...da nossa história...

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(Henri)

Estavámos eu e Marcus na minha sala olhando os exames do seu Manoel,pai de May.
"Você tem o coração bom meu amigo,seu dever de médico falou mais alto...eu tinha logo tacado fogo neste racista filho da puta!Deixava ele morrer se contorcendo..."Marcus disse.
"Foi foda cara,sabe...a gente vive isso no dia a dia,com um ou outro paciente...mas,o pai da mulher que você ama..."eu disse.
"Essa mulher te virou a cabeça de um jeito...eu te olho e não te reconheço...mas,na real...vocês juntos...caralhooo...quando vocês estão juntos dá pra ver que tá tudo ali...amor mesmo.Eu via isso nos meus avós...era do caralho mesmo,tu vê que é pra vida..."ele disse.
Eu ri do jeito que ele falou,Marcus era filho do dono do hospital,meu melhor amigo desde a faculdade...
Ele era cheio de responsabilidade mas,adorava despirocar de vez enquanto.
E cá entre nós,às vezes era preciso.
Mas,eu podia contar com ele sempre e ele comigo,tipo irmãos.
"O bom que esse velho filho da puta,tá todo fudido..."ele falou.
"Por favor cara,não fala assim...é o pai dela...ela vive por essa família..."eu pedi.
"Tá bom...mas,o câncer dele é maligno...ele não vai durar muito tempo..."Marcus disse e eu fiquei relembrando eu na sala de espera com May...eu sei que agi mal...eu deveria ter abraçado ela forte...ter lhe dado apoio...quando ela revelou pra família que era garota de programa...eu sei que ela falou pra me defender...de alguma maneira...
"Sua cabeça deve estar à milhão..."meu amigo disse.
"Eu não consegui falar que o pai dela tá morrendo..."eu falei.
Ouvi uma batida na porta...
Abri e a enfermeira veio falar que seu Manoel tinha acordado.
"Ok,estou indo..."eu disse.
Chegando lá,ele arregalou os olhos ao me ver.
"Aonde eu estou?"ele questionou.
"O senhor está no hospital que eu trabalho...na capital..."respondi.
"Cadê minha família?"ele estava nervoso.
Bati a campanhia para enfermeira trazer um calmante.
"Vou ligar para Maria vir vê-lo..."disse tentando acalmá-lo.
"Fica longe da minha filha..."ele falou de repente.
"Você acha que eu não sei o que você está fazendo?Querendo impressionar minha filha com tudo isso..."ele continuou.
"O senhor está morrendo..."eu disse sem pensar.
"Como?"ele perguntou assustado.
"Quando prestei os primeiros socorros no senhor,vi que tinha algo a mais...meu colega de trabalho disponibilizou o helicóptero do hospital,fizemos uma cirurgia no senhor e diagnosticamos que está com um câncer maligno,ele já está bem avançado e já não tem mais o que fazer.Eu não falei nada pra sua família ainda..."contei à ele.
"Não fale..."ele pediu.
"Como assim?Eles tem o direito de saber..."falei.
"Já que eu tô com o pé na cova mesmo,te faço um último pedido...eu perdoo Maria por ter caído  na vida, em troca você se afasta dela...me dê meus últimos momentos com a minha família...Eu sei que você fez muito por mim,mas,eu não vou conseguir suportar a idéia de um rapaz de cor na minha família...depois de morto,eu não vou poder fazer mais nada...mas,agora que me resta pouco tempo..."ele falou e u não conseguia acreditar no seu pedido.
"Você tem filhos Henri?"ele questionou.
"Não..."respondi.
"Quando Maria falou que tinha se tornado mulher da vida...você não imagina como eu me senti...foi como se tivessem me rasgando no meio...ela é minha única menina de 6 filhos.Sempre muito determinada em nos ajudar em não deixar faltar nada...Eu,como pai deveria ter prestado mais atenção nela...podado suas asas..."ele disse e começou a chorar.
"Um dia você terá filhos e talvez sinta o que estou sentindo..."ele por fim falou.
Eu estava entre a cruz e a espada...
Eu não sabia qual seria a reação de May...mas,sinto que a ideia dela é lutar e ficar comigo.
Não sei se essa ideia continuaria depois de saber que o pai dela está morrendo...
"Desista dela...deixe-me ter meus últimos momentos com a minha família..." ele insistiu.
A enfermeira entrou e sedou ele que logo dormiu.
Voltei para minha sala e Marcus estava me esperando...
"E então?"ele questionou.
Falei tudo que seu Manoel tinha me falado e sua proposta.
"Ai mais que velho,filho da puta!E você vai fazer o quê?"Marcus estava indignado.
"E o que seria o certo à fazer?Carregar a culpa de ter afastado a mulher que eu amo bem quando o pai dela está morrendo...ou deixá-la ir?"questionei.
"Eu não sei porque você está questionando...se você já sabe a resposta..."

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