixar você na primeira cidade que encontramos sozinho e sem grana. Se comecei agora vou até o fim.
- Você é um grande idiota!
K se vida pra sair, mas David o segura.
Ambos começam uma discussão, mas não demora e logo estão sentados de novo no banco.- Ok! Eu vou. Somente pra poder tomar um banho e usar o computador do seu amigo pra recuperar minha conta do banco. Depois eu vou partir e será será como se eu nunca tivesse existido pra você.
- Que seja!
Empurrados os dois esperam por horas até até Tobias finalmente chega.
Dentro do carro voltando para sua cidade, David conta sobre sua aventura para o amigo que tem dificuldade em acreditar. K caiu no sono sentado no banco de trás.
O amigo acha uma péssima ideia ele se envolver na história, é óbvio que algo muito sério tá acontecendo.
Tobias olha pra K pelo retrovisor.
- Não posso negar. É difícil não nota-lo. Eu não sei se pularia de um trem por ele, mas certamente tentaria algo pra chamar a sua atenção.
David não gosta do comentário, mas não diz nada.
- Eliza não vai gostar nada quando souber.
- Ela não precisa saber.
- Sobre a aventura, ou sobre o garoto bonito ali atrás? Ela vai ter uma crise de ciúmes das brabas quando o vir.
- Não pretendo apresenta-los. Vou deixar ela fora disso.
Tobias sorri.
- Você parece mais vivo. Acho que tava mesmo precisando disso.
David o olha sem entender.
- De um empurrãozinho. - Tobias continua. - Você tava muito preso aquela vidinha chata e sem graça. A rotina. Parecia um zumbi. Agora tá aí, todo cheio de vida. Nosso amigo ali no fundo parece te fazer sentir bem.
- Ele é um grande amontoado de problemas.
- E você é o que? Sua vida é um amontoado de problemas, amigo.
A conversa se encerra logo depois. Tobias tem razão, pensa David. Ele vem vivendo uma rotina enfadonha. A relação com Eliza nunca foi das melhores, mas parecia certo, David a algum tempo vem duvidando que seja, agora ele se sente vivo e K tem uma parte nisso.
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MOCINHOS E VILÕES
Fiction généraleDavid é um bem sucedido advogado viajando num trem, numa manhã nublada de terça feira. A calmaria da viagem será abalada quando K, um jovem rapaz, senta-se na poltrona ao seu lado.