Capítulo V - Cecília

136 7 5
                                    


  Luanni é ajudado por Helena a se levantar do chão, suas vestes encontram-se banhadas em sangue, entorpecido pelo espanto, dúvida, ele emite uma expressão de surpresa, seguidos de uma respiração ofegante, suas pernas tremem ao se levantar. Apoia-se na parede. Helena segurando sua espada banhada em sangue, com a cabeça baixa com seus enormes cabelos cobrindo seu rosto, segura-se para não gargalhar. Com o ouvir dos gritos, Concilieres, fiéis, camareiras, serviçais e cozinheiros dirigem-se até o salão, todos param ao chegar, o espanto é mútuo. Todos vêem o corpo de Mikal completamente ensanguentado e Helena segurando a espada que o assassinara. Leroy é o primeiro a se manifestar com gritos de raiva e desespero:
— Por Argnoph! O que você fez! Seu monstro! Não! Mikal Senhor! SENHOR! - grita Leroy em desespero.
  Luanni nada fala, apenas mantém a mesma expressão. Talvez a morte nunca tinha lhe assoprado atrás da nuca. O pânico o tomara. Helena olha para Leroy e para todos ali presentes, que a olhavam com extremo repúdio, porém o medo os impede de se manifestarem, com a mais pura serenidade Helena responde Leroy.
— Dada a situação não me parece que eu sou o monstro senhor Conciliere. Este homem ameaçara a vida de vossa majestade, sua posição o levou ao orgulho, seu orgulho o levou à obsessão, sua obsessão ao desespero e seu desespero a morte. E você provavelmente tenha certo grau de envolvimento, não só você como os outros dez que o acompanham. A arrogância os fizeram julgar, o pré-julgamento causaram-lhe cegueira, o poder compartilhado lhe causaram surdez. E um homem surdo e cego obviamente fará besteiras, mesmo sem a mera intenção. Entretanto devido as falácias que diferem sobre mim, aceitarei a punição que me for destinada. - Helena diz soltando sua espada e estendendo suas mãos para frente, como um pedido indireto de acorrentamento.
  Luanni, os outros dez Concilieres e todos os que estavam presentes no enorme salão não fazem e nem falam nada. As palavras de Helena afetam Leroy, o cortam feito a adaga que quase assassinara o rei. O mesmo se sente culpado pelo o que ocorrera, no fundo ele sabia que influenciara em tudo o que ocorrera. Um forte arrependimento assola seu peito, Ele caminha sem que ninguém veja até em umas das armaduras que estavam expostas no salão do trono, pega uma das espadas....e grita em meio a todos que lá estavam presentes:
— PERDOE-ME MEU REI, FOI TUDO MINHA CULPA!!!! O QUE FOI QUE EU FIZ!!!! - Leroy grita e chora em um profundo arrependimento, enquanto levanta a espada lentamente com as mãos trêmulas cortando sua própria garganta.
Leroy cambaleia até Helena, sua garganta jorra sangue em pessoas próximas a ele, com muito esforço tenta insulta-la, mas palavras não saem de sua boca, apenas agonizantes ruídos misturados com o barulho do engasgar de sangue. Ele cai perante os pés de Helena e ela observa a vida deixar seus olhos lentamente. O rei continua estático.... O sangue cobre o grande salão do trono, todos ali presentes estão confusos. Os dez Concilieres restantes pedem para que todos se retirem. Cavaleiros da guarda real retiram os corpos. Cecília membro dos dez Concilieres restantes, auxilia Luanni até a ida ao seus aposentos... com um olhar inexpressivo anda lentamente apoiado a Cecília.... Em seu quarto, se senta em sua cama.
- Posso lhe fazer algo nobre rei?..... - Cecília pergunta assustada com tudo o que ocorrera
O rei não a responde, Cecília fica em pé perante o ele durante alguns minutos, o silêncio do rei perpetua, e a mesma entende que não é bem vinda, saindo do quarto, fecha a porta lentamente, se senta encostando na porta pelo lado de fora e põe-se a chorar, um pranto leve, porém advindo de muito medo e preocupação. Com seu rosto em lágrimas ela sussurra:
- C-como?... O que é aquela mulher?... Quem é aquela mulher....? Se ela matou Mikal o que fará conosco?.... Não sei se fico grata pela atitude desta moça ou fico apavorada....
Cecília em meio à seus sussurros, prantos e pensamentos confusos em frente a porte dos aposentos do rei, é interrompida por Helena que sem ela perceber aparecera em pé em sua frente.
- Por que choras?... Você me pareceu tão fria diante aquela situação lá em baixo... - pergunta Helena com um tom amigável.
Cecília se assusta, ficando um tempo em silêncio...
- S-suas v-vestes.... - Cecília diz com uma voz trêmula.
- O que há com elas?..
- s-sangue.... Não só nas vestes mas em seu corpo .... Consigo até mesmo sentir o cheiro.... - Cecília responde olhando para seus próprios pés, os olhos de Helena a intimidavam.
- E-eu posso banha-la caso queira.... - Cecília se oferece influenciada pelo impulso do medo.
Helena não diz nada, ajuda Cecília a se levantar acompanhando-a até uma sala com uma enorme banheira. Tira seu vestido ensanguentado lentamente, sobre três degraus e adentra a banheira. Cecília senta-se ao lado de Helena fora da enorme banheira, um punhado de água envolto de espuma ela segura com as mãos, passando delicadamente sobre as costas de Helena. A maciez de sua pele a encanta. Torna a pegar mais um pouco de água com as mãos, jogando sobre o corpo de Helena. O sangue escorrendo pelo seu corpo contrastando com a água da banheira torna-se intimidante para Cecília. Delicadamente Helena se vira. Passando a mão úmida em seu rosto retirando o sangue com suavidade que lá está, a olha nos olhos com medo e ao mesmo tempo desejo... seus olhos a torturam com a vontade, calafrios envolvem seu corpo, a excitação começa a domina-la, pensamentos impuros vem em uma mente. Ela para. Deixa de tocar Helena, sua respiração fica ofegante.
- A água... Ela está esfriando... Poderia me secar? - Helena pergunta com uma voz serena e amigável.
- Ah .!! S-sim... Perdão senhora. - responde Cecília com um nervosismo que toma seu corpo.
Helena sai da banheira lentamente, ao vê-la completamente nua e molhada Cecília viaja com os olhos em suas curvas, observa cada detalhe de seu corpo, o desejo aumenta. A envolvendo com uma toalha pela suas costas, Cecília encosta o nariz em seus cabelos, o cheiro também a encanta... Pensando em toca-la Cecília se afasta... conflitando com o desejo e o medo.. ela treme...
- Poderia secar meus pés?.... - Helena pede com serenidade.
Helena se senta, Cecília ajoelha-se, seca os pés com cuidado como se um escravo estivesse submisso a seu rei. Seu corpo se arrepia, seu desejo continuara.
- Obrigada.... Mas porquê se ofereceu para tal atividade?... - pergunta Helena.
- V-v-você salvou nosso bondoso rei... É o mínimo que posso fazer...- Cecília responde com agradecimento.
Entorpecida pelo desejo beija um dos pés de Helena... A mesma a olha nos olhos com vergonha do ato... Helena sorri. Ajoelha-se diante Cecília, coloca a mão em seu queixo a trazendo para mais perto de sua face. Helena a beija, a toca, a excita, enlouquecendo e dominando Cecília. Uma moça jovem manipulada por seu desejo cometeu o erro de atiçar-se por alguém que sabia como manusear a arte do calor entre corpos.
- O mínimo que você poderia fazer você disse.... - diz Helena com um tom frio enquanto a beija em seu pescoço.
- S-sim......... Ahh... Foi o que eu disse...- diz Cecília sem racionar muito no que responder.
- Você será minha... eu a quero pra mim....- Helena diz em um tom autoritário enquanto segura seu pescoço.
A troca de beijos se cessa... em uma troca de olhares extremamente intensa para Cecília os olhos brilham, a mesma sente-se realizada.
- S-sim... Eu serei sua.... - Cecília responde tomada pelo desejo e realização.
Helena sorri... a abraçando...
Na manhã cinzenta os corpos de Mikal e Leroy aguardavam uma decisão de seus destinos e o rei daria esse veredicto. Luanni chega a catedral aonde os corpos de ambos se encontram em mesas douradas no palanque da igreja. O rei os olha com pena, colaca suas mãos em seus rostos fechando seus olhos. Cecília vai até o palanque e uma prece ela disserta. Todos ali presentes, Concilieres, fiéis e o rei escutam com atenção.
- " sectetur solis peto..... sectetur solis peto.... sectetur solis peto.... " - reza Cecília, com os olhos fechados e as mãos com dedos entrelaçados frente ao rosto. Sua oração ecoa por toda a catedral...
Os corpos são enterrados atrás do castelo, em um lindo cemitério aonde só os membros da nobreza ou da igreja eram sepultados. Luanni sai do funeral e é seguido por Cecilia que o chama:
- Nobre rei.... O-o senhor está.. bem?... Desde aquele momento... O senhor não disse nada....
- Agradeço a preocupação, você é realmente muito bondosa Cecília... Tem um coração puro... Eu estou bem. - diz Luanni com serenidade e um aparente bom humor.
- A-aquela moça.... O salvou mesmo não foi?.... Isso foi de fato muita coragem e honraria.... - pergunta Cecília... Já presumindo uma resposta.
- Sim ela me salvou, e agradeço seu reconhecimento pelo ato dela. Você foi a única que não a viu com julgamento, nunca a repudiou, e nem deu sequer uma opinião sobre o fato de ela estar morando aqui... Gostaria de saber, o que acha dela? - pergunta luanni com entusiasmo.
- Bem... Senhor rei.... Apesar dos relatos que os Concilieres falavam sobre ela quando nos reuníamos, eu nunca acreditei. Sempre fiquei quieta. Eu no fundo a acho uma moça gentil, bela, e como podemos ver com fatos anteriores, corajosa também.... devido suas ações ... é bem provável que.... ela o ame meu senhor.... Mesmo que eu nunca tenha trocado palavras com aquela mulher... seus atos me remeteram a essa dedução meu senhor. - diz Cecília com um tom inocente.
- Cecília... Seu coração é de uma pureza imensurável....Suas palavras me deram forças... Me trouxeram confiança. Eu lhe agradeço muito... E como presente quero que vire Madre da igreja. A forma na qual rezou para aqueles pobres traidores.. foi sincera, e apenas alguém com esse tipo de compaixão merece o posto de líder da igreja e dos Concilieres. Poderia se ajoelhar por favor?...- pede o rei com um sorriso.
- Mas.... nobre rei... Como? ... Os outros nove não... Irão gostar... - Cecília é interrompida.
- Eu tomo as decisões... Não me importa se eles gostam ou não.... Agora ajoelhe-se. - Luanni diz passando a mão em seus cabelos, transmitindo segurança a Cecília.
Cecília se ajoelha perante o rei... Luanni empunha sua espada encosta em seu ombro esquerdo, depois em seu ombro direito, e a saúda como madre Cecília....Ela não crê no que rei lhe dará de presente, ainda ajoelhada recosta sua cabeça sobre a grama o agradece inúmeras vezes gritando a saudação da igreja...
- VIVIATEE!!! VIVIATEE... !!!!
- Vamos Levante-se pegue suas novas vestes mais tarde na igreja. - diz Luanni com entusiasmo.
As palavras de Cecília encorajam luanni. Caminha pelo jardim do castelo pensativo, entra no enorme salão do trono... Olha tudo ao redor.. refletindo tudo o que acontecera.. olha para o enorme quadro exposto no salão de seu pai e sua mãe antigos rei e rainha de Lureate. Ele sente um vazio em seu peito, percebe que em todo o reinado sempre esteve sozinho. Sentia que precisava de algo para reacender seu peito. Relembra do beijo que deu em Helena, relembra a sensação de calor, relembra o prazer que sentira, aquele beijo pela primeira vez o fez sentir-se amado...
Helena em seus aposentos é surpreendida com batidas na porta. Ela abre. É luanni. O jovem rei coloca-se em reverência perante a moça.
- Muito... M-muito.... O-obrigado.... Perdoe-me por um agradecer tão tardio... Lhe devo a vida... - diz Luanni enquanto pranteia de alegria
- ..... Não precisa agradecer nobre rei... Você também salvou a minha..... - Helena responde o abraçando...
- Quero lhe pedir uma coisa.... - diz o rei enquanto enxuga suas lágrimas...
- C-claro... O que quiser nobre rei.... - diz Helena com a mão em seu rosto.
- Casa-se comigo .... Seja minha rainha.... sua beleza me enche os olhos, sua coragem me conforta, sua delicadeza me encanta... Eu a amo.... Por favor me aceite como seu marido.... - Luanni implora, cego pelo amor...
- A-aceito.... serei sua rainha... - Helena diz com uma aparente felicidade, abraçando-o com força.
Envolvida sobre os braços e com a cabeça sobre o peito de seu então marido, Helena esboça um amedrontador sorriso... Silenciosamente comemora sua vitória... Tudo pra ela ocorrera como o planejado....

Nin.Onde histórias criam vida. Descubra agora